VAMPIROS
No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas
São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
Sr. Mata e Sr. Esfola
Como fizeram para reduzir os salários e as prestações sociais, PS e PSD juntaram--se de novo no Parlamento, desta vez para impedir limites (nem sequer para os reduzir, só para lhes pôr freio) aos vencimentos dos gestores públicos.
Gestores públicos é um eufemismo usado para designar "boys" e "girls", em geral sem mais qualificações para gerirem o que quer que seja do que a sua disponibilidade para serem geridos. E se há assunto em que PS e PSD estão de acordo, além de que os pobres é que devem pagar as crises provocadas pelos ricos, é o da protecção dos "seus".
Embora não pareça, há no entanto diferenças entre PS e PSD. Por exemplo, o PS quer despedimentos fáceis & baratos para estimular "o emprego" enquanto o PSD também quer despedimentos fáceis & baratos mas para estimular "a economia". Para quem for despedido é igual, mas visto do lado do PS e PSD é muito diferente.
Do mesmo modo, o PS rejeitou as propostas do BE, PCP e CDS para que os salários dos gestores públicos tivessem como tecto o vencimento do presidente da República por isso ser "da competência do Governo" ao passo que o PSD as rejeitou por serem "populistas". "Boys" e "girls" do PS e PSD continuarão, pois, a poder ganhar mais do que o presidente da República. E não por um mas por dois bons motivos, um o do Sr. Mata outro o do Sr. Esfola.
É assim que PS e PSD conseguem o milagre de estar em desacordo fazendo exactamente o mesmo.
Manuel António Pina, Por Outras Palavras
Jornal de Notícias [22FEV2011]
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe,
da farinha, da renda de casa,
dos sapatos, dos remédios,
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e enche o peito de ar
dizendo que odeia a política.
Não sabe, o idiota,
que da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos
que é o político vigarista,
aldrabão, corrupto
e lacaio dos exploradores do povo.
Bertolt Brecht
A rã e o escorpião
Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Bélgica, Itália, Holanda: quando todos caírem, a Alemanha fica sozinha, no meio do lago
No meio do lago, o escorpião ferrou o seu veneno mortal na rã, que lhe dava boleia. O batráquio, em agonia, ainda disse: "Mas não vês que, assim, afogas-te e morres comigo?" E o escorpião replicou. "Que queres? É da minha natureza..." Na Europa, o gordo escorpião alemão vai picando rãs indefesas. Mas, no último Conselho Europeu, a senhora Merkel terá dado algumas indicações de que não se comportará como o animal da fábula. Pelo menos, José Sócrates regressou a Portugal com um largo sorriso - e os mercados especulativos contiveram-se, na expectativa. Portugal vai colocando a dívida num mercado onde a lei da oferta e da procura parece não funcionar. Embora a procura de títulos corresponda sempre ao dobro ou ao triplo da oferta, as condições em que vendemos não melhoram e os juros mantêm-se rentes aos insuportáveis 7% (a dez anos). Mas, do mal, o menos: o Estado ainda arranja credores para se financiar. E há sinais positivos: afinal, Nicolas Sarkozy disse - e não o afirmaria se não tivesse as costas quentes pela Alemanha - que, "custe o que custar", a União defenderá a sua moeda única. No horizonte, começa a surgir a constituição de um fundo destinado a auxiliar países em dificuldades, sem recurso ao Fundo Monetário Internacional. É que o resgate do FMI à Grécia e à Irlanda, que implica o pagamento de juros acima de 5%, revelou-se um negócio ruinoso para aqueles países. Além de as contrapartidas exigidas terem precipitado uma recessão, os mercados mantiveram-se hostis. Quer isto dizer que a receita milagreira do FMI para Portugal poderá ser uma emenda a piorar, ainda mais, o soneto.
Apesar do relativo alívio, há alguns paradoxos na receita franco-alemã para a constituição do tal fundo. Aos países em dificuldades, são exigidas, para a redução dos défices, medidas draconianas que só podem resultar em mais recessão. Ora, nestas condições, as economias não recuperam para atingir o principal objectivo: amortizar a dívida! Reparem: foi um responsável do FMI que, ao olhar para o Orçamento português para 2011 - com medidas que o fundo exigiria... - o desaprovou, por o achar recessivo! Em que ficamos? Trata-se de um ciclo kafkiano de que a Europa só se libertará em conjunto, não apenas com uma política monetária comum, mas, como apela Teixeira dos Santos, com instrumentos orçamentais comuns e uma união política efectiva.
O nosso escorpião, que tanto critica o consumismo dos outros, esquece-se de que, entre eles, se contam importantes clientes dos seus produtos. Por exemplo, o défice português foi agravado pela compra de submarinos... alemães! Ou seja, a Alemanha é o principal beneficiário da "maldita moeda única"! Afinal, como terminará a fábula? Os especuladores atacaram, primeiro, a Grécia, que caiu. Esperava-se que esse facto estancasse a hemorragia. Mas não: a seguir cairia a Irlanda - sempre na esperança de que os mercados se acalmassem. Mas não: logo a seguir, viraram-se para Portugal. Neste ponto, Bruxelas - e agora, também, talvez, Berlim - perceberam que isto nunca mais pararia: seguir-se-iam a Espanha, a Bélgica, a Itália e a Holanda, consecutivamente. Quando chegasse a vez da França, a Alemanha ver-se-ia sozinha, e sem boleia, no meio do lago.
Será da sua natureza continuar a espetar o ferrão?
Filipe Luís [Visão]
Ontem como hoje, os trabalhadores
é que fazem a riqueza dos países
Não é possível, neste momento, prever o futuro do Egipto. Como muitos, desejo que consiga transformar-se num país mais democrático, mais rico e mais feliz. Por agora, saliento apenas o comportamento dos revolucionários egípcios, a sua coragem, a sua determinação em levar até ao fim a luta, como quem sabe o que quer ou, pelo menos, o que não quer.
E não posso deixar de comparar com o que se passa no meu país, onde as pessoas, perdida a consciência do bom e do mau, do certo e do errado, baixam os braços e a cabeça, como se não houvesse amanhã.
Políticos de meia tigela, comentadores vesgos e gente gananciosa, empurram-nos para um corredor sem janelas ou porta de saída. Lá dentro, é a tortura: Quietos, calados! Nós é que sabemos e defendemos o interesse nacional. Se levantarem cabeça, vêm os Mercados, vem a UE, vem a senhora Merkel e o Sarkozy, o FMI, o BCE, e aí que vocês ficam a saber o que significa apertar o cinto. E nós, vencidos, submissos, acreditamos e temos medo. O melhor é não fazer ondas… E, entretanto, ficamos sem emprego, trabalhamos a falsos recibos verdes, perdemos paulatinamente os direitos sociais que conquistamos, sufocamos com as contas por pagar, ganhamos a vontade de morrer. E o pior é que sabemos que isto não é passageiro. Ao contrário, temos a certeza que daqui para a frente, só vai piorar.
Entretanto, os iluminados todos vão dando cabo da nossa soberania, da nossa economia, da nossa vida e do futuro dos nossos filhos.
Quem disse que não há saída? Sempre houve e haverá saídas. Se não as houvesse, estaríamos condenados à servidão. É preciso é perder o complexo de pequenês com que nos subestimamos. Temos de dizer: Basta! O medo que nos inculcam é a pior das tiranias.
Para os Egípcios, desejo que continuem atentos e prontos para lutar pelo desejam. Não faltarão os que, com palavras mansas, os tentem enganar. Aí como aqui.
Foi bom ver-vos ser gente. Devo agradecer pelo exemplo que deram aos acomodados deste Mundo.
Que parva que eu sou
Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou!
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar,
Que parva que eu sou!
E fico a pensar
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
"Deolinda"
Nasceu no Porto a 4 de Fevereiro de 1799
Morreu em Lisboa a 9 de Dezembro de 1854
Foto: http://palacio-de-sintra.blogspot.com/2010/06/almeida-garrett-e-sintra-sala-das-pegas.html
DESTINO
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai!, não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino.
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Almeida Garrett, Folhas Caídas
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