Segunda-feira, 21 de Março de 2011

REPTO

 

Aceito o desafio.

Que poeta se nega

A um aceno do acaso?

Tenho o prazo

Acabado,

O que vier é ganho

Na lonjura

Da última aventura

É que a alma revela o seu tamanho.

 

Extremo Oriente da inquietação,

Lá vou!

A quê, não sei,

Mas lá descobrirei

Que razão me levou.

Lá, onde tantos que me precederam,

Se perderam,

E aprenderam, na perdição,

Que só é verdadeiro português

Quem, um dia, a negar a humana pequenez,

Se inventa e se procura

Nas brumas do mar largo e da loucura.

 

                                                           Miguel Torga 

                                                                    

publicado por Elisabete às 15:16
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Quarta-feira, 16 de Março de 2011

A Grande Desorientação

 

Tenho de confessar que estou cansado desta dupla epopeia que domina a vida política portuguesa nos media: primeiro, o confronto interminável entre Sócrates, Cavaco e Passos Coelho - que diabo, decidam-se por uma vez, se sim, se não - e o seu correlativo europeu, ajuda/não ajuda, os mercados "não reagem positivamente", o juro desce, o juro sobe, a "Europa" - actualmente uma ficção em implosão lenta e discreta - gosta das medidas, a "Europa" quer mais austeridade... Quando é que acaba esta outra história que já chateia toda a gente, menos os que dela vivem, ou dela se alimentam, ou com ela enriquecem?

 

Escrevi há poucos dias que uma boa designação para este tempo seria A Grande Desorientação. Julgo que a Grande Desorientação deriva em grande parte do que alguns autores chamam "o actual período pós-político". Consiste no facto de a luta política ter como que desaparecido - na sua verdadeira acepção - face à dominação do económico que reduziu a política à administração do Estado e da sociedade em geral de acordo com as directivas - sempre as mesmas - que emanam dos países ricos: "a necessidade de reformas estruturais" eufemismo para a transformação do Estado em servidor dos interesses económicos e financeiros globais, as medidas "necessárias" o controle do défice externo, o PIB - indicador parcial que não traduz de modo nenhum o que de facto é "viver em sociedade", como é que realmente se vive, e menos ainda qual é o seu sentido, etc, etc, etc.

 

Gostava de conhecer os mercados pessoalmente. Não é possível. É uma entidade hiper-real, um quadro de acção virtual no qual circula o capital financeiro global, dotado de uma racionalidade (acumular mais capital) que realiza (aqui Marx teve razão) o lado auto-destrutivo e feérico do capitalismo. Os "mercados", agora à solta depois de três décadas em que os Estados legislaram a sua própria impotência - a famosa  desregulação - e finalmente fazem o que lhes apetece com base em grande parte em mecanismos de especulação financeira.

 

O mercado não depende de ninguém, não é ninguém e, no entanto, milhares de pessoas no mundo inteiro são os agentes - indivíduos - que o fazem funcionar quotidianamente.

 

A luta política devia voltar a ocupar o seu lugar original: disputas entre diferentes modos de organizar a sociedade, entre visões do mundo muito ligadas à existência de classes sociais e aos seus lugares diversos nos aparelhos produtivos dos países - ao contrário de algumas notícias, as classes não acabaram e para ver isso basta sair à rua e olhar à volta. Vejo carros de luxo e outros a desfazerem-se, vejo trolhas e administradores ou gestores de empresas, vejo carpinteiros, garagistas, cabeleiras e top-models (sobretudo em cartazes), vejo cabo-verdianos e ucranianos nas obras, vejo gente de gravata e camisa às riscas - normalmente ao volante - vejo loiras esplendorosas - normalmente no lugar ao lado - e mulheres negras com frio, às 5 da manhã, quando chegam dos subúrbios para fazerem a limpeza das salas das empresas, vejo muitos sem-abrigo a dormir embrulhados em jornais encostados ao D. Maria, onde no interior tem lugar a grande arte - cada documento de cultura é também um documento de barbárie, dizia Walter Benjamin - e vejo ainda a antiga classe média a proletarizar-se progressivamente para sustentar com impostos os estados e o seu apoio às grandes empresas dos salários fabulosos e a banca (em crise) e os seus lucros (também fabulosos).

 

Posso aceitar que já não existe proletariado no sentido marxista do século XIX mas a existência de classes sociais atinge-me a retina violentamente todos os dias. Há classes sociais. Só não existe ainda uma teoria que nos permita compreender o estado do mundo. Daí nasce A Grande Desorientação.

 

 

 

António Pinho Vargas 

 

 

in http://contra-faccao.blogspot.com/2011/03/alguns-desabafos-de-um-homem-sem.html

 

publicado por Elisabete às 11:47
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Sábado, 12 de Março de 2011

Nem tubarões nem aldrabões!!!!!!

 

ABAIXO O CAPITALISMO

NÃO QUEREMOS MAIS TUBARÕES!

 

publicado por Elisabete às 12:06
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