Terça-feira, 30 de Outubro de 2007

Tirem-me deste Mundo! PARTE 2

 

Confesso que, quase todos os dias pela manhã, faço uma descida aos Infernos. Para isso, basta ler um jornal do dia. As aberrações são mais do que muitas. Como estas:
 
1. Na Costa Rica, um seguidor da chamada “arte conceptual” apresentou, na Bienal Costarricense de Artes Visuales/Bienarte 2007, a sua obra de arte que consistia num cão, por ele apanhado na rua, que amarrou com uma corda e expôs até ele morrer de fome e de sede. O júri premiou a obra e ainda salientou a sua “qualidade e excelente coerência”. Por sugestão do Manuel António Pina, subscreva a petição (http://www.PetitionOnline.com/13031953/), para impedir que aconteça algo de semelhante na Bienal Centroamericana Honduras 2008.
 
2. Na Borralheira (Covilhã), um grupo de jovens conduziu à morte um homem, supostamente “afogado em álcool” e que ataram, suspenso de cabeça para baixo, às grades duma janela e a um automóvel. Pergunto eu: Será a arte a inspirar a vida?
 
3. O Ministério das Obras Públicas quer instalar, no Vale do Coronado (arredores do Porto), “uma plataforma intermodal, integrada na chamada Rede Nacional de Plataformas Logísticas”, um nome pomposo que deve querer dizer “estaleiro” de apoio a vários tipos de transportes. Só que estes terrenos (formados por terras de aluvião, férteis e abundantes em água) pertencem à Reserva Agrícola Nacional, sendo uma das maiores manchas de solo arável da Área Metropolitana do Porto. O autor do artigo, Bernardino Guimarães, termina e, quanto a mim muito bem, assim: “A agricultura não deve ser erradicada das periferias urbanas. Persistir nesse caminho é um erro trágico [...]. Destruir a paisagem rural, substituí-la por betão e asfalto, eis o que pode ser considerado um crime contra o (nosso) futuro, mesmo que cometido em nome do sacrossanto progresso.” Acrescento: Infelizmente, o país todo sofre desse mal de pensar que tudo o que comermos tem de vir de fora. Nós gostamos é de prédios altos e grandes e de estradas.
 
4. Antes de estar no Governo, o “nosso Primeiro” queria referendar o projecto da Constituição Europeia. Agora, chamam-lhe Tratado de Lisboa (Sempre levamos um “rebuçado”!...) e já não é preciso referendo nenhum. O povo português não percebe nada daquelas matérias complicadas (O que faz um “jeitaço” aos políticos!) e até gosta pouco de referendos. Quer dizer os políticos sabem que somos todos uns incultos. O pior é que é verdade e a prova disso é que votámos neles...
 
5. O antigo agente da CIA Gustavo Villoldo, que enterrou o cadáver de Che Guevara, numa vale perto de Vallegrande, na Bolívia, vendeu num leilão, em Dallas, uma madeixa de cabelo do revolucionário argentino por 83 mil euros. Digo eu: aqui está um caso em que “o crime compensa”.
 
Depois disto, alguém tem medo da morte? A mim, parece-me que já estamos no Inferno e não sabemos. Ou, então, o Mundo não passa dum imenso manicómio.
publicado por Elisabete às 22:45
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Quinta-feira, 25 de Outubro de 2007

Tirem-me deste Mundo!

Na última segunda-feira, comecei a ver o programa da RTP 1, "Os Prós e os Contras". É verdade que tinha de me levantar cedo, no dia seguinte, e não me convinha ver o programa todo. Mas é verdade, também, que há coisas que não sou já capaz de aguentar, se quero manter a minha sanidade mental.

Os "senhores doutores economistas e outros que tais" (1) falam da pobreza e das dificuldades da maioria da população portuguesa como falam de outra coisa qualquer. Melhor: falam de pessoas, iguais a eles, reduzindo-as, a elas e às suas vidas, a simples números e dados estatísticos. Acham esses senhores que ter um rendimento mensal à volta dos trezentos e poucos euros é estar acima do limiar da pobreza. O castigo que gostava de lhes dar era obrigá-los a viver com isso, durante uns anos, sem ajudas de amigos "bem colocados". Ou morriam ou descobririam a fórmula para conseguir gerir orçamentos desses. Nós, as pessoas comuns, somos é muito desgovernadas e, assim, sempre aprenderíamos, com eles, a "fazer omeletas sem ovos".

Não vi o resto do programa. Não consegui. Já sei que temos demasiados pobres.

Mas esse número está a crescer e isso é ainda mais preocupante. O nosso "Primeiro" está apostado em destruir a classe média. É assim: o senhor engenheiro Sócrates está a transformar Portugal num país do Terceiro Mundo. E que fique bem claro que "amo" os povos do chamado Terceiro Mundo.

Agora, vai meter-se com os aposentados da Função Pública. Pelo que percebi, os outros reformados vão receber um aumento equivalente à inflação. Os da Função Pública, pelos vistos, na sua maioria vão ter um aumento inferior. E pergunto-me se é assim porque, às vezes, chego a pensar que sou burra ou estou louca. Quer dizer: se um "aposentado" recebe mil euros, ou um pouco mais,  por mês, o seu aumento é qualquer coisa como 1,75 ou 1,25 % (não recordo bem os números que vi); mas um "reformado" que receba uma quantia equivalente, terá um aumento de 2,1 %, de acordo com a inflação estimada. Será apenas por causa do nome? Para o nosso (des)Governo, aposentado é diferente de reformado? Ou é só porque,desde início, resolveu "abrir a caça à Função Pública"? Daqui a pouco estamos todos na miséria. E acho que é chegado o momento de dizer: BASTA!!!!!!!

Se cruzarmos os braços, se nos demitirmos da nossa condição de cidadãos responsáveis, ainda acabamos no "cenário negro" previsto por Manuel Poppe, no passado domingo, e que reproduzo abaixo. Peço desculpa, ao autor, pela adaptação livre (os negritos são meus. A minha única intenção foi transcrever o essencial, que vale mais do que mil palavras que eu possa dizer.  

 

 [...]  Os nossos dias vão mal. Sentido do futuro e confiança em nós empardeceram. Explicam fado, saudade, melancolia. E, se não encontrarmos mais nada, invoquemos D. Sebastião, rebuçado em indecifrável nevoeiro. Aceitemos a fatalidade: o deficit. Convenhamos que o deficit não mata fome e derreia carteiras - e que fado, saudade, D. Sebastião também não consolam ninguém. Não queria alargar a chaga - queria trazer palavras animadoras. E lembrei-me de Antero. [...]
Reabri as "Cartas" de Antero de Quental (Universidade dos Açores/Editorial Comunicação). Um Breviário, que levanta a alma e reclama o contrato social o modo de vivermos uns com os outros, respeitando-nos e respeitando solidariedade e igualdade. Por que mãos andam, adulteradas e rebaixadas, essas palavras! "A vida torna-se um exercício em que é estranha toda a ideia de dever, ordem, justiça, de moral" (anunciava Oliveira Martins, em 1894). E anunciava bem. Mas, apesar da impudicícia com que as usam, representam valores preciosos. Que diria, hoje, de Portugal, Antero, aventureiro do Espírito e da Justiça? Do país condenado a sujeitar-se à bateria das leis económicas desumanas e a sofrê-las - meditadas e talhadas olho na mira do proveito de alguns? Não ignorava que a economia é falsa ciência e que todos os sistemas económicos resultam de modos de entender a sociedade e defendem interesses. Não ignorava que as relações sociais podem descambar em prepotência disfarçada e que o interesse privado, à rédea solta, mata o interesse público. Que o imperativo ético, a filosofia, as humanidades têm de se considerar antes -muito antes- da economia, que não passa de mera intendência. [...]
Quando governantes proclamam que o deficit será um dia reduzido a 0,2% - e 1/5 dos portugueses (2 milhões) é já pobre - [...] E antevejo Portugal um deserto ou um Campo Santo, no dia triunfal do mini-deficit: 0%. Mortos arrumados a monte e sobreviventes na emigração. E as finanças públicas equilibradas.
 
Manuel Poppe, in Jornal de Notícias (21.Out.2007)

 

(1) Não tenho nada contra os "doutores". Eu própria sou licenciada mas, felizmente, da área das Humanidades. Por isso, vejo mulheres, homens e crianças que sofrem, não vejo números. Seres que travam uma luta desigual porque, como é sabido, no nosso País os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres e remediados cada vez mais pobres.

publicado por Elisabete às 10:41
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Terça-feira, 16 de Outubro de 2007

SAUDADES DE ADRIANO

 

Vencer a morte, recordando:

http://amaroporto2.blogs.sapo.pt

 

publicado por Elisabete às 17:03
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Domingo, 14 de Outubro de 2007

"Como é que gente tão socialista, desiste de fazer o socialismo?"

Atrevo-me a transcrever aqui o artigo publicado hoje, no Jornal de Notícias, de autoria de Manuel Poppe.

Estou absolutamente de acordo com tudo o que diz. Aliás, sou leitora assídua da sua rubrica "O Outro Lado", que aprecio imenso. É directo, claro e defende valores que são também os meus. Obrigada! Faz-me sentir que não estou sozinha. 

O Carnaval Socialista                                                          

 

1. Bernard-Henri Lévy, ensaísta polémico, lançou mais um livro "Ce grand cadavre à la renverse" - e os intelectuais e políticos franceses agitam-se. O grande cadáver à deriva, de patas para o ar, o socialismo. Lévy interroga-se e políticos e politólogos, escribas e leitores constatam a morte da "quimera" ou a sua agonia. Uns reclamam a vitalidade do caminho que orientou gerações, outros sublinham a impraticabilidade dele. É uma agitação saudável e oportuna acontece quando se anestesiam as consciências, se apaga o imperativo ético e ganha foros de lei a resignação. Tenha-se por defunto, ou apenas adormecido, o socialismo - discuti-lo faz bem. Há areia de mais a gripar o pensamento. E a dúvida não habita em França: é europeia, mundial. É nossa. O socialismo, o sonho de Antero de Quental, que lhe chamava "ideia pura", não se pode lançar às urtigas, como sapato usado. Virar-lhe as costas é uma coisa, decretá-lo morto, outra.

2. Senão, vejamos de que falava esse ideal? De justiça, igualdade, solidariedade. Igualdade de oportunidades. Triunfo do Humanismo e da Cultura. Não passam então de palavras ocas? O mundo terá de sempre ir torto? A miséria não se cura? A vida digna não é de todos? A usurpação dos bens, pelas minorias privilegiadas, a nova tirania e a nova escravatura são inevitáveis? Não nos resta mais que transigir? Afazermo-nos ao que nos impõem e ficar de bico calado? E aponta-se o fracasso de quem recusou conformar-se - de quem não se "reformou". E apontam-se outras vias: outro socialismo, "moderno" "actualizado". Actualizado? Mas, afinal, não mudaram de roupa os "reformistas" e não se mascararam de "socialistas" e venderam e vendem princípios ao preço do famoso prato de lentilhas? Não participam na recuperação do neo-liberalismo, duma sociedade desumana e aleijada (que o mal é um aleijão)? E temos de ir por aí? Capitulamos, amochamos, desistimos da própria dignidade?
 
3. Entre nós - por isso a questão nos interessa -, um "socialismo circense" adoça a cavalgada neo-liberalista e cava a fossa onde se enterra um povo. Apagou-se o Estado, que cedeu, diante de interesses privados. Esfumaram-se a segurança social, o ensino, a Cultura. E o trabalho, esse sim, passou a utopia - a quimera. Santo Antero (Eça dixit) revoltava-se, em carta a Oliveira Martins "Pobre Portugalório! (...) considerando o que espera esta pobre gente, que afinal é tão boa gente, sinto dor verdadeira. Mas o homem só aprende à sua custa - et voilà".
 

Manuel Poppe, in "O Outro Lado",

 Jornal de Notícias (14.OUT.2007) 

publicado por Elisabete às 11:44
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Terça-feira, 9 de Outubro de 2007

ERNESTO GUEVARA

 

El hombre tiene que forjar día a día su espíritu revolucionario.

 

 

ERNESTO GUEVARA [14 de Junho de 1928 - 9 de Outubro de 1967]

 

 

 

Querido Che,

 

Há 40 anos atrás, pensavam que, matando-te, morrias. Afinal... tornaram-te imortal.

E não só a ti. Tornaram imortais os teus ideiais de fraternidade, de igualdade, de que é preciso criar um mundo melhor.

Tenho a certeza que, lá onde possas estar, estás feliz. Porque, no país onde ajudaste a fazer a revolução, os médicos, como tu e como a tua filha que lá trabalha, têm ajudado muitas pessoas, com as mais variadas doenças, a curar-se ou a melhorar os seus males. Muitos são portugueses, sabias? E até o teu carrasco recuperou a visão graças aos médicos cubanos. Acredito que aprovas, porque um revolucionário usa, como vingança, o perdão e a bondade.

 

Um carinhoso abraço de alguém que te terá sempre como exemplo. 

publicado por Elisabete às 18:10
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Terça-feira, 2 de Outubro de 2007

António Lobo Antunes a nu na Visão

 

 

 

 Algumas das respostas que António Lobo Antunes dá, na entrevista da Visão, às perguntas de Sara Belo Luís são, para mim, um tanto inesperadas. Fiz uns apanhados das respostas que talvez ajudem a compreender melhor o homem por detrás do escritor. Aqui ficam.

 
"Sabe, este foi um ano muito duro para mim. Para além de ter recebido constantes lições de dignidade e de coragem por parte de pessoas anónimas, aprendi a ter ainda mais respeito e admiração pelos portugueses. Compreendi porque é que fomos nós a ir naqueles barquinhos de 14 metros sem quilha, porque é que atravessámos o Atlântico, porque é que fizemos o que fizemos. E fiquei muito orgulhoso quando percebi que o povo ainda é o mesmo. Fez-me lembrar aqueles versos de Sophia: «Esta gente cujo rosto/ Às vezes luminoso/ E outras vezes tosco/ Ora me lembra escravos/ Ora me lembra reis». Foi muito bom ter tido essa experiência."
[...]
"Aprendi a admirar as pessoas do meu País. E a respeitá-las ainda mais. E a amá-las ainda mais. E a gostar cada vez mais delas. A partir daí, tudo o resto se tornou relativo. Houve coisas que deixaram de ser importantes. E normalmente é quando elas deixam de ser importantes que vêm ter connosco... O que me interessa, neste momento, é poder ter tempo para escrever, viver o suficiente para conseguir acabar o meu trabalho sem decepcionar os que acreditam em mim. Surpreende-me todo este reconhecimento internacional porque, no fundo, só escrevo livros, o que não me dá um mérito por aí além... É apenas trabalho."
[...]
"Já não minto. Já não componho o perfil. Estou aqui diante de vós, nu e desfigurado. Porque a nudez desfigura sempre. Agora, jogo com as cartas abertas. Agora, jogo póquer com as cartas viradas para cima. Agora, já não há nada escondido, está tudo à vista. E ou a mão ganha ou perde. Nos livros, também já não há truques. São livros que não devem nada a ninguém. Não se nota ali a voz de ninguém, não há ali influência de qualquer outro autor. Nada. Zero. É a minha voz inteira. E a conquista da minha própria voz foi talvez o mais importante que me aconteceu. Não há ninguém a atravessar-se no meu caminho. Se não nos medimos com os melhores, não vale a pena medirmo-nos. Atingir as alturas de Tolstoi ou de Horácio é muito difícil, mas é aí que eu quero estar. E, ao mesmo tempo, isto tem-me permitido admirar o trabalho de outras pessoas que não considero grandes escritores..."
[...]
Tudo isto dá-me uma grande serenidade, porque olho para as coisas com mais distância. Estive muito perto da morte e palavra de honra que é muito mais fácil do que se imagina. A ideia pode angustiar-nos e apavorar-nos, mas quando se está mesmo ao pé dela é muito mais fácil do que se pensa. Lembre-se do que diz a última frase de Os Thibault, o grande romance de Roger Martin Du Gard: plus simples qu' on y pense, mais simples do que se pensa. E é, de facto, mais simples do que se pensa, menos assustador do que se pensa.”
[...]
No meu caso, fez com que se acabassem os disfarces, as máscaras, as meias-frases e as meias-tintas. Agora digo o que penso e o que sinto. Estou a falar com as cartas viradas para cima. E é a primeira vez que o faço. Não há nada escondido, não há nada na manga, não há truques nem tentativas de a impressionar e de a comover.
[...]
Porque, ao lado, vi pessoas que estavam muito piores que eu. Pessoas sem esperança, à espera da morte. As minhas hipóteses eram grandes e, por isso, às vezes, sinto-me culpado. Mas é verdade que me sinto mais livre, sinto-me muito mais livre. Livre para escrever, livre para viver, livre para amar. No outro dia, com os meus irmãos, disse ao João [o neurocirurgião João Lobo Antunes] que ele tinha escrito um texto muito bonito. E um deles comentou que nós não dizemos essas coisas uns aos outros. Eu agora digo, eu agora digo. E isso foi uma conquista porque, de repente, tornou-se evidente que esta é a única maneira de viver. Claro que tem que haver dignidade, e que não podem existir pieguices, mas acabaram-se as contenções. O meu avô morreu e, ainda hoje, sinto remorsos por não lhe ter dito que gostava muito dele.
[...]
Não tenho falsa nem verdadeira modéstia. Sou orgulhoso, não sou vaidoso. Para quê estar a jogar consigo? O que é que eu ganho? Acho graça à maneira como, nas entrevistas, as pessoas se tentam compor, se penteiam para arranjar o cabelo, ajeitam a gravata, retocam a maquilhagem. Para quê? Para seduzir? Para tentar que gostem delas? Para fazer boa figura perante os leitores? Tudo isso já me é completamente indiferente. É uma conquista recente, ganha com tudo aquilo por que passei. Estar aqui à sua frente é a única maneira de estar. E é a primeira vez que o faço.
[...]
Sentimento face à reacção dos leitores à Crónica do Hospital – “Não sabia que havia tanta gente que gostava de mim. [...] Senti que não merecia tanto afecto.”
[...]

"Sinto mais admiração por aquilo a que chamam pessoas comuns. Não existem pessoas comuns. Se temos a arte de fazer com que a alma do outro se abra, então, todas as pessoas são incomuns. Há uma riqueza extrema dentro de cada um de nós. É como nos livros. Ou sabemos tocar no mistério das coisas e, neste caso, o livro é bom. Ou não sabemos tocar no mistério das coisas e, pelo contrário, o livro é mau. Se Deus quiser, hei-de escrever mais alguns livros."

 
Mas para Lobo Antunes o que importa são os seus livros e não ele próprio. Vai levantando o véu do seu próximo trabalho: O Meu Nome é Legião.
 
“O livro refere-se a um bairro em concreto, embora eu nunca lá tenha estado. Sempre me impressionou o facto de aqueles miúdos não terem raízes de espécie alguma. Não são portugueses, não são africanos, não são nada. Brincam com balas em vez de brincarem com bolas. E no entanto há neles uma sede de ternura, um desejo de amor absolutamente inextinguível. A morte e a vida não têm, para eles, qualquer significado ou, pelo menos, têm um significado muito diferente do que para nós. Na minha ideia, O Meu Nome é Legião era por isso um livro de amor. De amor por uma geração, por uma classe social sozinha e abandonada, por um grupo de pessoas desesperadamente à procura de uma razão de existir.”
[...]
“Estão de tal maneira abandonados que matar pessoas é a única maneira que têm de pedir colo. Não sei, porém, o que se passa na realidade, uma palavra idiota porque a realidade é uma coisa que não existe. Todas aquelas pessoas têm, para mim, uma densidade muito profunda.”
[...]
“Não conheço aquela realidade do ponto de vista jornalístico.
Aquilo não é sequer um subúrbio. Para mim, o subúrbio é Benfica ou o Cacém. Aquilo é muito pior do que isso. Aquilo é o inferno. Aquelas pessoas vivem num inferno onde eu nunca entrei.”
[...]
“Não sei se os leitores entenderão que o livro está a transbordar de amor. Custou-me muito que aquelas personagens morressem. Repare que até o professor não é muito diferente dos garotos - todos estão terrivelmente desamparados. Sempre me comoveu ver o desamparo em que as pessoas vivem. Acho que esta dimensão nunca foi suficientemente notada nos meus livros. Vivemos num certo desamparo, numa certa desprotecção.” 
 
Bom regresso, António!
publicado por Elisabete às 00:32
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