Quinta-feira, 31 de Dezembro de 2009
Quinta-feira, 24 de Dezembro de 2009
Natal
Hoje é dia de Natal.
O jornal fala dos pobres
em letras grandes e pretas,
traz versos e historietas
e desenhos bonitinhos,
e traz retratos também
dos bodos, bodos e bodos,
em casa de gente bem.
Hoje é dia de Natal.
- Mas quando será de todos?
Sidónio Muralha
Segunda-feira, 14 de Dezembro de 2009
O problema do clima
1....é, antes de mais, o problema do clima social em que vivemos. Nós todos somos responsáveis? Certamente. Talvez, acima de tudo, por havermos permitido que se formasse e desenvolvesse -e de que maneira se desenvolve!- esta sociedade mercantil e consumista- Ela é só isso e mais nada: produzir, colocar no mercado, fazer com que o produto se venda. O produto é mais importante do que o homem. O crime em curso -a destruição da Terra- está intimamente ligado ao novo Bezerro de Ouro: o produto. Abraçado a ele, gira o lucro, ferve a concorrência, alarga-se a globalização da monopolização. Eis as palavras, os chavões (mercado, concorrência, produto, lucro) que me repugnam (revoltam) e matraqueiam o cidadão comum e o convertem num suicida inconsciente, saqueador do ambiente. O cidadão comum alimenta o mercado –e alimenta-o convicto de comprar a felicidade. Para o conseguir, aceita a nova escravatura: o emprego a prazo, o horário sufocante, os gritos do capataz que lhe exige que... produza. De homem não tem nada; de neo-objecto tem tudo. Alguma vez, para arejar o mundo, quem nos explora sacrificará algum negócio?
2.Andrea Zanzotto, poeta italiano, amante do espaço livre e da paz dos arredores de Treviso, ouvido acerca de Copenhaga e das habituais cimeiras que tratam o ambiente, comentou: “Hoje todos parecem dominados pelo fascínio do auto-engano”. E acertou em cheio: o modo do cidadão sobreviver ao massacre quotidiano é iludir-se, convencer-se de que a vida começa e acaba no produto: carro, telemóvel, internet, resorts, sexo fast food. Enterra-se a si próprio, esquece dignidade, individualidade, alma.
Manuel Poppe, O Outro Lado
Jornal de Notícias [13.Dezembro.2009]
Domingo, 13 de Dezembro de 2009
Sexta-feira, 4 de Dezembro de 2009
A receita do costume
Temos de novo o FMI à perna. O FMI é uma espécie de tutor que, quando não sabemos governar--nos, nos declara incapazes e passa a governar-nos por nós. A trapalhada financeira de um Orçamento feito "com grande sentido de responsabilidade", mas que, afinal, Teixeira dos Santos dixit, parece que foi elaborado "num quadro financeiro que não incorporava" o impacto real da crise financeira, mais a trapalhada de um Orçamento Rectificativo de que o mesmo Teixeira dos Santos não via, em Maio, "necessidade" e em Novembro já via, com medidas de contenção do défice (que cresceu 284% no 1.º semestre) que ainda em Julho garantia que não adoptaria pois "os números" davam "sinais claros de controlo da despesa", levaram o tutor a achar que era melhor ser ele a decidir o que deve fazer o Governo já que este parece não saber às quantas anda. E a receita é a santíssima trindade do costume: reduzir salários, reduzir prestações sociais, aumentar impostos, isto é, o que, nos anos 80, impôs a Mário Soares sob a estimulante divisa "apertar o cinto". Resta saber é se os portugueses têm mais buracos no cinto para apertar.
Manuel António Pina, Por Outras Palavras
Jornal de Notícias [04.Dez.2009]