Sábado, 28 de Fevereiro de 2009

SONHOS...

 

 

Tudo quanto Sonhei se Foi Perdido

 

O que sonhei e antes de vivido
Era perfeito e lúcido e divino,
Tudo quanto sonhei se foi perdido
Nas ondas caprichosas do destino.

Que os fados em mim mesmo depuseram
Razões de ser e de não ser, contrárias,
Nas emoções que, dentro em mim, cresceram
Tumultuosas, carinhosas, várias.

Naqueles seres que fui dentro de um ser,
Que viveram de mais para eu viver
A minha vida luminosa e calma,

Se desdobraram gestos de menino
E rudes arremedos de assassino.
Foram almas de mais numa só alma.


Francisco Bugalho, in "Dispersos e Inéditos"
publicado por Elisabete às 22:05
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Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2009

À beira do fim...

publicado por Elisabete às 00:17
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Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2009

Tudo cai! Tudo tomba!

 

Tudo cai! Tudo tomba! Derrocada
Pavorosa! Não sei onde era dantes
Meu solar, meus palácios, meus mirantes!
Não sei de nada, Deus, não sei de nada!
 
Passa em tropel febril a cavalgada
Das paixões e loucuras triunfantes!
Rasgam-se as sedas, quebram-se os diamantes!
Não tenho nada, Deus, não tenho nada!
 
Pesadelos de insónia ébrios de anseio!
Loucura a esboçar-se, a anoitecer
Cada vez mais as trevas do meu seio!
 
Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a rir dentro da minha!...
 
 
                                          Florbela Espanca, in “À Margem dum Soneto”
publicado por Elisabete às 21:07
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Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009

pontos de vista... ESCLARECEDORES!!!!!!!!!

 

 

 

Sem comentários!

 

publicado por Elisabete às 12:26
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Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

as AGRURAS do AMOR

    

 

Dez dias depois de casado com Josefina (viúva do general de Beauharnais, e com quem mantivera uma curta ligação), Napoleão é enviado para Itália à cabeça dos exércitos. Aí se revelará, e principiará de maneira fulgurante, decisiva, a sua verdadeira ascensão. Entretanto, perturbado pela lua-de-mel interrompida, escreve à mulher, que deixou sozinha em Paris. E aqui revela aquilo em que terá sido igual a qualquer homem sensível, com as suas raivas, os seus pavores e seus temores, capaz de ser abalado pela dúvida ou pela saudade, como qualquer amoroso comum.
 
Carta de Napoleão para Josefina
 
Não passo um dia sem te desejar, nem uma noite sem te apertar nos meus braços; não tomo uma chávena de chá sem amaldiçoar a glória e a ambição que me mantém afastado da vida da minha vida. No meio das mais sérias tarefas, enquanto percorro o campo à frente das tropas, só a minha adorada Josefina me ocupa o espírito e o coração, absorvendo-me por completo o pensamento. Se me afasto de ti com a rapidez da torrente do Ródano, é para tornar a ver-te o mais cedo possível. Se me levanto a meio da noite para trabalhar, é no intuito de abreviar a tua vinda, minha amada.
E, no entanto, na tua carta de 23, tratas-me na terceira pessoa, por senhor! Que mazinha! Como pudeste escrever-me uma carta tão fria? E depois, entre 23 e 26 medeiam quatro dias: que andaste tu a fazer, por que não escreveste a teu marido?... Ah, minha amiga, aquele tratamento de “senhor” e os quatro dias de silêncio levam-me a recordar com saudade a minha antiga indiferença. (…) Isto é pior do que todos os suplícios do Inferno. Se logo deixaste de me tratar por tu, que será então dentro de quinze dias?! Sinto uma profunda tristeza, e assusta-me verificar a que ponto está rendido o meu coração. Já me queres menos, um dia deixarás de me querer completamente, mas avisa-me, então. Saberei merecer a felicidade…
Adeus, mulher, tormento, felicidade, esperança da minha vida, que eu amo, que eu temo, que me inspira os sentimentos mais ternos e naturais, tanto como me provoca ímpetos mais vulcânicos do que o trovão. Não te peço amor eterno nem fidelidade, apenas verdade e uma franqueza sem limites. No dia em que disseres: “Quero-te menos”, será o último dia do amor. Se o meu coração atingisse a baixeza de poder continuar a amar sem ser amado, trincá-lo-ia com os dentes.
Josefina: lembra-te do que te disse algumas vezes: a natureza fez-me a alma forte e decidida. A ti, fez-te de rendas e de tule. Deixaste ou não de me querer? Perdão, amor da minha vida. A minha alma está neste momento dividida em várias direcções e combinações, e o coração, só em ti ocupado, enche-se de receios…
Enfada-me não te chamar pelo teu nome, mas espero que sejas tu a escrevê-lo.
Adeus. Ah, se me amas menos, é porque nunca me amaste. Tornar-me-ias então digno de lástima.
 
Napoleão
 
P.S. A guerra este ano está irreconhecível. Mandei distribuir carne, pão e forragens à minha cavalaria prestes a pôr-se em marcha. Os meus soldados patenteiam-me tal confiança que não tenho palavras para descrever-te. Só tu me causas desgostos. Só tu, alegria e tormento da minha vida. Um beijo aos teus filhos, de quem não me dás notícias. Ai, não! – levar-te-ia a escrever o dobro, e as visitas das dez da manhã não teriam o prazer de te ver. Mulher!!!
 
publicado por Elisabete às 15:06
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Quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2009

Estratégias do Vento - IV

 

Nem sempre o vento chicoteia os pomos
Arrepiando a pele dos frutos sasonados,
Nem sempre queima as folhas e as flores
Deixando as raízes nuas descarnadas.
 
Às vezes corre manso pelas messes
Em vagas sucessivas de carícias
Como quem percorre um corpo de mulher
Que oscila e vibra em ondas de volúpia.
 
O vento é neste caso um violino
Percutido pelo arco de um poeta
Que transforma a dor sofrida em alegria.
 
E assim o vento muda a sua forma
De violador de esperanças e de sonhos
E boceja espreguiçado nestes versos.
 
 
 
Manuel Madeira, À Descoberta das Causas

no Sortilégio dos Efeitos [Janeiro-2009]

publicado por Elisabete às 17:13
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Quinta-feira, 5 de Fevereiro de 2009

O ministro TRAULITEIRO

publicado por Elisabete às 22:15
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DUNAS

 

Mais do que destas casas e destas ruas, sou das dunas de Fão. (Fão é como chamo carinhosamente àquela extensão de areias e dunas altas – agora a praia, tão longe já da que foi minha, tem outro nome, um nome de hotel, ou de agência funerária, ou de bordel, um nome destinado a atrair gente, dinheiro, lixo: Ofir.) Quando, há muitos anos, o Eduardo, o Ernesto e eu deixámos as bicicletas no posto da Guarda-Fiscal e, passadas duas ou três barracas aonde os lavradores de Fonte Boa arrecadavam o sargaço, entrámos, ainda manhã cedo, pelas dunas desertas, e os pés já sem sandálias corriam na alegria da brisa ligeira, senti que pisava pela primeira vez a terra prometida. Durante alguns anos, a minha pátria foi estas dunas, o mar dos meus primeiros poemas foi este mar, e a eternidade, que Shakespeare diz ter morada nos lábios de António e Cleópatra, brincava comigo naquelas areias, corria à solta naquelas vagas.
 
*
O mar de Lisboa, melhor, as praias da Caparica ou da linha do Estoril, onde no verão aos domingos ia com a minha mãe, e mais tarde com amigos, nada têm de comum com as dunas de Fão. Nenhum Tamariz, nenhuma Granja levava ao deserto, e era exactamente ao deserto que levavam as dunas de Fão. Ali o espaço não fora ainda ferido; era por assim dizer um espaço sagrado, como todo o lugar onde nos sentimos inteiros.
 
*
Depois do primeiro banho, numa corrida em pêlo para a água, regressávamos às dunas, aos livros. Estendidos na areia, era sobre o nosso corpo que a manhã se levantava. Ao longe avistava-se às vezes um lavrador a espalhar o sargaço; mais raramente, e mais longe ainda, um barco. Só as gaivotas e os juncos e os cardos eram próximos e conviventes. E uns pequenos lírios brancos, que devem ter um nome latino, e uma família, e um país de origem, como o limoeiro, a alfazema.
 
*
 A Ilíada, Song of Myself, À la Recherche du Temps Perdu, Os Pescadores, A Morte em Veneza, são leituras desses dias – como esquecê-las? Também às dunas de Fão, como imagem sua mais delicada, ficaram ligados no meu espírito quatro versos de Pessoa, que são dos raros a manifestar a inquietante presença do filho de Afrodite:
 
Seus altos seios parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.
 
*
Sei doutras dunas, em Miramar, em Moledo, em Mira, no Guincho, que têm, em certas manhãs soalheiras e limpas de inverno (mas só de inverno), um ar íntimo de pátio meridional; mas agora chegou a vez de falar dessa aspereza salgada e tão avassaladora que poderia rebentar-nos as represas do próprio coração; é altura de falar das dunas de Narbonne (onde chegámos cansados da viagem numa tarde de Junho), com a sua vegetação cerradinha e rasteira, rompendo duma terra magra, abrasada e despovoada. A solidão descia pelas falésias, enquanto o rechinar das cigarras subia a prumo, tornando-se mais nítido à medida que a luz esmorece, antes de se despenhar, para morrer, no mais latino de todos os mares. Agora, toda a música da terra era em nós que se refugiava. “A vida seria insuportável sem momentos assim”, diz a Maria Agustina. Depois ficámos ambos para ali sentados, as mãos indolentes sobre os joelhos, sem barcos para contemplar porque nenhum passava, sem palavras para dizer porque nos sabíamos irmãos do silêncio, na esperança de que viesse a noite e nos tornasse de pedra.
 

Fão: também por lá andava, em 5 de Maio de 1973

 

*
Além de Fão e de Narbonne, há outras dunas de que vou falar com alguma nostalgia. Eu contava encontrá-las na costa do Pacífico (nunca dei por elas na Grécia, nem na Riviera, nem no Cantábrico), mas foi onde as não esperava que me surgiram: nas praias de Long Island, não muito longe de Manhattan, sobre esse oceano para o qual temos quase por condição o rosto virado e o coração aberto. Era outra vez inverno, era outra vez uma dessas manhãs lisas de lucidez total, e era pela mão do Alexis que ali chegava. Nunca ouvira falar destas praias, talvez porque raramente são procuradas em Novembro ou Dezembro, e só nesta época elas são assim: imensas, lavadas e desertas. A sua beleza começa antes de avistarmos o mar, a estrada vai-se metendo por terrenos arenosos donde emergem uns pinheiros crespos e atarracados. Aos poucos, as dunas começam a aparecer na sua glória, e depois o mar, que se afastara para deixar à vista um areal sem fim, pejado dessas coisas frágeis que, por toda a parte, as marés dão à costa. E longe, mas vindo ao nosso encontro, a silhueta duma mulher esgalgada enrolada num cachecol e um galgo mais elegante ainda à sua frente, caminham na orla da água e na minha memória. Aos nomes de Melville e de Whitman, cujas casas vinha de visitar em Arrowhead e Camden, à imagem de felicidade que são os esquilos por toda a parte onde, na América, há duas árvores com folha e uns metros de relvado, quero juntar o nome destas dunas, destas areias de Jones Beach, em Long Island, não muito longe de Nova York. Mas não esqueçam que só no inverno é possível vê-las estalar de beleza, como romãs maduras.
 
*
Vêm de longe, as cabras, dessa infância na Beira Baixa, e é sempre uma alegria voltar a encontrá-las. Ainda recentemente descobri uma, branca como alva de sacerdote, nos campos de Rio Tinto. De vez em quando vou vê-la, e embora não dê ainda pelo nome, chamo-lhe Maltesa, em homenagem a outra mais antiga e mais bárbara, que sustentou com as tetas macias os meus primeiros anos. Estas que vemos por aqui nas dunas de Merzouga, em pleno Sahara, são negras. Negras e magras, as tetas pouco fartas, ou mesmo secas. Secas são também as carnes do pastor que, embora tivesse dado abrigo ao sol escaldante e às estrelas glaciais, nunca conseguiu para si o apaziguador olhar das cabras, que apascentava desde garoto. Em redor não se vê folha verde, contudo um oásis breve, um simples dedo de sombra, insinua-se no ar.
A cabra é um animal solar, e nem todas são negras, como sabeis.
 
*
Há cidades que nos cativam pelo odor, Marraquexe é uma delas: cheira a cavalos e a hortelã. E depois, o ocre rosado dos muros, a respiração do deserto entrando com a aurora por janelas abertas sobre palmares, a que se junta a sinuosa voz do muezim, ajudam, e muito, à sedução. Se usássemos de liberdade nas nossas opções, talvez escolhesse esta cidade para viver, e esta gente sem metafísica nem hesitações para convívio, pesando por certo na escolha essa voz nupcial, que ressoa ainda nos meus ouvidos, que me chama para continuarmos a viagem interrompida, que de Meknés me levou a Beni Mellal e daqui ao limiar do mais fascinante dos labirintos, onde iria ser perseguido pelas palavras que Saint-John Perse ouviu a um monge mongol: “O homem nasce em casa, mas morre no deserto…”
 

Eugénio de Andrade, À Sombra da Memória

publicado por Elisabete às 15:38
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