Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2008
Oxalá, não te entristeça meu fado,
Meu astro, signo real
Nasceste ao mar acostado
No extremo ocidental.
O céu iluminaste
Com tua luz dourada
Estrada que outrora ergueste
E que hoje é quase nada
Mística luz dourada.
Oxalá, não te entristeça meu fado,
Meu astro, signo real
Nasceste ao mar acostado
No extremo ocidental.
Devolve o meu anseio
Canto-te à flor da voz
O teu destino inteiro
E oxalá…
Não te entristeça meu fado
Meu astro, signo real
Dormindo ao mar acostado
Acorda, Portugal!
Acorda, Portugal!
Acorda, Portugal!
Acorda, Portugal!
[in "Fado em Mim", de Mariza. (Tirada de ouvido)]
Terça-feira, 29 de Janeiro de 2008
Um pacote de leite, das marcas mais baratas e sem grande variação entre o gordo, o meio-gordo ou o magro, custava, há 3 ou 4 meses atrás, entre 37 a 40 cêntimos. Hoje, custa no mínimo 60 cêntimos. E, até já falta o leite, no mercado...
Alguém é capaz de me explicar porquê?
Se não me engano, ainda há um ou dois anos, os Açores correram o risco de pagar multas por excesso de produção de leite. Ultrapassavam as quotas estabelecidas pela União Europeia.
Pois é! É isto que me cheira a esturro...
Quem lucra com esta subida de preços? Os produtores portugueses? Os produtores europeus? Os produtores europeus, excluindo os portugueses? A economia portuguesa? A economia europeia? A economia global?
Não sei.
Mas sei quem perde: Os consumidores portugueses, principalmente, os MAIS POBRES.
Esta economia globalizada não é para ser entendível pelo comum dos mortais. Só pelos senhores economistas e (des)governantes.
Eu, ignorante e burra como sou, não percebo nada.
Apesar disso, ainda consigo perceber que, com aumentos à volta dos 2%, o nosso dinheiro vai dar para metade das despesas.
Andamos a "apertar o cinto" para quê?
Alguém me explica?
Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2008
| Andamos todos a dormir na forma?... ACORDA, PORTUGAL!!! |
Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2008
Na Educação, as estatísticas também são milagrosas.
Será que eles têm noção do que andam a fazer?
Mais um texto brilhante de Manuel António Pina. Dispensa comentários.
Milagres estatísticos
A estatística é aquela arte que prova que, se eu comi dois ovos e tu nenhum, cada um de nós comeu um, ou, em versão actualizada, que se o dr. Paulo Teixeira Pinto foi à junta médica e saiu de lá com 10 milhões e uma pensão de 37 500 euros e Ana Brandão, funcionária administrativa de Ponte de Lima portadora de doença degenerativa que a mantém de cama há quatro anos, foi à junta médica e veio de lá apta para trabalhar e sem um tostão (pois até o salário deixou de receber), cada um recebeu 5 milhões e uma pensão de 18 750 euros. Misturada com a política, a estatística tem o poder de gerar mundos imaginários. Assim, os dados do INE segundo os quais a taxa de risco de pobreza (população com menos de 60% do rendimento mediano nacional) baixou 2% entre 2004 e 2006 serviram ao Governo para provar que há menos pobres em Portugal. Acontece é que, em 2006, o rendimento mediano estagnou (subiu 1,7%), enquanto as pensões subiram um pouco mais. Desse modo, por milagre estatístico, alguns pobres tornaram-se de repente "ricos", passando, em vez de 60%, a ter 61% ou 62% do rendimento mediano. Não foram, pois, os portugueses pobres que ficaram "ricos", mas os "ricos" que ficaram mais pobres. E "rico" em Portugal é, estatisticamente, quem tem mais de 366 euros por mês.
Manuel António Pina, in Jornal de Notícias, 23.Jan.2008
Domingo, 20 de Janeiro de 2008
Em 19 de Janeiro de 1839, nasce em Aix-en-Provence o pintor francês
Paul Cézanne
Paul Cézanne A Velha com Touca
Em 19 de Janeiro de 1923, nasce na Póvoa de Atalaia (Fundão), José Fontinhas, poeta e escritor português, que usou o pseudónimo de
Eugénio de Andrade
São como cristal,
as palavras,
algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta?
Quem as recolhe assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
É tão bom tê-los nas nossas vidas!
Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2008
Ocorreu-me aquilo quando atravessava o jardim, de regresso a casa. Nos bancos estavam como sempre sentados os velhotes do costume. Coitados!, pensei, corpos esvaziados de seiva! Cai-lhes sobre os olhos melosos de visões ausentes a sombra dos chapéus enterrados na cabeça sumida. Não falam entre si, não olham quem passa, não ouvem as sereias dos navios no rio à distância ou a gritaria da criançada na escola, um pouco mais abaixo. Mesmo quando chuvisca, ficam ali sentados, estáticos, até serem horas de voltar para donde vieram – apartamentos claustrofóbicos, pardieiros fuliginosos, barracas encolhidas à chuva, ao vento, ao frio. De um deles sei eu que foi encontrado ali mesmo, serenamente sentado ao luar, que era de quarto-minguante em signo de Escorpião. Um dia serei como eles, pensei, mas não vou sentar-me em bancos de jardim público, porque as mulheres, essas, ficam em casa, embaladas pelos rumores da cozinha e cabeceando em cadeiras de baloiço ou em banquinhos toscos, com a cabeça pétrea, de cor sublunar, emergindo de um rolo de roupas indefinidas, de cores (essas) subepidérmicas, subtonalidades evasivas, fortuitas – é tudo sub! Mas há dignidade nos velhotes sentados nos bancos dos jardins em manhãs baças de humidade e em tardes fosforescentes de luz fatalmente finita. E as manhãs de domingo são sempre de sol, os velhotes acolhem a claridade do dia e a fragrância outonal ao som dos sinos que chamam para a missa na Igreja um pouco mais acima. Um dia serei como eles, pensei, mas ainda é cedo para ser. Tenho ainda de fazer frente à minha vocação de fuga à vida em bancos de jardins públicos ou em estofos sumidos de cadeirões empenados, ainda é cedo para me inocentar e irresponsabilizar relativamente aos grandes ciclos infernais de todas as vidas.
E lembro essa tarde porque foi nessa tarde que consciencializei a premonição de uma derrocada, de ocorrências funestas, daí por diante e por tempo indefinido. Tive medo pela minha Clarinha, aquela que de mim nascera em boa hora, tendo progredido nos anos em beleza, inteligência e talento. Só pensei nela, embora devesse afinal sobretudo pensar em mim.
Fernanda Botelho, Dramaticamente Vestida de Negro
Vale a pena conhecer melhor esta filha da cidade do Porto, recentemente falecida. Um escritor continuará vivo enquanto houver alguém que "viva" através da sua obra.
Quinta-feira, 3 de Janeiro de 2008
Depois da azáfama do Natal, sabe bem deixar o bulício da cidade e rumar a paragens mais calmas. Redescobrir as raízes do passado, contemplar paisagens que nos lavam a alma. Desta vez, foi escolhido o Alto Minho, tendo por base Vila Nova de Cerveira.
Primeira paragem em Caminha. Tomar café na bela praça quinhentista (Praça Conselheiro Silva Torres), fazendo projectos para os dias seguintes, é fonte de verdadeiro prazer.
Apesar do emaranhado da iluminação do Natal, que ensombra um pouco a beleza dos edifícios, à nossa frente, ergue-se o Chafariz do Terreiro, obra de João Lopes Filho, construído em 1517.
À nossa direita, a Igreja da Misericórdia, iniciada em 1559, com o seu portal renascentista e a sua varanda porticada. No interior, altares de talha, um deles com a imagem da padroeira da vila, Santa Rita de Cássia.
A seguir, o edifício dos Paços do Concelho, com os seus arcos e cujo salão nobre tem um belíssimo tecto em castanho, de apurado trabalho de talha, do séc. XVI.
Mesmo ao lado, a Torre do Relógio, uma das portas das muralhas medievais, que chegaram a ter 13 torres, designava-se Porta de Viana, por ser a saída para Viana do Castelo. Após a Restauração, D. João IV mandou colocar sobre a porta uma imagem em pedra de Nossa Senhora da Conceição. O relógio, colocado no topo, dá o nome à torre. O sino, no cimo da pirâmide da torre, foi fundido em 1610.
A Casa dos Pitas é um belo solar dos meados do séc. XVII, em estilo manuelino tardio, visível da Praça e situado no início da Rua da Corredoura.
A Rua Direita (antiga Rua do Meio), sinuosa, chão de laje e casas de belas fachadas e varandas, é muito movimentada pela profusão de bares e “tasquinhas”, sendo o principal local de animação nocturna.
São de fundação romana (sécs. IV e V), as Muralhas de Caminha, mas foram ampliadas e reforçadas no reinado de D. Afonso III, D. Dinis e de D. João I. Durante a Restauração foram profundamente transformadas. Os muros que delas restam são medievais e setecentistas.
Eram horas de partir para norte. Antes, porém, fez-se um frugal almoço de sanduíches integrais, leite e fruta, tendo como encosto o carro e, em frente, o belo rio Minho e a vizinha Galiza. Garanto que soube melhor que o melhor manjar em restaurante de primeira categoria.
Estava prevista nova paragem em Caminha, no regresso ao Porto, mas o mau tempo não o permitiu. Lá voltaremos um dia!