Segunda-feira, 18 de Junho de 2007

Em Junho, num dia de sol...

 

 

 

 

18 de Junho de 1972
 
Há 35 anos a tua missão, na Terra, ficou cumprida.
E foste embora, Mãe.
Estás tão longe...
E a dor ainda tão perto.
 
publicado por Elisabete às 15:12
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Sábado, 16 de Junho de 2007

CANÇÃO

 

Cecília Benevides de Carvalho Meireles, poetisa brasileira, nasceu a 7 de Novembro de 1901 e morreu 9 de Novembro de 1964, no Rio de Janeiro.

 

Pus o meu sonho num navio

e o navio em cima do mar;

- depois, abri o mar com as mãos,

para o meu sonho naufragar.

 

Minhas mãos ainda estão molhadas

do azul das ondas entreabertas,

e a cor que escorre dos meus dedos

colora as areias desertas.

 

O vento vem vindo de longe,

a noite se curva de frio;

debaixo da água vai morrendo

meu sonho, dentro de um navio...

 

Chorarei quanto for preciso,

para fazer com que o mar cresça,

e o meu navio chegue ao fundo

e o meu sonho desapareça.

 

Depois, tudo estará perfeito:

praia lisa, águas ordenadas,

meus olhos secos como pedras

e as minhas duas mãos quebradas.

publicado por Elisabete às 23:41
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SER O ÚNICO

 

"Precisamos de nos sentir reis ou rainhas aos olhos de outros para termos uma certeza cambaleante de que podemos ser gostados.

A SÉRIO. COMO SONHÁMOS."

 

 

Júlio Machado Vaz

(Psiquiatra, professor universitário, escritor.

Do Porto... nasceu em 16 de Outubro de 1949)

publicado por Elisabete às 17:08
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As Encruzilhadas da Vida

 

   

 

 

" A ideia do destino é algo que surge com a idade. Quando se tem os anos que tu tens, geralmente não se pensa nisso, tudo o que acontece é como se fosse fruto da nossa vontade. Sentimo-nos como um operário que, pedra sobre pedra, vai construindo à sua frente o caminho que deverá percorrer. Só muito depois é que se repara que o caminho já está construído, que alguém o traçou por nós, e que só nos resta seguir em frente. É uma descoberta que costuma fazer-se por volta dos quarenta anos, então começa-se a perceber que as coisas não dependem só de nós. É um momento perigoso, durante o qual não é raro escorregar-se para um fatalismo claustrofóbico. Para veres o destino em toda a sua realidade, tens de deixar passar mais alguns anos. Por volta dos sessenta, quando o caminho atrás de ti é mais comprido do que o que tens à tua frente, vês uma coisa que nunca tinhas visto antes: o caminho que percorreste não era a direito mas cheio de encruzilhadas, a cada passo havia uma seta que apontava para uma direcção diferente; dali partia um atalho, de acolá um carreiro cheio de ervas que se perdia nos bosques. Alguns desses desvios fizeste-os sem te aperceberes, outros nem sequer os viste; não sabes se os que não fizeste te levariam a um lugar melhor ou pior; não sabes mas sentes pena. Podias fazer uma coisa e não a fizeste, voltaste para trás em vez de seguir em frente. O jogo da glória, lembras-te? A vida vai avançando mais ou menos da mesma forma.

 

Ao longo das encruzilhadas do teu caminho encontras as outras vidas, conhecê-las ou não, vivê-las a fundo ou desperdiçá-las depende da escolha que fazes num segundo; embora o não saibas, entre seguir a direito ou fazer um desvio joga-se muitas vezes a tua existência, a existência de quem está perto de ti."

 

Susanna Tamaro, Vai Aonde Te Leva o Coração

publicado por Elisabete às 10:47
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Quinta-feira, 14 de Junho de 2007

HASTA SIEMPRE, CHE GUEVARA!

 

"Ou somos capazes de derrotar com

argumentação as ideias contrárias,

ou temos que deixar expressá-las.

Não é possível derrotar as ideias

com a força, porque isto bloqueia o

livre desenvolvimento da inteligência."

 

 

CHE GUEVARA
 
Nascido em 14 de Junho de 1928, na cidade argentina de Rosário, Guevara foi o primeiro dos cincos filhos do casal Ernesto Lynch e Celia de la Serna y Llosa. A mãe foi a principal responsável pela sua formação porque, mesmo sendo católica, mantinha em casa um ambiente de esquerda, sempre cercada de mulheres politizadas.
Desde pequeno, Ernestito - como era chamado - sofria de ataques de asma e por essa razão, aos 12 anos, mudou-se com a família para as serras de Córdoba, onde morou perto de uma favela. A discriminação, para com os mais pobres, era comum à classe média argentina. Porém Che não se importava e fez várias amizades com os favelados. Fez grande parte do ensino fundamental em casa, com a mãe. Na biblioteca de sua casa - que reunia cerca de 3.000 livros - havia obras de Marx, Engels e Lenine, com os quais se familiarizou na sua adolescência.  
Em 1947, Ernesto entra na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, motivado em primeiro lugar pela sua própria doença, mas desenvolvendo, desde logo um especial interesse pela lepra.
Em 1952, realiza uma longa jornada, pela América do Sul, com o seu melhor amigo, Alberto Granado, percorrendo 10.000 km numa mota Norton 500, apelidada de “La Poderosa”. Observam, interessam-se por tudo, analisam a realidade com olho crítico e pensamento profundo. Os oito meses dessa viagem marcam a ruptura de Guevara com os laços nacionalistas e dela resulta um diário. Aliás, escrever diários torna-se um hábito para o argentino, que cultiva até à sua morte.
No Peru, trabalhou com leprosos e resolveu tornar-se um especialista no tratamento da doença. Che saiu dessa viagem chocado com a pobreza e a injustiça social que encontrou ao longo do caminho e identificou-se com a luta dos camponeses por uma vida melhor. Mais tarde voltou à Argentina onde completou os seus estudos em medicina. Foi convocado para o exército. Como não estava de acordo com a ideologia peronista, não admitia ter de defender um governo que considerava autoritário. Portanto, no dia da inspecção médica, tomou um banho gelado antes de sair de casa e na hora do exame teve um ataque de asma. Foi considerado inapto e dispensado.
Já envolvido com a política, em 1953, viajou para a Bolívia e depois seguiu para a Guatemala com o seu novo amigo Ricardo Rojo. Foi lá que Guevara conheceu aquela que virá a ser a sua futura mulher, a peruana Hilda Gadea Acosta, e Ñico Lopez, que, futuramente, o apresentaria a Raul Castro, no México.
Na Guatemala, o Presidente Arbenz Guzmán, esquerdista moderado, comandava uma ousada reforma agrária. Porém, os EUA, descontentes com a reforma, que tiraria terras improdutivas das suas empresas para as conceder a camponeses famintos, planeou um golpe bem sucedido colocando no governo uma ditadura militar manipulada pelos yankees. Che ficou inconformado com a facilidade norte-americana em dominar o país e com a apatia dos guatemaltecos. A partir desse momento, convenceu-se da necessidade de tomar a iniciativa contra o cruel imperialismo.
Com o clima tenso na Guatemala e perseguido pela ditadura, Che foi para o México. Alguns relatos dizem que corria risco de vida no território guatemalteco, mas essa ida ao México já estava planeada. Ali, leccionou numa universidade e trabalhou no Hospital Geral da Cidade do México, onde reencontrou Ñico Lopez, que o levou para conhecer Raúl Castro. Raúl, que se encontrava refugiado no México após a fracassada revolução de 1953, em Cuba, tornou-se rapidamente amigo de Che. Depois, Raúl apresentou-o ao seu irmão mais velho, Fidel Castro, de quem se tornou amigo instantaneamente. Tiveram a famosa conversa, de uma noite inteira, onde debateram a política mundial e, no fim, estava acertada a participação de Che Guevara no grupo revolucionário que tentaria tomar o poder em Cuba.
A partir desse momento começaram a treinar tácticas de guerrilha e operações de fuga e ataque. Em 25 de Novembro de 1956, os revolucionários desembarcam em Cuba e refugiam-se na Sierra Maestra, de onde comandam o exército rebelde na bem-sucedida guerrilha que derrubou o governo de Fulgêncio Baptista. Depois da vitória, em 1959, Che torna-se não só cidadão cubano e como no segundo homem mais poderoso de Cuba. Marxista-leninista convicto, é apontado, por alguns especialistas, como o responsável pela adesão de Fidel ao bloco soviético e pelo confronto do novo governo com os Estados Unidos.
Guevara queria levar o socialismo a toda a América Latina e acreditava apaixonadamente na necessidade do apoio cubano aos movimentos guerrilheiros da região e também de África. Da revolução em Cuba até à sua morte, participou em três mal sucedidas expedições guerrilheiras. A primeira na Argentina, em 1964, quando o seu grupo foi descoberto e a maioria morta ou capturada. A segunda, um ano depois de fugir da Argentina, no antigo Congo Belga, mais tarde Zaire e actualmente República Democrática do Congo. E por fim na Bolívia, onde acabaria executado.
Sem a barba e a boina tradicionais, disfarçado de economista uruguaio, Che Guevara entrou na Bolívia, em Novembro de 1966. A ele se juntaram 50 guerrilheiros cubanos, bolivianos, argentinos e peruanos, numa base dum deserto do Sudeste do país. O seu plano era treinar guerrilheiros de vários países para começar uma revolução continental.
Guevara foi capturado em 8 de Outubro de 1967. Passou a noite numa escola da aldeia de La Higuera, no centro-sul da Bolívia, a 50 quilómetros de Vallegrande, e, por ordem do presidente da Bolívia, general René Barrientos, foi executado, com nove tiros no dia seguinte à sua captura, pelos rangers do Exército boliviano, treinados pelos Estados Unidos.
A sua morte, no dia 9 de Outubro de 1967, aos 39 anos, interrompeu o sonho de estender a Revolução Cubana à América Latina, mas não impediu que seus ideais continuassem a gozar de popularidade entre a esquerda.
Os boatos que cercaram a execução de Che Guevara levantaram dúvidas sobre a identidade do guerrilheiro. A confusão culminou no desaparecimento dos seus restos mortais, encontrados apenas em 1997, quando o mundo recordava os trinta anos de sua morte, sob o terreno do aeroporto de Vallegrande. O corpo estava sem as mãos, amputadas para reconhecimento poucos dias depois da morte, e levadas para Cuba.
Em 17 de Outubro de 1997, Che foi enterrado solenemente na cidade cubana de Santa Clara (onde liderou a batalha decisiva para a derrubada de Baptista), com a presença da família e de Fidel. Embora os seus ideais sejam românticos aos olhos de um mundo globalizado, ele transformou-se numa grande figura da História das Revoluções do século XX e num exemplo de coerência política. A sua morte determinou o nascimento de um mito, até hoje símbolo de resistência para os países latino-americanos.
 

 

 

 

Óptima oportunidade para ver, ou rever ,o

filme " Os Diários de Che Guevara".

 

O Che será, sempre, para a minha geração,

o expoente máximo do revolucionário bom,

humano, profundamente empenhado na

construção duma sociedade de HOMENS

 iguais, livres e fraternos.

Foi por esse ideal que deu a vida.

 

Até sempre, amigo!

Talvez um dia... quem sabe?

 

 

Hasta siempre,
comandante Che Guevara!
 
Aprendimos a quererte
Desde la histórica altura
Donde el sol de tu bravura
Le puso un cerco a la muerte.
Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante Che Guevara.
Tu mano gloriosa y fuerte
Sobre la historia dispara
Cuando todo santa clara
Se despierta para verte.
Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante Che Guevara.
Vienes quemando la brisa
Con soles de primavera
Para plantar la bandera
Con la luz de tu sonrisa.
Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante Che Guevara.
Tu amor revolucionario
Te conduce a nueva empresa
Donde esperan la firmeza
De tu brazo libertario.
Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante Che Guevara.
Seguiremos adelante
Como junto a ti seguimos
Y con Fidel te decimos:
Hasta siempre comandante.
Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante Che Guevara.
****
Carlos Puebla

 

publicado por Elisabete às 18:36
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Quarta-feira, 13 de Junho de 2007

LEMBRAR...

 

[...]

Depois, lentamente, esqueceste.

Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:

Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste

Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.

Duas vezes no ano pensam em ti.

Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,

E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

[...]

 

Álvaro de Campos

 

 

 

 

 FERNANDO ANTÓNIO NOGUEIRA PESSOA

Um dos  maiores poetas da Língua Portuguesa, autor de "Mensagem" 


Morreu a  30 de Novembro de 1935, em Lisboa  

 

Nasceu a 13 de Junho de 1888, às 15 h., em Lisboa
 

 
 FERNANDO DE BULHÕES (SANTO ANTÓNIO)

Nasceu a 15 de Agosto de 1195, em Lisboa 


Morreu a 13 de Junho de 1231, em Pádua (Itália)


Monge franciscano (1220), padroeiro dos pobres e casamenteiro, conhecido como Santo Antonio de Pádua ou de Lisboa; canonizado pelo Papa Gregório IX (13/05/1232).

 

 

ÁLVARO BARREIRINHAS CUNHAL

Nasceu a  10 de Novembro de1913, em Coimbra 


Morreu a 13 de Junho de 2005, em Lisboa


Escritor e político; Secretário-Geral do PCP (Partido Comunista Português) de 1961 a 1992; um dos grandes opositores do Estado Novo. É preso, realizando uma das fugas mais espetaculares do regime, do Forte de Peniche.



 

 

JOSÉ FONTINHAS (EUGÉNIO DE ANDRADE)
 

Nasceu a  19 de Janeiro de 1923, em  Póvoa de Atalaia 


Morreu a  13 de Junho de 2005, no Porto  


Escritor e poeta de fama internacional, caracteriza-se pela importância dada à palavra. O tema central de sua poesia é a figuração do Homem, individual e colectivo.


 

 

 

 ALBERTO RAPOSO PIDWELL TAVARES (AL BERTO)

 

Nasceu a 11 de Janeiro de 1948, em Coimbra.

 

Morreu a 13 de Junho de 1997, em Lisboa.

 

Poeta de "O Medo", "Lunático" e "O Último Coração do Sonho", entre muitos outros.


 

 

Álvaro Cunhal

 há-de flutuar uma cidade...

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentado à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

                                  Al Berto

 

Marchas de Santo António,

Lisboa

Urgentemente

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

                     Eugénio de Andrade

 

publicado por Elisabete às 21:19
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Domingo, 10 de Junho de 2007

10 DE JUNHO

 

Estátua de Camões (Constância)

 

Cantiga
 
a este moto:
 
Vi chorar uns claros olhos
quando deles me partia.
Oh! que mágoa! Oh! que alegria!
 
VOLTAS
 
Polo meu apartamento
se arrasaram todos d’água.
Quem cuidou que em tanta mágoa
achasse contentamento?
Julgue todo entendimento
qual mais sentir se devia:
se esta dor, se esta alegria!
 
Quando mais perdido estive,
então deu a esta alma minha
na maior mágoa que tinha
o maior gosto que tive.
Assi, se minha alma vive
foi porque me defendia
desta dor esta alegria.
 
O bem que Amor me não deu
no tempo que o desejei,
quando dele me apartei
me confessou que era meu.
Agora, que farei eu
se a fortuna me desvia
de lograr esta alegria?
 
Não sei se foi enganado,
pois me tinha defendido
das iras de mal querido
no mal de ser apartado.
Agora peno dobrado,
achando no fim do dia
o princípio d’alegria.
SONETO
 
O dia em que eu nasci, moura e pereça,
não o queira jamais o tempo dar,
não torne mais ao mundo, e, se tornar,
eclipse nesse passo o sol padeça.
 
A luz lhe falte, o sol se [lhe] escureça,
mostre o mundo sinais de se acabar,
nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
a mãe ao próprio filho não conheça.
 
As pessoas pasmadas de ignorantes,
as lágrimas no rosto, a cor perdida,
cuidem que o mundo já se destruiu.
 
Ó gente temerosa, não te espantes,
que este dia deitou ao mundo a vida
mais desgraçada que jamais se viu!
ESPARSA
 
do Autor ao desconcerto do mundo
 
Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais me espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim
anda o mundo concertado.
 
No mar, tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida;
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
 
Os Lusíadas, Canto I (106)

 

 *

*     *

 

A Luís de Camões nada faltava para ser do número dos poetas que escrevem para a eternidade: com a profundidade do sentimento, a lucidíssima claridade intelectual; com as graças da imaginação, a finura da sensibilidade do poeta, capaz de comunicar a observação do concreto, tanto como de insinuar a emoção inefável; e com tudo isto, a vivacidade impressionante da expressão, resultante, é certo, das naturais aptidões da sensibilidade, da imaginação e da inteligência, mas cultivada, também é sabido, com o honesto estudo que lhe não faltou na vida, segundo o seu dizer.
 
Hernâni Cidade, Luís de Camões, o Lírico
É impossível compreender o Camões – naquilo em que o Camões é realmente o Camões, e não um César ou João Fernandes – sem aceitarmos a ideia de ser ele verídico nas constantes afirmações do carácter fino, delicado, subtil, estranho, da sua maneira de sentir o amor – e de o pensar. Sim, de o pensar: porque pensava o amor. Pensava e sentia simultaneamente: nele, o sentir era pensamento; e o pensamento, sentir.
 
António Sérgio, Ensaios
 

 

 *

 *          *

 

 "Os Emigrantes", de Domingos Rebelo

 

 *

*      *

 

A todos os portugueses, espalhados pelo Mundo, o meu abraço.

Se quiserem e puderem, voltem: PORTUGAL PRECISA DE VÓS!

publicado por Elisabete às 09:53
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Sábado, 9 de Junho de 2007

DALAI LAMA

  

«Tenho 66 anos, quase 67. Perdi a minha liberdade com a idade de 16 anos. Com 24 anos perdi o meu próprio país. Assim, nos últimos 42 a 50 anos a minha vida não tem sido fácil. Mas durante este período difícil encontrei a forma correcta de utilizar a inteligência humana. Há quem lhe chame sabedoria. Isso é muito útil. (…) Para termos uma mente tranquila, para termos força interior e autoconfiança, o elemento-chave é a compaixão humana, o sentimento de cuidado pelos outros, de respeito, de reconhecimento de todos como nossos irmãos e irmãs, que têm o mesmo direito à felicidade.»

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Estas palavras foram ditas pelo actual Dalai Lama quando, em 2001, se deslocou pela primeira vez a Portugal. Sabemos que estará cá, de novo, no próximo mês de Setembro.

Quero lembrar que eram portugueses, os primeiros ocidentais a chegar ao Tibete.

***************

"O Padre António de Andrade e seus companheiros jesuítas foram, em 1624, os primeiros ocidentais a cruzar os Himalaias e a estabelecer uma missão no Tibete ocidental, contribuindo com as suas cartas (…) para a fundação da futura e hoje florescente tibetologia."
**************
Dedico este post a todos os que, podendo embora professar nenhuma ou qualquer religião, respeitam as ideias e a fé dos outros e, sobretudo, sabem reconhecer um homem bom, como é o caso deste tibetano de olhar risonho e divertido.
************************
Curriculum:
Sua Santidade, o XIV Dalai Lama Tenzin Gyatso nasceu em 1935, oriundo de uma família de camponeses, numa pequena aldeia situada no nordeste tibetano. Com apenas dois anos foi reconhecido como a reencarnação do seu predecessor. Os Dalai Lama são manifestações vivas do Buda da Compaixão, que tomou a decisão de renascer para servir, uma vez mais, a Humanidade. Dalai Lama significa Oceano de Sabedoria - título original do seu livro - embora os tibetanos geralmente se refiram a Sua Santidade como Yeshe Norbu, a Jóia, ou Kundun, a Presença. A cerimónia de reconhecimento do XIV Dalai Lama teve lugar a 22 de Fevereiro de 1940 em Lhasa, a capital do Tibete. Dez anos depois, quando a China invadiu o território tibetano, com apenas 16 anos e mais nove de estudos religiosos por completar, Sua Santidade teve que assumir o poder político total. Em Março de 1959, durante o Levantamento Nacional do Povo Tibetano contra a ocupação militar chinesa, teve que partir para o exílio. Desde então tem vivido nos Himalayas, em Dharamsala na Índia, sede oficial do governo tibetano no exílio, uma democracia constitucional instituida em 1963. Na última década, o Dalai Lama tentou estabelecer o diálogo com os chineses. Propôs o "Plano de Paz em Cinco Pontos" em 1987-88, que poderia ter estabilizado toda a região asiática, e foi louvado por estadistas e especialistas em legislação no mundo inteiro. O XIV Dalai Lama, ao contrário dos seus predecessores que nunca viajaram no Ocidente, continua as suas viagens à volta do mundo, apelando à bondade, à compaixão, ao respeito para com o meio ambiente e, sobretudo, à paz no mundo. Para além de uma extensa bibliografia, Sua Santidade já recebeu inúmeros prémios honorários nos diversos países em que discursou, sendo o mais importante de todos o 'Prémio Nobel da Paz', recebido em 1989, graças ao reconhecimento da Academia Norueguesa relativamente às tentativas e esforços do Dalai Lama em benefício da paz mundial.

Só o amor dá sentido à vida. 

publicado por Elisabete às 21:21
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Sexta-feira, 8 de Junho de 2007

CEGA, SURDA E MUDA para poder sobreviver

 

[...] A nossa pátria é onde nos sentimos bem,
e os portugueses têm hoje fortes motivos para não
se sentirem bem em Portugal. Os últimos dados
sobre a existência quotidiana no Norte de Portugal
e na Galiza são perturbadores. Com metade do
salário médio dos galegos (que são os "pobres" de Espanha)
pagamos o dobro do que eles pagam por coisas
tão díspares como a gasolina ou a saúde,
a educação ou o pão nosso de cada dia.
Que fizemos nós para isso, a não ser andarmos
há anos a votar persistentemente nas pessoas erradas? [...]
**********
Manuel António Pina, in Jornal de Notícias (8/6/2007)

 

 

MUNCH, O GRITO 

 

Parece que acordo dentro dum filme de terror. Ligo a televisão e vejo:

 

>>> O novo cálculo das reformas dos portugueses vão provocar uma diminuição de 30 a 40 % das mesmas;

>>> As taxas de juro (que subiram agora para 4%), estarão, provavelmente, já em 2008, a 8%;

>>> Previsões de redução de direitos na saúde e fim de certas deduções no IRS;

>>> Previsões de que as taxas moderadoras devem subir e acabar a sua isenção, até para os desempregados. [O Ministro da Saúde vem, agora, dizer que estas previsões não são para aplicar já; que são apenas estudos duma Comissão do Ministério... (?.]

 

Leio o jornal e é só desgraças... os portugueses estão cada vez mais pobres e, o que é pior, cada vez mais passivos e estupidificados. Andamos, pateticamente, satisfeitos com todas estas Comissões que estudam, à custa dos impostos que pagámos, a melhor maneira de nos dar cabo da vida.

 

Que mundo é este, afinal? 

 

Parece-me que, para manter a minha sanidade mental, vou ter que fazer como o macaco: tapo os olhos, os ouvidos e a boca.

 

Talvez não acreditem, mas a verdade é que só me apetece fugir. Fugir de vez, isto é, morrer ou enlouquecer, para poder ter um pouco de paz.

 

**************************

  
Primeiro levaram os comunistas,
mas eu não me importei
porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
mas a mim não me afectou
porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
mas eu não me incomodei
porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
de alguns padres,
mas como nunca fui religioso,
também não liguei.
Agora levaram-me a mim
e quando percebi,
já era tarde.

**
Bertold Brecht
Espero que, quando dermos conta, não seja já demasiado tarde
publicado por Elisabete às 20:43
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Quinta-feira, 7 de Junho de 2007

PAUL GAUGUIN

Paul Gauguin nasceu em Paris, em 7 de Junho de 1848, e morreu mas Ilhas Marquesas, em 8 de Maio de 1903.

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Auto-retrato

Aos 35 anos, próspero, bem casado, pai de cinco filhos, amigo de artistas e artista nas horas vagas, um homem decide romper com as amarras do presente para ir ao encontro da sua própria verdade. A partir desse momento, até à morte, a trajectória do homem Paul Gauguin foi um penoso exercício de liberdade. E a sua arte, uma busca sincera e vivida daquilo a que ele próprio chamou “a grande realidade fundamental”: a Natureza.
 

   

Aprendiz de piloto da marinha mercante e empregado de um agente de câmbios, começa a pintar como amador. Em 1876 expõe pela primeira vez e, em 1883, vive em Pont-Aven (Bretanha), com o pintor Charles Laval. Posteriormente, faz uma viagem à Martinica. De novo na Europa, trabalha em Arles com Vincent van Gogh. Após uma estadia em Paris, em 1892 vai para o Tahiti, onde vive até 1893. Volta a Paris, mas em 1895 volta para o Tahiti onde, presa da miséria e da doença, pinta verdadeiras obras-primas.
Em 1900, com melhor situação económica graças à venda das suas obras instala-se nas ilhas Marquesas, também no Pacífico.  
 

Pinta a Natureza tal como a sente, afastando-se do impressionismo. 
Instalado nos Mares do Sul, enamora-se da vida simples e amável dos indígenas polinésios, que se tornam no principal tema dos seus quadros. Os protagonistas destes quadros são as mulheres e a vegetação tropical. Nos seus últimos tempos, Gauguin, desalentado e doente, pinta uma série de quadros que expressam uma profunda preocupação existencial unida a uma sensualidade intensa, selvagem e perturbadora.
Acaba por envolver-se em disputa com as autoridades coloniais, na defesa do direito dos indígenas de não frequentarem a escola dos missionários e de não serem obrigados a ir à missa. É detestado pelos outros europeus que lá vivem. É condenado a três meses de prisão, por desacato com um militar branco. É aí que morre.

 

 

publicado por Elisabete às 21:22
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Quarta-feira, 6 de Junho de 2007

A ÚLTIMA INVENÇÃO PORTUGUESA

 

 

Todos sabemos que Portugal é um país de inventores. Não temos, a maior parte das vezes, dinheiro para produzir o que inventámos, mas não se pode ter tudo. Não é verdade?

Desta vez, porém, o Ministro da Saúde e o Governo de Sócrates inventaram uma coisa que, decerto, vai ser seguida em todo o Mundo. Ainda não adivinharam? Pois claro! Fecharam as maternidades, velhinhas, sem condições e fora de moda, e... os meninos agora nascem em maternidades moderníssimas, com todas as condições: ambulâncias e elevadores. Em menos duma semana, ouvi falar duns quantos casos destes.

Senhores Primeiro-Ministro e Ministro da Saúde gostavam que os vossos filhos tivessem nascido assim? Não precisam de responder. Os senhores pertencem àquela classe que escolhe o dia em que o bebé deve nascer, recorrendo a cesarianas que, ao contrário do que seria natural, são feitas por opção e não por necessidade.

Cá por mim, não posso queixar-me: os meus filhos nasceram na Maternidade Júlio Dinis e o meu tempo de ter filhos já passou. O meu neto nasceu no Hospital de S. João. Mas os meus filhos são ainda novos e acho que vou aconselhá-los a mudarem-se para perto da fronteira. Sempre poderão dar-me netos espanhóis... Como diria Almada Negreiros, se estes senhores são portugueses, eu quero ser espanhola.

Amo o meu país e não posso perdoar a quem está a destruir, em nós, a esperança dum futuro.

 

*************************

P.S. Mais um aumento das taxas de juro. Dificuldades acrescidas para quem se vê na necessidade de contrair empréstimos. Não sou adepta do consumismo. Mas gostaria de perceber como é que, na economia de mercado, se cresce diminuindo as vendas. O investimento europeu, tão necessário para combater o desemprego, não é prejudicado com medidas destas? Devo ser muito burra, mesmo admitindo que não sou especialista na matéria. Outra coisa: quem é que ganha com isto? Os Bancos? Os EUA? A China? A Índia? Realmente, tudo isto é muito complicado para a minha cabeça... Só uma coisa está bem clara na minha "cabecinha pensadora":  tenho de pagar um pouco mais, todos os meses, à Caixa Geral de Depósitos.  

publicado por Elisabete às 20:35
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Terça-feira, 5 de Junho de 2007

"Ética para um Jovem"

 

 

 Fernando Savater, catedrático de Ética na Universidade do País Basco 

************************************

Assim, não deves levar demasiado a sério este livro. Entre outras coisas, porque a “seriedade” não costuma ser um sinal inequívoco de sabedoria, como julgam os pasmados: a inteligência deve saber rir... Mas o tema de que o livro trata, em contrapartida, farás bem se não o puseres de lado: refere-se àquilo que podes fazer com a tua vida e, se isso não te interessa, não sei o que possa afinal interessar-te. Como viver da melhor maneira possível? Esta pergunta parece-me muito mais substancial do que as outras na aparência mais imponentes: “Tem sentido a vida? Vale a pena viver? Há vida depois da morte?” Olha, a vida tem sentido e sentido único; segue em frente, as cartadas não se repetem nem podem, habitualmente, corrigir-se. Por isso, devemos reflectir sobre aquilo que queremos e reparar no que fazemos. Depois... conservar sempre a coragem diante do fracasso, porque a sorte também faz parte do jogo e ninguém pode acertar em todas as ocasiões.
A vida boa não é algo de genérico, fabricado em série, mas só existe “por medida”. Cada um precisa de ir inventando de acordo com a sua individualidade, única, irrepetível e... frágil. No que se refere ao bem viver, a sabedoria ou o exemplo dos demais podem ajudar-nos, mas não substituir-nos...
O que te posso dizer é que procures e penses por ti próprio, numa liberdade sem enganos: responsavelmente. Tentei ensinar-te formas de andar, mas nem eu nem ninguém tem o direito de te levar às costas. Poderei, apesar de tudo, acabar com um último conselho? Já que se trata de escolher, procura sempre escolher as opções que depois te permitam o maior número de outras opções possível, e não as que te deixem entalado, contra a parede. Escolhe o que abre: aos outros, a novas experiências, a diferentes alegrias. Evita o que te encerra e te enterra.
 

Fernando Savater, Ética para um Jovem

publicado por Elisabete às 18:34
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Segunda-feira, 4 de Junho de 2007

Parabéns Jorge Palma

A 4 de Junho de 1950, nasce, em Lisboa, o compositor e intérprete português de canções, Jorge Manuel de Abreu Palma.

Parabéns pelos 57 anos (que eu também já tenho)!

A minha gratidão pelas belíssimas canções que fazem parte, há muito tempo, da minha vida.

Apenas, para relembrar, algumas das mais belas palavras de Jorge Palma:

 
Dá-me Lume
Chegaste com três vinténs
E o ar de quem não tem
Muito mais a perder
O vinho não era bom
A banda não tinha tom
Mas tu fizeste a noite apetecer
Mandaste a minha solidão embora
Iluminaste o pavilhão da aurora
Com o teu passo inseguro
E o paraíso no teu olhar
 
Eu fiquei louco por ti
Logo rejuvenesci
Não podia falhar
Dispondo a meu favor
Da eloquência do amor
Ali mesmo à mão de semear
Mostrei-te a origem do bem e o reverso
Provei-te que o que conta no universo
É esse passo inseguro
E o paraíso no teu olhar
 
Dá-me lume, dá-me lume
Deixa o teu fogo envolver-me
Até a música acabar
Dá-me lume, não deixes o frio entrar
Faz os teus braços fechar-me as asas
Há tanto tempo a acenar
 
Eu tinha o espírito aberto
Às vezes andei perto
Da essência do amor
Porém no meio dos colchões
No meio dos trambolhões
A situação era cada vez pior
Tu despertaste em mim um ser mais leve
E eu sei que essencialmente isso se deve
A esse passo inseguro
E ao paraíso no teu olhar
 
Dá-me lume, dá-me lume
Deixa o teu fogo envolver-me
Até a música acabar
Dá-me lume, não deixes o frio entrar
Faz os teus braços fechar-me as asas
Há tanto tempo a acenar
 
Se eu fosse compositor
Compunha em teu louvor
Um hino triunfal
Se eu fosse crítico de arte
Havia de declarar-te
Obra-prima à escala mundial
Mas eu não passo dum homem vulgar
Que tem a sorte de saborear
Esse teu passo inseguro
E o paraíso no teu olhar
Esse teu passo inseguro
E o paraíso no teu olhar
 
 
A Gente Vai Continuar
Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota
 
Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar
 
Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo
 
Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar
 
Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar
 
 
 
****************************************
A nossa história começa na total escuridão
Onde o mistério ultrapassa a nossa compreensão
A nossa história é o esforço para alcançar a luz
Meu amor, o impossível seduz
De Eternamente tu
 
****************************************
Tu tens fortuna e eu não
Podes comer salmão e eu só peixe miúdo
Mas temos em comum o facto de ambos vermos
A vida por um canudo
Invertemos a ordem dos factores
Pusemos números à frente de amores
E vemos sempre a preto e branco o programa
Que afinal é a cores.
De À Espera do Fim
 
Frágil (I)
Põe-me o braço no ombro
Eu preciso de alguém
Dou-me com toda a gente
Não me dou a ninguém
Frágil
Sinto-me frágil
 
Faz-me um sinal qualquer
Se me vires falar demais
Eu às vezes embarco
Em conversas banais
Frágil
Sinto-me frágil
 
Frágil
Esta noite estou tão frágil
Frágil
Já nem consigo ser ágil
 
Está a saber-me mal
Este Whisky de malte
Adorava estar "in"
Mas estou-me a sentir "out"
Frágil
Sinto-me frágil
 
Acompanha-me a casa
Já não aguento mais
Deposita na cama
Os meus restos mortais
Frágil
Sinto-me frágil
 
 Frágil
 Esta noite estou tão frágil
 Frágil
 Já nem consigo ser ágil
 
 Só por existir
 Só por duvidar
 Tenho duas almas em guerra
 E sei que nenhuma vai ganhar
 
Só por ter dois sóis
Só por hesitar
Fiz a cama na encruzilhada
E chamei casa a esse lugar
 
E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão
 
Só por inventar
Só por destruir
Tenho as chaves do céu e do inferno
E deixo o tempo decidir
 
E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão
 
 Só por existir
 Só por duvidar
 Tenho duas almas em guerra
 E sei que nenhuma vai ganhar
 Eu sei que nenhuma vai ganhar
****************************************
 Já temos a informação cruzada
 Empacotada e globalizada
 Agora só nos falta a convicção
 Para acreditar
 
De Optimista Céptico

 


publicado por Elisabete às 22:46
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Sábado, 2 de Junho de 2007

O PÂNTANO DA EDUCAÇÃO

Só pela educação pode o homem chegar a ser homem.
O homem não é mais do que aquilo que a educação faz dele.
 
Oxens Tiern
 
 
Estou absolutamente de acordo com o que diz Manuel António Pina no seu artigo, que reproduzo abaixo, e publicado ontem no Jornal de Notícias.
Fui professora muitos anos, sempre me manifestei contra as políticas do Ministério da Educação e, também sempre, sofri por ver os portugueses fazerem dos professores o “bode expiatório”. Por isso, vou transcrever pequenos comentários de alguns dos relatórios que fui fazendo ao longo da minha vida de docente.
 
 
 
A galeria dos horrores
 
A equipa de Maria de Lurdes Rodrigues tem já, por muitos motivos, lugar assegurado na Galeria dos Horrores da Educação em Portugal. Não precisava de ter agora instruído os professores para que "deixassem passar" os erros ortográficos e de construção na avaliação das provas de Língua Portuguesa do 4.º e 6.º anos onde "apenas" estaria em causa avaliar a "competência interpretativa" dos alunos (como se os limites da expressão não limitassem o pensamento e a interpretação). Enquanto em alguns países da Europa o "eduquês" e as hordas das "ciências da educação" batem em retirada, deixando para trás gerações inteiras equipadas com "competências" mas desprovidas de saber, entre nós floresce a "selva oscura" do "aprender a aprender". Não deve haver Ministério da Educação no Mundo que tantas reformas, reformas de reformas e reformas de reformas de reformas faça, tantas "experiências pedagógicas", tantos "projectos-piloto". O resultado está à vista fornadas de jovens são todos os anos despejadas às portas do ensino superior mal sabendo ler, escrever e contar. O que vale é que para tirar certos cursos superiores não é preciso saber ler, escrever e contar e que para arranjar emprego bastam "competências" como conhecer a gente certa ou estar na "jota" certa.
 
Manuel António Pina
 
 
1994
 
Sem estar totalmente satisfeita, porque é sempre possível fazer mais e melhor, em consciência, sei que me esforcei e que procurei desempenhar as minhas funções com profissionalismo e responsabilidade, apesar da implementação da nova reforma e das constantes alterações da legislação provocarem situações de insegurança e exigirem dos professores um empenho e uma entrega que tornam a função docente cada vez mais difícil e menos compensadora.
 
 
1998
 
Tenho procurado, ao longo dos anos, conhecer os meus alunos como indivíduos e como membros duma família e duma comunidade. Só assim, posso tentar iniciar, com eles, um diálogo que valorize a aceitação do que são, mas também a responsabilização para consigo próprios e para com os outros. O facilitismo, que infelizmente se vem instalando, impede que se tornem autónomos e conscientes do caminho que têm de percorrer. Não pode haver crescimento sem esforço, nem sucesso sem trabalho. Na relação, também afectiva, que se estabelece, procuro mostrar-lhes que me importo com o seu presente, mas também com o seu futuro. E que, para que nesse futuro possam ser cidadãos livres e responsáveis, é hoje indispensável adquirir conhecimentos, desenvolver capacidades, interiorizar valores e assumir atitudes compatíveis com esses valores. [...]
Penso que a minha primeira obrigação, como sujeito em devir, é para comigo própria. Não posso dar aquilo que não tenho. Se não procurar crescer e enriquecer-me, como ser humano e como profissional, não terei, com toda a certeza, grande coisa para oferecer aos meus alunos. Invisto, de forma séria, na minha formação, não para obter diplomas ou graus académicos, mas por uma necessidade interior de progredir.
Por isso, estou a fazer Mestrado [...]
Por isso, leio muito. Menos do que gostaria. Por falta de tempo mas, também, por não ter disponibilidades financeiras que me permitam comprar todos os livros de que necessito. E... aqui vai um reparo: Como é possível que, nesta profissão, não possamos sequer incluir nas despesas deduzíveis no IRS, os recibos dos livros e de outras publicações e materiais indispensáveis ao nosso trabalho.
 
2000
 
Reflectir sobre o meu trabalho, sobre esta profissão e sobre os objectivos a alcançar, não é tarefa fácil. Porque não acredito que, em matéria de educação, alguém tenha a certeza de trilhar o caminho certo. Só os resultados podem ser avaliados. E como é do conhecimento de todos, neste momento e a nível geral, os resultados não são os desejados. Parece, por isso, inevitável que os professores deixem de aceitar, acriticamente, o estabelecido e não abdiquem do direito de, por força da sua formação e da sua experiência, tentarem alterar o estado a que chegou a educação em Portugal. Pela minha parte, procuro, como boa profissional que pretendo ser, cumprir as obrigações definidas para qualquer docente, mas como ser livre e pensante que reflecte, critica e transforma. [...]
Os meus alunos... É a eles que pretendo chegar. Muitas vezes, me pergunto o que será bom para eles. O facilitismo, a indisciplina, a falta de rigor, a ausência de esforço e de trabalho? Dito assim, é fácil a toda a gente dizer que não. No entanto, vejo com apreensão tudo isto a instalar-se no sistema, que não promove, a não ser por palavras, a autonomia dos alunos, nem os torna conscientes das responsabilidades que também eles têm de ter. Como jovens de hoje, como cidadãos do futuro.
Não quero parecer derrotista ou completamente desencantada. A nossa profissão é muito desgastante, cheia de incertezas mas, de vez em quando, há alunos que nos surpreendem, assumindo atitudes que provam a interiorização de valores que procuramos transmitir-lhes. Então, por um momento, esquecem-se as desilusões e o desânimo.
A verdade é que gostaria de vê-los felizes na Escola, crescendo física, intelectual e moralmente, cumprindo com prazer os seus deveres, estabelecendo com colegas e professores relações de amizade, de confiança e de respeito. E depois, quando tiverem de ir embora, poder acreditar que estão aptos a enfrentar o mundo do trabalho e, sobretudo, a enfrentar a vida como seres humanos bons, cultos, sensíveis e responsáveis.
Dir-me-ão que é exigir demasiado. Responderei que, do meu ponto de vista, sem exigência, sem fasquias elevadas, não nos afastaremos nunca da mediocridade. Como a História tem demonstrado, essa é a única forma de tornar possível o impossível.
  
 
2004
 
A colocação dos alunos, que não conseguem acabar o 9º Ano (que aos 17, 18 anos soletram com dificuldade e não conseguem perceber uma frase escrita simples), em cursos de tipo profissional (PROFIJ e outros), para os quais, muitas vezes, não têm qualquer vocação, torturando-os com disciplinas como Mundo Actual (com 5 tempos lectivos/semana) e a tendência, perfeitamente justificável, de agrupar alunos oriundos da mesma zona numa mesma turma, acaba por ter como resultado a formação de turmas com aproveitamento e comportamento razoáveis e de outras, verdadeiramente, problemáticas a todos os níveis. Em relação às deste último tipo, o conseguir manter os alunos dentro da sala de aula e evitar que abandonem a Escola é, por si só, um sucesso significativo. Perante as dificuldades que enfrentei com algumas destas turmas, muitas vezes me perguntei se a missão do professor é ser super-herói. É que motivar e educar adolescentes a quem nem os pais, nem a sociedade, nem mesmo a religião, conseguem transmitir as mais elementares regras de comportamento cívico e moral, não é tarefa de simples humanos. A Escola perdeu muito do seu prestígio e muitos alunos, e mesmo pais, não reconhecem a Educação como o bem mais precioso das sociedades, como verdadeiro motor do progresso pessoal e colectivo. Daí o desgaste e o desencanto que esta profissão, presentemente, provoca em grande parte dos professores. 
 
A reflexão sobre o meu trabalho é uma prática diária que, normalmente, me angustia e causa grande inquietação. Por um lado, sei que me empenho em cumprir, com profissionalismo, as funções que me são atribuídas; por outro, tenho consciência da implicações que o meu trabalho pode ter no futuro de muitos jovens e do meu país. Esta responsabilidade é, extraordinariamente, pesada porque, muitas vezes, quero e não posso ou não sei. A decadente sociedade em que vivemos, minada pela mediocridade e por uma crise generalizada dos valores, produziu uma Escola onde se instalou o facilitismo, a falta de rigor, o relativismo, a desculpabilização, a negligência e a desvalorização das referências e das regras.
            Que posso eu fazer para alterar esta situação? Sinceramente, não sei. Sei apenas que uma sociedade verdadeiramente livre e democrática exige cidadãos críticos e participativos, o que implica saber escolher. E como se sabe escolher sem instrução ou sem consciência do bem e do mal? A Educação só terá sentido como aprendizagem contínua que vise, para lá de objectivos profissionais, a qualidade de vida pessoal e o progresso social.
            Penso que há que ter a coragem de fazer uma avaliação honesta e exaustiva dos resultados das teorias pedagógicas postas em prática, no passado recente. É que podemos estar a hipotecar o futuro do Povo Português e, para isso, não há perdão. A Escola tem de ter padrões elevadosde exigência, tem de proporcionar aos jovens um alto nível educativo, sob pena de não cumprir a sua nobre missão.
         Pelo que a mim diz respeito, só desejo ser capaz de não me deixar vencer pelo desânimo e pelo desencanto. Pertenço ao grupo dos que pensam que a Escola se deve preocupar tanto (e muito) em ensinar “a ler, a escrever e a contar”, como a viver com dignidade, a aprender a escolher bem e a usar a razão com responsabilidade, solidariedade e honestidade. Foi isto que a “minha Escola me ensinou” e é assim que encaro a minha vida e a minha profissão.
            É que, como escreve Adam Smith,Por muito egoísta que o homem possa ser considerado, não há dúvidas de que existem alguns princípios na sua natureza que o fazem interessar-se pela sorte dos outros e considerar a sua felicidade necessária, apesar de daí não retirar nada a não ser o prazer de ver essa mesma felicidade...”.
 
******

Concluindo: Isto é apenas uma “migalha” do que tenho dito. Mas hei-de aqui voltar...

publicado por Elisabete às 15:58
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Sexta-feira, 1 de Junho de 2007

ESCOLA PÚBLICA / ESCOLA PRIVADA

A escola que é um manifesto contra o "eduquês"
23.05.2007
É privada, escolhe os professores, recebe todos os alunos do concelho, dos pobres aos ricos, ensina a tabuada, tem quadro de honra, não vai em modas. Fica em Arruda dos Vinhos e perceber como lá se ensina desfaz muitos mitos sobre como deve ser o sistema de ensino.
 
Fica em Arruda dos Vinhos, concelho rural dos arredores de Lisboa. É a única escola desse concelho que tem terceiro ciclo do ensino básico e, por esse concelho ter sido o único onde a média a Matemática nos exames nacionais do 9º ano foi positiva, o PÚBLICO visitou a João Alberto Faria. A reportagem foi publicada segunda-feira, mas vale a pena voltar ao tema. Porque essa escola é um manifesto vivo contra o tipo de políticas que têm degradado a qualidade do ensino em Portugal.
Primeiro: naquela escola entende-se, e citamos, que "a massificação do ensino levou a um menor grau de exigência, mas a Matemática não se tornou mais fácil e mantém as dificuldades próprias da disciplina"- o que requer "esforço e trabalho".
Segundo: naquela escola não se embarca em modas, prefere-se cultivar a exigência. Por isso "o grupo de Matemática é pouco atreito a algumas inovações pedagógicas", por isso defende-se que "saber a tabuada é mais importante do que saber utilizar a calculadora", por isso interditaram mesmo a sua utilização no 2º ciclo.
Terceiro: como sem bons professores não há boas escolas, na Alberto Faria todos os professores são entrevistados antes de serem contratados, explicando-se-lhes qual a filosofia da escola e avaliando se os candidatos estão à altura do que se lhes vai pedir.
Quarto: não há nenhuma relação inelutável entre os bons resultados de uma escola e o nível sócio-económico da região onde se insere. Arruda dos Vinhos está longe de ser um dos concelhos com mais poder de compra e na João Alberto Faria não se seleccionam os alunos, recebem-se todos, mais ricos ou mais pobres. Mais: recebem-se também alunos de concelhos vizinhos, porque, como explicou um aluno do 10º ano que quer ir para Medicina, nela "o nível de exigência dos professores pode ser compensado pelos resultados nos exames, que normalmente tendem a ser melhores". Quem responde bem à exigência possui também o estímulo de figurar no Quadro de Honra da escola.
Quinto: uma direcção escolar focada em disciplinas como Matemática ou Português levou a que o tempo lectivo destinado ao Estudo Acompanhado fosse dedicado só a essas disciplinas. E quando acabam as aulas do 9.º ano os docentes estão disponíveis para dar aulas extra de preparação para os exames de Português e Matemática e ainda todas as que sentirem necessárias para o esclarecimento de dúvidas dos seus alunos.
Tudo o que atrás fica escrito permite que os bons resultados daquela escola se prolonguem no ensino secundário, tendo o ano passado ficado em 32º lugar nos rankings feitos a partir dos resultados a Matemática dos seus alunos no 12º ano. Uma boa posição, se nos lembrarmos que falamos de uma escola que não foi feita para alunos de elite.
Contudo, para o quadro ser completo, é necessário sublinhar outra: esta é uma escola privada. O seu nome completo é Externato João Alberto Faria. Mas os seus alunos não pagam para a frequentarem, pois, como é a única do concelho, tem um contrato de associação com o ministério. Estes contratos de associação são relativamente raros no país, havendo mesmo assim quem defenda que o Estado devia construir escolas públicas ao lado de estabelecimentos privados como este. Mesmo que tal saísse muito mais caro. E resultasse numa menor qualidade de ensino. Só que a Alberto Faria mostra como fazer o contrário pode resultar muito melhor.
Tudo o que atrás fica escrito permite que os bons resultados daquela escola se prolonguem no ensino secundário, tendo o ano passado ficado em 32º lugar nos rankings feitos a partir dos resultados a Matemática dos seus alunos no 12º ano. Uma boa posição, se nos lembrarmos que falamos de uma escola que não foi feita para alunos de elite.
Contudo, para o quadro ser completo, é necessário sublinhar outra: esta é uma escola privada. O seu nome completo é Externato João Alberto Faria. Mas os seus alunos não pagam para a frequentarem, pois, como é a única do concelho, tem um contrato de associação com o ministério. Estes contratos de associação são relativamente raros no país, havendo mesmo assim quem defenda que o Estado devia construir escolas públicas ao lado de estabelecimentos privados como este. Mesmo que tal saísse muito mais caro. E resultasse numa menor qualidade de ensino. Só que a Alberto Faria mostra como fazer o contrário pode resultar muito melhor.
Conclusões? Que se as escolas escolhessem os professores, se os alunos escolhessem as escolas, se o Estado se limitasse a dar orientações gerais, em vez de dirigir, e desse um cheque-ensino aos alunos menos abonados que quisessem ir para uma escola mais exigente, ou melhor, privada e paga, ganharia a qualidade de ensino e o ministro das Finanças agradeceria. Só os interesses instalados se revoltariam.
José Manuel Fernandes
 
 
 
”””””””””””””””
 
Recebi, por e-mail, este texto que passo a comentar.
 
1º A escola em questão foca a sua atenção no ensino do Português e da Matemática. Aceito que são disciplinas que servem de base a todas as outras, mas não podem, nem devem, ser as únicas a merecer atenção especial. Para todas é necessário rigor e exigência (por parte dos professores e da Escola) e esforço e trabalho (dos alunos);
 
2º Escolhe os professores e explica-lhes a filosofia da escola. Mais uma vez, o problema é, muito convenientemente, dos professores... Esquece-se que, no Ensino Público, os professores são obrigados a aceitar a filosofia do Ministério da Educação e a ter de embarcar nas tais inovações pedagógicas, com que nem sempre estão de acordo.
 A entrevista pretende, também, apurar se os professores estão à altura... Meus senhores: todos os professores têm de estar à altura da função que vão exercer. Se não estão, de quem é a culpa? De quem os prepara, com toda a certeza. Não é professor quem quer. É professor quem tem habilitações e formação adequadas para o ser. Se partimos do princípio que alguns não têm competência é porque, mais uma vez, o sistema de formação falha. Quem estabelece e controla esse sistema? Os Ministérios da Educação e do Ensino Superior... não é? 
 
3º Esta é uma escola privada, mas os seus alunos não pagam para a frequentarem, pois, como é a única do concelho, tem um contrato de associação com o Ministério.
Isto é de bradar aos céus!!! Como é que o Ministério subsidia uma escola cujas regras e práticas pedagógicas são contrárias àquelas que impõe nas escolas públicas? Não quero ser cínica, mas o que parece é que são os próprios responsáveis do Ministério da Educação que pretendem provar a excelência do ensino privado.
Os professores dão aulas suplementares, suponho que não remuneradas, como convém aos donos das escolas privadas. Se houvesse justiça neste cruel mundo capitalista, nenhum trabalhador deveria trabalhar gratuitamente. Mas não julguem que, no ensino oficial, isso não acontece. Há também professores a dar aulas suplementares, para os exames. Isto para não falar, porque quem não é professor não compreende, das horas e horas de trabalho não contabilizado (e não pago), em casa. Alguém, que não seja professor, faz uma ideia do tempo e da preocupação que demora preparar uma aula ou corrigir um teste ou qualquer trabalho escrito?
Os professores, para além de terem sido considerados “os nómadas do séc. XX”, passaram agora a ser “os escravos do séc. XXI”? Garanto-vos que muitas escolas ainda vão funcionando, graças à “carolice” de muitos professores.
 
4º Esta escola tem alunos ricos e alunos pobres. Estou de acordo quanto a não haver nenhuma relação inelutável entre os bons resultados de uma escola e o nível sócio-económico da região onde se insere. Mas, quando se fala na existência dessa relação, ninguém se está a referir aos alunos duma determinada povoação, salvo raras excepções. Fala-se, sim, de escolas inseridas em bairros degradados das grandes cidades, onde quase todos são pobres de tudo. E, mesmo nessas, admito que há excepções.
 
5º Quanto aos rankings, desculpem-me mas não acredito na sua fiabilidade. E com isto não estou a afirmar que o ensino nessa escola não seja bom. Acredito que sim. Também eu estou de acordo com alguns dos processos que utilizam.
 
Com o que não posso estar de acordo é com a ideia de que o ensino privado seja, por si só, melhor do que o público.
Aceito, no entanto, a crítica que é feita ao estado da Educação a que se chegou em Portugal. Mas não se chegou aqui porque o ensino é público ou porque os professores são maus e desinteressados. Chegou-se a este pântano por culpa das políticas erradas e desastrosas seguidas pelos sucessivos Ministros da Educação. E é preciso que, de uma vez por todas, o poder político assuma as suas responsabilidades perante o povo português.
Como professora que fui, sempre me bati por um ensino de qualidade. Um ensino que diluísse, em vez de aumentar, as diferenças sociais. Mas, o que aconteceu foi uma descida generalizada de nível para um mínimo inaceitável.
 
IMPORTANTE: Quanto aos interesses instalados, não sei ao que se refere. É natural que no Ministério da Educação e nas Direcções Regionais de Educação haja alguns tachos. Gente que tem de mostrar serviço e, daí, mudanças e reformas umas atrás das outras. E no privado? Há o objectivo por excelência: GANHAR DINHEIRO.
Se os pais ricos não se importam de o pagar... nada contra. Agora que seja o Ministério da Educação a dá-lo... já ponho algumas objecções.
publicado por Elisabete às 17:12
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