Segunda-feira, 12 de Novembro de 2007

Ilha do Pessegueiro

 

 

PORTO CÔVO
 
Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente
Ouvindo um rouxinol na redondeza
No calmo improviso do poente
 
Em baixo fogos trémulos nas tendas
Ao largo as águas brilham como pratas
E a brisa vai contando velhas lendas
De portos e baías de piratas
 
REFRÃO:
Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem por amor se matou novo
Aqui no lugar de Porto Côvo
 
A lua já desceu sobre esta paz
E reina sobre todo este luzeiro
À volta toda a vida se compraz
Enquanto um sargo assa no braseiro
 
Ao longe a cidadela dum navio
Acende-se no mar como um desejo
Por trás de mim o bafo do estio
Devolve-me à lembrança o Alentejo
 
REFRÃO
 
Roendo uma laranja na falésia
Olhando à minha frente o azul escuro
Podia ser um peixe na maré
Nadando sem passado nem futuro
 
**********
Letra: Carlos Tê

Música: Rui Veloso

publicado por Elisabete às 15:11
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Domingo, 4 de Novembro de 2007

Luar de Janeiro

 

 

O cão é um animal muito interessante! Devora as toxinas deixadas por aqueles que nos desiludiram e transforma-as nas qualidades que podem interessar ao seu dono. É subserviente e nisso satisfaz inteiramente aos autoritários; é resignado e com isso alivia de preocupações aqueles que não gostam de se preocupar com os outros; é fiel sem exigir reciprocidades; é dedicado e resiste a todos os cepticismos que lhe pode dar o objecto da sua dedicação...” [...]
Realmente, o cão é um bicho muito curioso... Mas não julgues que te podes reconciliar inteiramente com o reino animal através do cão que os homens acabam por comprar... É certo que o nosso cão nos devolve em afecto os pontapés que lhe damos... Mas os cães também têm os seus defeitos originários. O teu cão não te morderá, mas todos os outros cães poderão morder-te. E há cães que são tão rebeldes como os homens...”
Ferreira de Castro, A Curva da Estrada

 

  

 

Quando criei este blogue, dei-lhe um nome que, para mim, tem várias conotações. Cada uma das palavra tem algo a ver com a minha vida. E “Luar de Janeiro” foi o nome que demos a uma cadelinha que comprámos, com quase dois meses, na Serra da Estrela, precisamente no início duma noite de passagem de ano. Na verdade, ela é que nos escolheu. Quando chegámos à Torre, começava a escurecer e nevava. Um homem tinha num cesto, creio que três, cãezinhos para vender. A família há muito que desejava um cão; eu, tenho de confessar, não me sentia muito atraída. Já só havia cadelas e... era um cão que pretendiam. Só uma delas tinha pêlo castanho dourado. Linda! Peguei nela. “A sabida” enfiou logo o nariz frio por debaixo do meu casaco quente. O fim da história é o esperado: não fui capaz de opor mais resistência. Veio connosco e nunca foi, para nós, um “animal de estimação”; foi mais uma espécie de “irmã pequenina” para o G. e para a M.
Já morreu, mas não a esquecemos. É dela a fotografia do perfil.
Ao ler as palavras acima, do meu querido Ferreira de Castro, numa das poucas obras dele que ainda não conhecia, apeteceu-me discordar da maneira como vê o cão, e que é, aliás, a mais comum. A Luar não era subserviente nem resignada. Era uma cadela cheia de personalidade e que, só muito dificilmente, fazia aquilo que não queria. Fiel sim, era. Só que a sua fidelidade era a consequência do muito que de nós gostava. Ficava triste se me sentia triste; sentava-se, virada para a porta da rua, quando via que me preparava para sair e, se eu olhava para ela, virava o focinho para o lado, zangada, e lá tinha eu de disfarçar, dando a entender que não ia sair, para poder escapulir-me sem aquele olhar triste sobre mim; num tempo em que tive de permanecer ausente de casa por períodos longos, amuava e, só algum tempo depois da minha chagada, se dignava dar pela minha presença; parece que só se sentia completamente bem quando toda a família se encontrava em casa.
A afectividade que os cães desenvolvem, sobretudo se vivem sempre perto das pessoas, é tão extraordinária que nos recusamos a acreditar que seja verdadeira. Por isso os comparamos a bajuladores fiéis, moles e burros.
A “minha” Luar de Janeiro era linda, meiga, inteligente e não tenho a mínima dúvida de que sentia, por nós, um amor verdadeiro e do tamanho do Mundo.
 
publicado por Elisabete às 17:37
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