Quinta-feira, 30 de Outubro de 2008

REVOLTA necessária e possível

 

 

Tenho de confessar que, apesar das muitas tentativas feitas nos últimos meses, não tenho conseguido escrever acerca de Educação ou de Professores.

Depois do acordo, agora recusado pelos Sindicatos, feito com o Ministério da Educação, que mais posso dizer?
 
Os problemas estão mais do que diagnosticados:
 
1. Modelos de avaliação tenebrosos (dos Professores e dos Alunos), impingidos como mezinhas milagreiras, que não vão resolver coisa nenhuma. Pelo contrário, vão impedir o professor de “ser professor”, transformando-o num burocrata infeliz e afogado em papelada inútil.
 
2. Um Ensino sem qualidade, que não preocupa a Ministra nem o Governo. Ter os meninos dentro das Escolas para que as estatísticas (falsificadas por falta de exigência e facilidades várias) mascarem a realidade dum país de analfabetos funcionais, basta-lhes.
 
Para conseguirem mostrar um paraíso irreal e inconsistente, lançaram-se mão de técnicas de marketing várias, como as abundantemente usadas no início do ano lectivo. Distribuem “Magalhães”, afirmam que está tudo “a correr sobre rodas” e o Zé Povinho… acredita.
 
Mas o que verdadeiramente interessa, à D. Maria de Lurdes, é domesticar esses bandidos dos professores. Por isso, quer transformá-los em rebanho, dócil e obediente, de ovelhas patetas e sem miolos que concordem com tudo o que sai dos gabinetes iluminados do ME. Só que os rebanhos têm de ter guias, os cães de fila que os empurrem para o carreiro. Vai daí, inventaram-se os Professores Titulares para fazer esse serviço, ajudados por alguns Executivos que já vão vergando a cerviz. Claro que quem não aceitou o cargo, por não se sentir psicologicamente capaz de aguentar tal desvario, foi punido: não progride na carreira. Acredito que qualquer professor decente (que é sem dúvida a maioria) se sinta infeliz e revoltado por ter de aceitar um cargo que não desejou e a que não reconhece utilidade nem bondade. Infelizmente, há sempre uns quantos videirinhos capazes de tudo para trepar ou ganhar mais uns dinheiritos.
 
Vejam bem a aberração: Nas escolas em que, por qualquer motivo, os lugares de Professor Titular não estão totalmente preenchidos, nomeiam-se Professores que, não apresentando os requisitos necessários, passam, todavia, a auferir de um vencimento mais elevado enquanto durar essa “comissão de serviço”. Já se está a ver aonde isto vai levar…
Nesta fase de restrição de gastos, diminui-se os tempos lectivos das disciplinas, reduz-se o número de professores, mas para cargos dispensáveis e aberrantes o dinheiro aparece. Porque o que é preciso é “avaliar” o trabalho do Professores (mesmo o daqueles que o são há décadas), ao mesmo tempo que se procura desvalorizar a avaliação do trabalho e dos resultados dos alunos.
 
Aumenta-se a escolaridade obrigatória (e querem aumentá-la de mais dois anos), mas isso não significa melhor preparação ou maior grau de instrução dos alunos. As elites formar-se-ão no privado. É o neoliberalismo aplicado à Educação. Será que ainda não se aperceberam da falência do sistema?
 
Para os meus colegas Professores, um apelo:
 
Não podemos deixar que nos transformem em ovelhas ou cães de fila obedientes e acríticos. A Ministra da Educação e seus acólitos do ME não são nem mais instruídos, nem mais cultos e têm, seguramente, menos experiência e conhecimento destas matérias do que nós. Não deixemos que nos inferiorizem, que nos passem atestados de menoridade.
 
A REVOLTA é possível e democrática. É preciso, de uma vez por todas e pelas mais variadas formas, dizer NÃO!
 
P.S. Precisam que lhes lembre a história daquele pai que, estando a morrer, chamou os filhos e os mandou partir um feixe de varas de vime?
 
A UNIÃO FAZ A FORÇA! O povo sabe o que diz.

 

publicado por Elisabete às 16:48
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Segunda-feira, 27 de Outubro de 2008

GUARDA: imagens de hoje... memórias de outrora

 

Na sagrada Beira
 
A Guarda contaria então (finais de 40, princípios de 50) uns dez mil habitantes: o liceu, o seminário, o colégio dos padres (o Rocha), o quartel, o sanatório, o tribunal. Ultra-conservadora,fechada, atenta à correcção dos desvios, à rotina cinzenta, caiu-me em cima e apertou-me. “De pequenino se torce o pepino”, diz o povo. Talvez; mas há pepinos que custam a torcer e há-os os que nunca se deixam torcer… Na Guarda daquele tempo, a cultura limitava-se à Biblioteca Municipal e à papelaria do Sr. Casimiro. Graças a ele, tive acesso, sem que ninguém me aconselhasse, às primeiras leituras de Thomas Mann, Proust, Steinbeck, Gogol, Somerset Maugham, Romain Rolland; e de André Gide, para escândalo dos meus professores do Rocha. Li-os nas saudosas colecções “Miniatura” e “Os Livros das Três Abelhas”, nos “Livre de Poche”.
O “escândalo” de privar com Gide, que não chegou a dar-se, merece um aparte simpático: ia eu a sair da papelaria do Casimiro, todo ufano, numa tarde do Inverno de 1953, com La Symphonie Pastorale, debaixo do braço, na capa uma linda Michèle Morgan, e esbarro com o meu professor de francês, o Padre Manuel Cabral, que arregalou os olhos para o livro. Sorriu, embaraçado, e não comentou; nem ali, nem na escola, apesar da Opera omnia Andreae Gide constar, desde 24 de Maio de 1952, (decisão muito recente…), do tenebroso Index librorum prohibitorum do Vaticano. Devo-lhe essa cumplicidade – e devo-a, com certeza, à sua inteligência e sensibilidade, qualidades raras no tal colégio.
Museu
 
Na Biblioteca Municipal, uma outra figura singular, extraordinária naquele meio estreito, o Padre Pôpo, o director, ajudou-me, deixando-me levar para casa os autores que eu queria, não cuidando da minha idade – descuido precioso -, fechando os olhos e, até mesmo, estimulando a minha curiosidade e a minha sede de entrar no mundo mítico da literatura. Quanto me apoiou a sua compreensão! Li Tolstoi, Feodor Sologub (A Loucura de Peredonov, na Inquérito), Raúl Brandão, Alexandre Dumas (A Rainha Margot, que me pai me escolheu, para ajudar a passar a convalescença de uma pequena intervenção cirúrgica), os primeiros romances de Dostoievski.
Anos mais tarde, reformado o Padre Pôpo, nomearam um ex-universitário coimbrão, da fina flor ultramontana, arranjadinho, esterilizado, de risca ao lado e óculos, esticadinho, cor de mortalha, que me proibiu de levar para casa O Contrato Social,de Rousseau. Onde terá ido parar esse idiota?
Casas da Praça Luís Vaz de Camões
(também Largo da Sé ou Praça Velha)
 
Havia, ainda, o Cine-Teatro. Ali pude ver, entre outras obras, Europa 51, de Rossellini, Luzes da Ribalta, de Chaplin, O Terceiro Homem, de Carol Reed, La Carrozza d’Oro, de Jean Renoir, no meio dos dramalhões com a bela e doce Maria Schell, que punha em pranto a plateia e me encheu os primeiros sonhos da adolescência, ou dos melodramas com o galã de serviço, Amadeo Nazzari a apostrofar a filha apaixonada: “Vatene donna, questa casa non è più la tua!” (a primeira frase que aprendi a dizer em italiano).
A obra-prima de Renoir merece, também, um aparte, que ajude a compreender o mundo em que vivia: ao intervalo – os filmes tinham um intervalo -, eu saí alvoroçado, entusiasmado, certo de assistir a um espectáculo superior. Certo? Desconfiado – porque tudo aquilo ia contra a mentalidade da cidade, contra os princípios que tentavam impor-me – de solidariedade. Qual apoio, qual solidariedade! Os comentários eram negativos e de troça. Tive de arranjar força para não desistir da minha admiração. E fui começando a aprender a ter opiniões próprias, a arriscar-me a não compartilhar as dos outros. Gide, ao longo da vida, reforçaria a minha ideia de que o “consenso” é, sempre, perigoso e redutor – e, as mais das vezes, é consentimento e desistência, medo e covardia.
Na Praça Velha, a Lareira dos Pobres
 
No Cine-Teatro ri, com Vasco Santana, no Daqui fala o morto e ouviosmonólogos intermináveis de Alves da Cunha, numa peça triste. Lembro-me de um casal, na primeira fila, desconhecido e deslocado, provavelmente vindos de fora, ela de vestido preto e colar de pérolas, ele de fato azul escuro e gravata vermelha de seda, que se levantavam para aplaudir freneticamente cada tirada. E olhavam à roda, com ar de desafio, exibindo a sua superioridade intelectual perante uma plateia pasmada e incrédula. Continuo a vê-los, obsoletos, como me pareciam Alves da Cunha e a peça. Impressionaram-me – apesar do anacronismo a que já me habituara e ao qual reagia como podia. Devo reconhecer, no entanto, que a programação do Cine-Teatro não era nada má. O proprietário, Júlio Xavier, distinguia-se, aliás, naquele mundo insípido (e, no entanto, cheio de subterrâneos onde fervia a vida), pelo carácter original e irreverente.
Não quero ser injusto: nem o meio era insípido, nem a solidariedade faltava. Não encontraria, com certeza, um adolescente rebelde o sal e o apoio junto daqueles que ali mandavam. Esses viviam num círculo interdito aos jovens ainda jovens: ainda capazes de contestarem a vida surda, parda, resignada. Mas encontrava-os – e encontrei-os – em camaradas da mesma luta, do mesmo inconformismo. E valeu a pena – agradeço ao monte perdido da sagrada Beira o combate a que me obrigou e quanto me deu.
 
Manuel Poppe, Memórias, José Régio e Outros Escritores
publicado por Elisabete às 21:31
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Quinta-feira, 23 de Outubro de 2008

Torga e o Piódão

 

Piódão, 7 de Abril de 1991

 

Com o protesto do corpo doente pelos safanões tormentosos da longa caminhada, vim aqui despedir-me do Portugal primevo. Já o fiz das outras imagens da sua configuração adulta. Faltava-me esta do ovo embrionário.

 

Miguel Torga

 

 

 

publicado por Elisabete às 08:53
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Segunda-feira, 13 de Outubro de 2008

Palavras de poeta...

 

 

Hoje é que vejo o meu erro,
o absurdo de me não contentar com meias medidas.
De exigir o absoluto a naturezas relativas.
 

Miguel Torga

 

publicado por Elisabete às 21:20
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Sábado, 11 de Outubro de 2008

Progresso?...

 

[…]
- Como é que te sentes, no ano 2000?
Assustado, respondo-lhe.
Sim, assustado. Estou a lembrar-me de um dos livros do velho Salgari, que li quando era puto, As Maravilhas do Ano 2000. Dois amigos fazem-se congelar em 1900 e são reactivados no fim do século – neste ano que hoje começou: a princípio, ficam maravilhados com as mudanças, com os progressos da ciência e da técnica, mas depois descobrem-se incapazes de se integrar numa sociedade que lhes é totalmente estranha e acabam por enlouquecer… começo a compreendê-los, João Carlos. Este nosso admirável mundo novo, reconheço-o cada vez menos, sinto-o cada vez mais estranho, mais agressivo, mais sem alma. E sinto-me cada vez menos capaz de funcionar, de operar neste mundo.
[…] apesar de tudo, fizemos grandes progressos sociais, científicos e técnicos. E é verdade. Mas fizemos retrocessos espirituais.
[…]
- A globalização tem sido uma barraca trágica e desonesta, ainda por cima. A moral, bem, a moral, essa é uma questão cada vez mais ambígua.
[…]
 
João Aguiar, in “A Catedral Verde”
 
 

publicado por Elisabete às 22:42
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Quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

O dia em que nasci

 
 
Entrei neste louco planeta Terra às 9 horas dum quente domingo de Agosto. A 2ª Guerra Mundial tinha terminado há 4 anos; a Batalha de Aljubarrota celebrava o seu 574º aniversário; na recém-criada República Federal Alemã, realizavam-se eleições que conduziram Konrad Adenauer ao cargo de chanceler.
Claro que nada lembro desse dia… Só mais tarde soube que estava na pequena cidade minhota de Barcelos. Aí, nas margens do Cávado, me acolheu a família, já composta de cinco elementos. Fui a última de quatro irmãos.
Calculo que tenha provocado algum rebuliço e alegria. Todos à minha volta para verem a menina… “Ai, que é a cara chapada do pai!
Devo ter chorado… chorado… (Já adivinhava o que isto era!), dado que a minha irmã mais velha teve de ir à farmácia comprar uma chupeta para a bebé. Pelo caminho, dizia a toda a gente que tinha uma nova irmã muito bonita (Este é o relato que ela faz, não sou eu que digo).
Penso que todos nós temos alguma curiosidade acerca do dia em que nascemos. O que e quem encontrámos… que factos relevantes acompanharam o nosso alfa… o que representou, para a família, a nossa entrada neste mundo e nas suas vidas?
E o que é que tudo isto tem a ver com a fotografia dum carro antigo?
Tem a ver que esse objecto, ainda mais ou menos raro na época, impediu que eu fosse a única vedeta no dia em que nasci. Ele é meu irmão gémeo. Foi, precisamente nesse domingo, que o meu avô Custódio se deslocou, de Barcelos ao Porto, a buscar o seu primeiro e único automóvel.
Por morte do avô, quando eu tinha 6 anos, este Vauxhall fez parte da herança de uma das minhas tias. Ficou ainda muito tempo na família e levou a minha irmã Geninha ao altar, em Março de 1965. Tinha eu 15 anos e esta fotografia (aqui só um pedaço)foi tirada nesse dia. Agora que estou velhota, comecei a desenterrar o passado e achei este tesouro.
Como se vê, foi-me acompanhando ao longo da vida.
Ainda hoje pergunto, a mim mesma, quem foi a grande sensação desse domingo quente de Agosto: eu ou o AG-12-42?
publicado por Elisabete às 23:09
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Terça-feira, 7 de Outubro de 2008

O Rei Trovador

 

Non chegou, madr’, o meu amigo,
e hoj’ est’ o prazo saído!
Ai, madre, moiro d’amor!
 
Non chegou, madr’, o meu amado,
e hoj’ est’ o prazo passado!
Ai, madre, moiro d’amor!
 
E hoj’ est’ o prazo saído!
Porque mentiu o desmentido?
Ai, madre, moiro d’amor!
 
E hoj’ est’ o prazo passado!
Porque mentiu o perjurado?
Ai, madre, moiro d’amor!
 
Porque mentiu o desmentido?
Pesa-mi, pois per si é falido.
Ai, madre, moiro d’amor!
 
Porque mentiu o perjurado?
Pesa-mi, pois mentiu a seu grado.
Ai, madre, moiro d’amor!
 

Cantiga de amigo do rei D. Dinis

 

D. Dinis

[1279-1325]

 

6º rei de Portugal, filho de D. Afonso III  e

pai de D. Afonso IV.

Foi casado com D. Isabel de Aragão [Rainha Santa Isabel].

Fundou a 1ª Universidade portuguesa [o Estudo Geral], em

Lisboa e que, mais tarde, transferiu para Coimbra.

Tornou obrigatório o uso da Língua Portuguesa,

nos documentos oficiais. Antes, era utilizado o latim.

 

*****

Cantigas de amigo [lirismo amoroso feminino]: surgem quando os trovadores dão forma escrita, em galaico-português, a uma poesia de origem popular, já existente. É uma poesia simples destinada a ser cantada e dançada.

 

 

publicado por Elisabete às 21:28
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Domingo, 5 de Outubro de 2008

Renúncia conformada

 

 Maria Clara

 
De maneira lenta mas segura, Maria Clara viera realizando um grande progresso: renunciara à felicidade. Ser feliz, não ser feliz, - como ser legítimo, ou não, passar-se com ela o que se passava – eis questões que, pouco a pouco, haviam deixado de se lhe apresentar à consciência; ou à semiconsciência que, na maior parte das vezes, era a sua. Todo o seu actual empenho se reduzia a ir passando os dias sem novidade de maior. Isto é: sem que explodisse qualquer cena com Joaquim. Para isso tinha Maria Clara de exercer uma vigilância cada vez mais hábil (em que sempre se apurara) não já só sobre os seus próprios gestos, palavras, impulsos, como sobre os do marido. Da interpretação destes, que muitas vezes eram enigmáticos ou dúbios, dependia o tom, a maneira, como devia responder ela própria, como se devia ela própria comportar. Assim, dia a dia, viera perdendo o melhor da sua antiga espontaneidade. Também da sua antiga alegria e frescura. Muito aprendera, em compensação; muitas coisas pequenas que lhe poderiam servir a evitar, ou rodear, grandes desgraças. Não era de admirar que estivesse mais inteligente!, como não pudera deixar de notar o próprio Joaquim.
Alegria..., - mas já, actualmente, lhe era uma alegria sacudir aquela timidez, aquele temor, aquele constrangimento ou fingimento em que, no geral, se mantinha perante o marido: atitude por vezes penosa que já, então, desejava o momento de o ver sair. Já libertar-se da sua presença lhe era, certos dias, um alívio! Já conversar livremente com a mulher dos recados, ou ouvir a senhora Rosa Venâncio e dar-lhe trela, ou entreter-se com os arranjos quotidianos da casa (esperando vagamente que o Joaquim voltasse de melhor sombra) se lhe tornara uma felicidade. Relativa, sem dúvida. Porque talvez, em verdade, não seja de todo rigoroso dizer-se que Maria Clara renunciara à felicidade. Quem lhe renuncia? E então ela, Maria Clara!... Só a noção – antes o sentimento – de felicidade se lhe estreitara ou empobrecera muito; e quase toda a sua grande luta não era agora senão pela conquista dum certo sossego, ou dumas pequenas felicidades provisórias e domésticas, circunstanciais, que dantes lhe parecia nada terem com a felicidade, mais não sendo que uma espécie de zona neutra quotidiana. Ia sempre envelhecendo, pois. Já cada vez se contentava com menos, tendo aprendido a conformar-se. Isto é: tendo aprendido que, geralmente, não passa o nosso bem-estar dum breve descanso do mal-estar já normal, (isto era o que se passava com ela): um fugidio intervalo entre receio e receio, pesar e pesar, angústia e angústia. Seria virtude, - tal conformação? Como, por vezes, em momentos de mais vivo desespero, lhe viam ainda sobressaltos de revolta, vagamente se lhe pusera à consciência (ou à semiconsciência que, na maior parte das vezes, era a sua) tal interrogação. E depois desistia de pensar, de consultar, e recaía nessa mesma conformação já parecida com um hábito.
 
José Régio, A Velha Casa III

 

publicado por Elisabete às 15:21
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