Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2008

ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA

 

Covilhã, 29 de Janeiro de 1927
Lisboa, 7 de Dezembro de 2008

 

 

 

Quando penso na minha vida e nas circunstâncias atribuladas do tempo que me foi dado viver, pressinto o que será a incomodidade do bêbedo no dia seguinte ao da sua bebedeira, porque nos encharcámos de razão e esperança terrena e tudo ficou aquém de todas as promessas: tudo mais pequenino e mais cruel. Pior: é uma sensação de ressaca de bêbedo com uma certa forma de orfandade: um desamparo perante a perda da herança prometida no texto fundador que fixou o projecto da nossa condição, como se, ao decretar a morte de Deus, ele tivesse, levado consigo todos os seus bens. É isso que me leva a olhar para tudo o que vivi como se fosse um ensaio falhado duma harmonia possível.
Tudo me leva a crer que as marcações que nos deram para o desempenho da vida passam ao lado do caminho por onde os nossos afectos poderiam fluir conforme o que está inscrito no mapa oculto do ser humano. Pressinto que continuamos fora do essencial […] – que, muitas vezes, até parece que a simplicidade emana do andamento da vida e que bastaria um pequeno gesto de espírito para passarmos para o lado de lá de tantas incomodidades que nos fazem viver como se tivéssemos calçado dois números abaixo da forma da alma.
 
António Alçada Baptista, O Riso de Deus

 

 

publicado por Elisabete às 11:55
link do post | favorito
Comentar:
De
  (moderado)
Nome

Url

Email

Guardar Dados?

Este Blog tem comentários moderados

(moderado)
Ainda não tem um Blog no SAPO? Crie já um. É grátis.

Comentário

Máximo de 4300 caracteres



Copiar caracteres

 


*mais sobre mim

*links

*posts recentes

* Joaquim Alberto

* ANTERO – ONTEM, HOJE E AM...

* QUINTA DE BONJÓIA [PORTO]

* POMPEIA: A vida petrifica...

* JOSÉ CARDOSO PIRES: UM ES...

* PELA VIA FRANCÍGENA, NO T...

* CHILE: O mundo dos índios...

* NUNCA MAIS LHE CHAMEM DRÁ...

* ARTUR SEMEDO: Actor, galã...

* COMO SE PÔDE DERRUBAR O I...

* DÉCIMO MANDAMENTO

* CRISE TRAZ CUNHALISMO DE ...

* O CÓDIGO SECRETO DA CAPEL...

* O VOO MELANCÓLICO DO MELR...

* Explicação do "Impeachmen...

* CAMILLE CLAUDEL

* OS PALACETES TORNAM-SE ÚT...

* Tudo o que queria era um ...

* 1974 - DIVÓRCIO JÁ! Exigi...

* Continuará a Terra a gira...

* SETEMBRO

* SEM CORAÇÃO

* A ESPIRAL REPRESSIVA

* 1967 FÉ DE PEDRA

* NUNCA MAIS CAIU

* Alfama é Linda

* Por entre os pingos da ch...

* DO OUTRO LADO DA ESTRADA

* Não há vacina para a memó...

* Um pobre e precioso segre...

*arquivos

* Dezembro 2018

* Junho 2018

* Maio 2017

* Abril 2017

* Março 2017

* Fevereiro 2017

* Janeiro 2017

* Setembro 2016

* Junho 2016

* Abril 2016

* Novembro 2015

* Setembro 2015

* Agosto 2015

* Julho 2015

* Junho 2015

* Maio 2015

* Março 2015

* Fevereiro 2015

* Janeiro 2015

* Dezembro 2014

* Fevereiro 2014

* Janeiro 2014

* Dezembro 2013

* Novembro 2013

* Setembro 2013

* Agosto 2013

* Julho 2013

* Junho 2013

* Maio 2013

* Abril 2013

* Março 2013

* Fevereiro 2013

* Janeiro 2013

* Dezembro 2012

* Novembro 2012

* Outubro 2012

* Setembro 2012

* Agosto 2012

* Julho 2012

* Maio 2012

* Abril 2012

* Março 2012

* Janeiro 2012

* Dezembro 2011

* Novembro 2011

* Outubro 2011

* Setembro 2011

* Julho 2011

* Maio 2011

* Abril 2011

* Março 2011

* Fevereiro 2011

* Janeiro 2011

* Dezembro 2010

* Novembro 2010

* Outubro 2010

* Agosto 2010

* Julho 2010

* Junho 2010

* Maio 2010

* Abril 2010

* Março 2010

* Fevereiro 2010

* Janeiro 2010

* Dezembro 2009

* Novembro 2009

* Outubro 2009

* Setembro 2009

* Julho 2009

* Junho 2009

* Maio 2009

* Abril 2009

* Março 2009

* Fevereiro 2009

* Janeiro 2009

* Dezembro 2008

* Novembro 2008

* Outubro 2008

* Setembro 2008

* Agosto 2008

* Julho 2008

* Junho 2008

* Maio 2008

* Abril 2008

* Março 2008

* Fevereiro 2008

* Janeiro 2008

* Dezembro 2007

* Novembro 2007

* Outubro 2007

* Setembro 2007

* Agosto 2007

* Julho 2007

* Junho 2007

* Maio 2007

* Abril 2007

* Março 2007

* Fevereiro 2007

*pesquisar