Uma perigosa reaccionária
Uma professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa ficou sem a regência de duas cadeiras por ter chumbado mais de 50% dos alunos. O motivo invocado pelo Departamento de Química da Nova para a punição não deixa dúvidas: "Aumento súbito do insucesso escolar". Desde que, no sistema educativo português, foi consagrado entre os direitos, liberdades e garantias fundamentais o direito ao sucesso escolar, quem se meta entre um aluno e o diploma a que tem direito (atrevendo-se, como no caso, a dar notas negativas em exames finais) é culpado do pior dos crimes, o de terrorismo anti-estatístico. Se o futuro licenciado sabe ou não sabe alguma coisa (ler, escrever e contar, por exemplo), é irrelevante; o país, as estatísticas e as caixas dos supermercados precisam de licenciados. Foi isso que a professora da Nova não percebeu. Arreigada a valores reaccionários, achava (onde é que já se viu tal coisa?) que "um aluno só merece 10 valores se adquiriu as competências mínimas nas vertentes teóricas e práticas da disciplina". Campo de reeducação em Ciências da Educação com ela.
Manuel António Pina, Por Outras Palavras
Jornal de Notícias [25.AGOSTO.2010]
O autor é um fantasma
...ou a morte do artista, enquanto demiurgo. Alguém desabafava na velha Hollywood: “Os actores foram à vida! Já não são precisos, porque os efeitos especiais os substituíram...!” E falava certo: o actor, hoje, é um comparsa, mais um “efeito”, parte acessória dum grande puzzle: a sua importância não ultrapassa a do pássaro fantástico ou da caverna tenebrosa, constituintes da história projectada no ecrã. Ninguém lhe pede inteligência, nem sensibilidade, nem talento para encarnar personagens variadas e emprestar-lhes complexidade –pedem-lhe aspecto. E mesmo esse depende da aparência em voga. O filme não passa de um produto, na grande praça da sociedade consumidora. Auscultado o mercado, o “produto” e, consequentemente, o perfil do comediante, ajusta-se às preferências, impositivas, tal qual, em televisão, as audiências.
Tudo isso se estende a todas as mercadorias –e ao livro, também. O livro não é uma criação individual: é um objecto que se quer atraente o bastante para comercializar. Os grandes grupos editoriais funcionam à maneira de qualquer outra empresa cuja meta desconhece o Espírito e aponta ao lucro. Dizem especialistas que o computador é capaz de sonhar: de combinar dados e oferecer textos. Ora aí está! Os editores podem prescindir dos autores: metem no computador os dados necessários e a máquina trata de combiná-los, e sai “coisa” capaz de satisfazer apetites. Escolhidos e calculados os fundamentos, o computador organiza-os de modo a garantir o efeito. Depois, aluga-se um nome; ou vai-se mais longe: usa-se o nome de ninguém, sendo o autor um nado-morto: inexistente.
Manuel Poppe, O Outro Lado
Jornal de Notícias [08.Agosto.2010]
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