Em Setembro lembramo-nos dos canaviais. Cheira a terra húmida e a apara-lápis, e o vento faz tombar sobre a terra os primeiros ouriços, precoces ainda. Sei que entra Setembro porque ouço os pneus dos automóveis sobre o asfalto. Há um arco-íris no céu, folhas de plátano pelo chão e nos rostos das crianças uma ternura. Em Setembro casam-se as segundas oportunidades, e não há nada tão redentor como elas. E também é em Setembro que ficam deprimidos os que não suportam o silêncio. Setembro é vindima e é crepúsculo. O crepúsculo sempre foi assim. Nos grandes e calmos dias de Setembro, como lhes chamou o poeta, comem-se os últimos tomates, o resto do milho doce e o mel da fajã da Serreta, feito pelo Sr. Manuel Jorge. Compram-se sapatos novos, tiram-se os casacos do armário e o Q.B. torna a fazer torrões de pistácio. Tenho saudades de torrões de pistácio. E de chá de néveda. E de tempestades. No mês de Setembro estreiam-se os filmes de Woody Allen (pelo menos, a mim, parece-me sempre Setembro). Voltam o jazz, o teatro e as noites sem programa, e também há festas em São Bartolomeu, com o João Ângelo cantando ao desafio. Tudo é mais romântico em Setembro. As lavadias abrandam, o mar antém-se cálido, as praias ficam desertas. E nós lembramo-nos dos canaviais. Tudo é mais romântico e belo em Setembro, e é por isso que nos lembramos dos canaviais. E de casacos. Lá mais para o final de Setembro abrem as primeiras beladonas, engordam os primeiros araçás, partem os primeiros cagarros. Talvez possamos até acender a lareira, lá para o final de Setembro - mas os ouriços continuarão precoces, como uma expectativa do que está para vir.
Amanhã entra Setembro, e Setembro traz sempre consigo a expectetiva do que está para vir. Eu ainda sinto a expectativa do que está para vir.
JOEL NETO
(DN Opinião)
Quim Comandos preocupa-me, o seu estado enquistado em processo revolucionário permanente. As paredes do bar grafitadas com frases de ponta e mola, assinadas por um tal comandante Raio:
Os mais fortes demoram apenas mais tempo a ser abatidos.
O objectivo da guerra é atingir a paz, o objectivo da paz é acabar com a guerra; o meu objectivo é acabar com as duas.
Quero que todas as revoluções aconteçam ontem. Hoje é demasiado tarde.
Que raio de comandante será este? Tenho a certeza de que é apenas um pseudónimo do próprio Quim, devoto do Che Guevara e de mais ninguém. Preocupa-me esse seu estado alucinado, vulcão adormecido capaz de atravessar a qualquer momento a fronteira entre a sanidade e a loucura e fazer um disparate, julgando que a revolução, a insurreição armada, chegará num dia talvez de nevoeiro, como um sebastianismo no cano de uma metralhadora.
No entanto, por vezes parece-me que tem razão. Esta sociedade precisa duma revolução. Quando olho para o mundo e vejo a loucura das guerras, fomentadas pelos comerciantes de armas e por aqueles que fazem fortunas a reconstruir cidades arrasadas por bombardeamentos… Quando vejo a corrupção de governantes e políticos, quando assisto impotente a todas as técnicas de manipulação da imprensa, do condicionamento das mentes, quando os eleitores elegem sucessivamente quem os conduz ao desastre e à miséria, sem saber como ou porquê, quando a democracia é apenas uma forma mais trabalhosa de alguns explorarem todos, aí eu tenho a certeza de que Quim Comandos é senhor da razão. Loucos são os outros…
Miguel Miranda, Sem Coração
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