Quarta-feira, 15 de Junho de 2016

O VOO MELANCÓLICO DO MELRO

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(O verdadeiro osso das coisas)

Posso dizer que foi um ano branco, aquele. Redigida a Carta Constitucional, o país auscultado com o estetoscópio da democracia parlamentar. Henrique esfumava-se sob um álamo, a cinza devolvia a política aos altares naturais.Só falava quem tinha pergaminhos ou quem não tinha vergonha de tropeçar na sua ignorância. Nos anos de brasa podia-se mostrar a ignorância sem vergonha. A ignorância era uma medalha da opressão. Os doutores ouviam os ignorantes e apreciavam a sabedoria da ignorância. Mas a cinza repôs o pêndulo da História e os néscios voltaram a ter vergonha. O país ficou ponderado. No fundo, o país não queria falar tanto, só queria ouvir quem tivesse o mérito da fala, apreciar a oratória televisiva. Tornou-se um país de cidadãos sentados com a faca numa mão e o queijo na outra. O queijo era o sorriso do político e a faca o voto do eleitor. Aceitaram-se os patrões e os capatazes como inevitabilidade da vida, eram as cigarras da economia. Eu estava numa posição de privilégio para o dizer porque era patrão e empregado ao mesmo tempo, tinha dado dois dias de salário à nação no tempo do Vasco Gonçalves, um como empregado e outro como patrão. Descobriram-se curvas desconhecidas na nossa língua. Foi tempo da Sónia Braga e do doutor Mundinho. Cinema indiano, introspecção, melodrama, frigoríficos, televisores.

[...]

O amor, soube-o ali, não precisava de palavras de legendar filmes. E antes que nada mais restasse do que uma narrativa inútil, juntei as minhas bagas de trovisco às do padre Rubim e transformámos os Melros numa associação cultural com teatro, biblioteca, desporto, escola de música. Tal como a utopia nos tinha ensinado. E utopia pareceu-me uma palavra justa para definir um sonho amplo no céu coberto pela cinza dos dias.

CARLOS TÊ, O Voo Melancólico do Melro

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publicado por Elisabete às 20:39
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Quarta-feira, 19 de Junho de 2013

39 anos depois (I) e (II)

Um país que, depois de construir o futuro, é empurrado de regresso ao passado. Com o 25 de Abril, não foi apenas a Poesia a sair à rua, como pintou Vieira da Silva. A madrugada por que os portugueses havia muito esperavam, como escreveu Sophia, trazia consigo uma promessa de futuro que as conquistas da Revolução e uma Constituição empenhada na dignidade finalmente concretizaram nas nossas vidas. Milhões de portugueses passaram a dispor de coisas tão básicas, tão evidentes, como uma consulta médica gratuita, uma pensão de reforma, uma escola pública decente com professores condignamente formados, uma torneira de onde saía água corrente, um interruptor que ligava uma lâmpada que não mais era um luxo de cidade rica, um transporte público que vinha mitigar uma das tantas causas da exaustão quotidiana de quem trabalhava para sobreviver. As mulheres, mais do que os homens, experienciaram todas as mudanças. Como escreveu Maria Velho da Costa, “elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas”, “souberam dizer salário igual e creches e cantinas”, “sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões” e “disseram à mãe, segure-me aqui nos cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é”. A Liberdade trazia o futuro, a confiança no futuro, o fim da guerra, três/quatro anos roubados a sangue e a saudade da vida de um milhão de homens de 20-30 anos. Abril trouxe voz, arrojo, a reapropriação de um país por quem nele vivia e a ele queria voltar!

39 anos depois, o medo foi regressando à fábrica, ao escritório, as bocas dos patrões e dos gestores voltaram a encher-se da arrogância do “se não gosta, ponha-se a andar!”, ao desempregado é dito que a culpa é dele (porque parece que não quer trabalhar, se não aceita o meio salário que lhe propõem), e aos jovens é explicado que o problema é não serem empreendedores e não saírem da sua área de conforto… A todos nos repetem que “não estamos em 1975!”, mesmo que a maioria nem saiba o que isso foi, a todos se quer ensinar que “não se meta em trabalhos…”, “isso dos sindicatos é coisa do passado”. Os trabalhadores passaram a ser colaboradores, e, apesar de todo o palavreado da procura da produtividade, é a obediência a disfarçar-se de reverência, a indignidade a disfarçar-se de empenho. Num país que vinha do salazarento elogio da incultura, que dizia que os filhos do povo que tinham ido à escola “nada ganharam. Perderam tudo. Felizes os que esquecem as letras e voltam à enxada” (deputada Virgínia C. Almeida, 1938), a democracia fez-nos dar um salto de gigante na qualificação, na realização pessoal através da escola, da universidade, formou os portugueses mais preparados da história. 39 anos depois de Abril, insinua-se que estudar é inútil e faz-se com que seja caro; e a quem objectar que, dessa forma, se promove o maior abandono escolar da Europa e o regresso da injustiça no acesso à universidade, faz-se o discurso rançoso da necessidade de reduzir as expetativas, “nem todos podem ser doutores!”, que nunca devíamos ter abandonado a escola dual (isto é, discriminatória), que habituava os filhos do povo ao único futuro a que deveriam aspirar: o de um trabalho manual, repetitivo, de execução do que outros decidirem, consequentemente mal pago. Não gostam? Emigrem!

Um país forçado ao envelhecimento e à fuga. E emigram… E Portugal envelhece. As sociedades envelhecem por bons e maus motivos. Porque vivemos mais (78,4 anos, 29º país do mundo onde mais se vive), bem mais do que há 40 anos (67,4 anos, 45º), porque construímos desde o 25 de abril um sistema público de saúde que abriu a (quase) todos a possibilidade de deixar de pensar que a doença e a morte prematuras são simplesmente um fado individual. Mas hoje, sem condições (horários de trabalho cada vez mais longos, desemprego e precariedade de longa duração) e sem ânimo para se empenharem na construção de novas vidas, os portugueses envelhecem. Quando a Revolução trouxe a liberdade e a democracia, a convicção de que se podia tomar o destino nas próprias mãos, os portugueses, confiantes, não tiveram medo de ter filhos. Porque confiavam na própria capacidade de organização de novas condições para crianças e mães, abrindo creches e consagrando direitos sociais de que se não havia disposto nunca. Nasceram 180 mil crianças em 1975, 187 mil em 1976 – e hoje, 1,5 milhões mais do que éramos então, nascem menos de metade. Claro que a extraordinária mudança no estatuto das mulheres portuguesas, as mudanças evidentes no que move os portugueses a serem pais e mães (cada vez mais vontade e menos acaso) contribuíram decisivamente para reduzir o número de filhos. Mas sabemos bem como a nova economia da austeridade e a violência e a chantagem quotidiana em que o trabalho se tem transformado adiam quaisquer planos de parentalidade para depois dos 30, ou 40, além de fazer fugir de Portugal aqueles que querem iniciar a aventura do amor transformado em família. Cínico é que sejam os que falam nos valores familiares a prescrever salários baixos e encerramento de serviços públicos. Talvez pensem que devam ser os mesmos avós a quem cortam a reforma a tomar conta dos filhos dos seus filhos.

 

39 anos depois (II)

 

Num país em que os governos levam a cabo uma política económica contra as pessoas (numa escalada que com o actual governo atinge uma agressividade demencial), com um sistema político atolado, com uma geração de governantes de formação inenarrável e inépcia inexcedível, há uma mudança em construção. Não no Portugal que Passos julga que se sacrifica para ele brilhar na Europa, mas no Portugal resistente que o não suporta mais, que sai à rua, que canta a Grândola contra a mentira e contra o assalto ao trabalho e aos seus frutos, num país que pede um novo 25 de Abril justamente porque se lembra do que ele significou.

 

Um país de gente, outra vez, em fuga

 

Há 39anos, o país em que Adriano Correia de Oliveira cantava Rosalía de Castro para denunciar que “este parte, aquele parte, e todos e todos se vão”, empurrava
150-200 mil pessoas por ano para fora do seu território. Hoje volta a acontecer a mesma coisa. Treze anos de guerra colonial e uma opressão que não dava chance alguma à livre expressão das expectativas sociais, culturais e políticas, e 1.4 milhões de portugueses emigraram, 60% dos quais fugindo a salto, ilegalmente, para recomeçar a vida numa bidonville francesa, sem sequer poder regressar se se tivera fugido a anos de tropa em África. Até isso era preferível a ficar num país cuja economia e salários cresciam mas que encalhara na ditadura e na guerra.

 

Uma política económica contra as pessoas

 

Hoje, apesar da liberdade e dos direitos políticos, o país voltou a encalhar, desta vez sob a ditadura económica de um capitalismo voraz, com uma arrogância ideológica a que nem os patrões de há 39 anos, sob a protecção de Salazar, do Estado e das polícias, se atreviam. Nunca o português comum se viu tão estratosfericamente longe dos centros de decisão da economia. Há 70 anos. Salazar dizia que, em Portugal, “a Nação é acessível a todos [mas] o Estado a muito poucos”; hoje, Gaspar repete à saciedade que ‛‘não há alternativa” à austeridade dele, Passos que é forçoso “o cumprimento cabal das nossas obrigações”; por outras palavras: o sofrimento social ê acessível a todos, mas as decisões de política económica a muito poucos.
Não foi assim durante vários destes 39 anos que passaram desde o 25 de Abril.
Entre a socialização de muita propriedade e as nacionalizações, as comissões de trabalhadores e as negociações colectivas, os portugueses dispuseram de muitos instrumentos de decisão sobre a sua política económica. Perderam-nos desde que todo o processo foi revertido, ainda antes do euro, com Cavaco, prosseguido com Guterres (o recordista das privatizações) e com as personagens de circo que se lhe seguiram. Hoje, os Governos bem podem dizer à banca que invista na economia, que de nada lhes serve; a banca fará (e fez) o que lhe apetecer, com o beneplácito dos independentíssimos
bancos centrais, sempre e quando os Governos assegurem a sobrevivência deles, literalmente à nossa custa.

 

Este é um país de gente desprezada

 

O contrato social assinado nos anos seguintes à Revolução foi unilateralmente rompido há anos. Ele fora aceite, de alguma forma, tanto pelos que não haviam conseguido um socialismo à portuguesa como por aqueles que, tendo aceite descolonização e democracia política, queriam apenas uma pequena dose social na economia. Milhões de portugueses começaram a trabalhar na adolescência, salários de pouco – hoje recebem pensões de ainda menos e um Gaspar qualquer vem-lhes dizer que nem esse pouco eles merecem. São provavelmente estes os mais desiludidos da democracia.

 

Um sistema político atolado

 

Dos três grandes partidos que, apenas formalmente, fundaram o regime democrático constitucional, o PS e o PSD, que já estavam do mesmo lado em 1975-76, dirigiram todos os Governos (salvo os de iniciativa eanista, 1978-79, o que é o mesmo). O sistema político português bloqueou num novo rotativismo em que cada novo Governo é menos diferente do anterior. O CDS, que votou contra a Constituição, governou nove anos com o PSD, ou até com o PS, que, apesar de quase sempre minoritário, nunca negociou alianças à sua esquerda. Aí, contudo, concentraram-se 15-25% dos votos ao longo destes 38 anos. O PCP, a força de fundo no combate à ditadura, participou apenas nos dois anos de Governos provisórios. Nenhum dos novos partidos que irromperam no Parlamento ­ o PRD (1985-91) e o BE (desde 1999), herdeiro das esquerdas revolucionárias que tiveram força nos anos 70 - foi sequer cooptado para o Governo. No total dos eleitores (os 60% que votam e os 40% que não votam), os dois partidos dominantes têm cada vez menos apoio: 59% em I975, 38% em 2011 - quase o mesmo (37%) que aquando da última grande crise (1985). O actual Governo foi votado por menos de 30% dos portugueses, o mesmo que Sócrates quando dispõe de maioria; e comporta(ra)m­-se como se tivessem conseguido mandatos inequívocos. Desde há dez anos que uma geração de políticos de formação inenarrável e inépcia inexcedível tomou conta do aparelho de Estado, tornando-se presa ainda mais fácil de grandes patrões sem escrúpulos e de gestores ou académicos com duas palas liberalonas na cabeça. Com incrível lata, disfarçam de reformismo inadiável a devastação que têm provocado numa democracia construída com tanto esforço, tanta Iuta, tanto combate desigual.

 

Um país resistente

 

É neste pais que as pessoas perceberam que alguma coisa tem de mudar! É no país resistente que se está a construir a mudança - não no Portugal que Passos julga que se sacrifica para ele brilhar na Europa, mas naquele que o não suporta mais, que sai à rua, que canta a Grândola contra a mentira e contra o assalto ao trabalho e aos seus frutos, num país que pede um novo 25 de Abril justamente porque se lembra do que ele significou: a coragem contra o medo, o arrancar da liberdade contra a opressão, o fim de uma guerra que também então se dizia não ter alternativa, a voz contra a mordaça!

 

 Manuel Loff, “Público” (09.05.2013)

 

publicado por Elisabete às 15:16
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Quarta-feira, 25 de Abril de 2012

25 de Abril SEMPRE!

publicado por Elisabete às 01:28
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Segunda-feira, 25 de Abril de 2011

Recuperar ABRIL

Com Salgueiro Maia, fazia um 25 de Abril todos os dias

 

No 37º aniversário do 25 de Abril, Carlos Beato, presidente da Câmara Municipal de Grândola e ex-companheiro de armas de Salgueiro Maia, recorda o amigo, o militar e o herói esquecido e injustiçado

 

 

 

Ainda transporto vivos o sentimento e a recordação daquela noite e da partida da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, comandado pelo grande militar e homem de Bem que foi Salgueiro Maia.

Éramos 240 jovens, e partimos numa coluna com carros blindados carregados de esperança em fazer Portugal entrar no caminho da Liberdade e da Democracia. A sorte esteve do nosso lado e, felizmente, no fim as coisas correram como desejávamos. Fora em Novembro de 1973, quando regressei de Moçambique, onde tinha feito a comissão militar obrigatória, que soube do 25 de Abril.

O capitão Salgueiro Maia veio falar comigo e disse-me que iria haver uma acção qualquer para acabar com o estado de coisas a que se tinha chegado em Portugal, que ele estava metido nisso e que precisava de jovens militares com experiência e capacidade de comando. Eu era alferes milicianos, acabado de chegar de Moçambique, e disse-lhe que alinharia, que contasse comigo para essa acção. Concordei imediatamente, pois Salgueiro Maia era uma pessoa arrebatadora, um homem de convicções, de confiança e de projectos – um exemplo para todos. A Salgueiro Maia não era possível dizer que não.

Mas isto foi em 1973 e depois nunca mais se falou no assunto, embora soubesse que, de vez em quando, se faziam umas reuniões. Mas como já tinha havido tantas coisas ao longo de tantos anos, e algumas delas frustradas, tínhamos algumas dúvidas quanto a uma acção em concreto.

Até que num dia, às 11.30 da manhã, em plena parada Chaimite, primeiro o capitão Salgueiro Maia e depois o então capitão Correia Bernardo vieram dizer-me baixinho ao ouvido: “É logo à noite.” Quando me disseram isso, confesso que fiquei gelado. Mas tínhamos que ir em frente e fazer os contactos com os militares que cada um de nós iria levar sob o seu comando.

 

 

Contactei alguns dos camaradas de armas durante todo o dia 24, véspera do 25 de Abril. Contei-lhes o que se iria passar, mas não lhes pude dizer tudo sobre a Operação Fim do Regime. Aliás nem eu próprio sabia tudo, porque a acção do 25 de Abril só iria ter lugar se nessa noite os Emissores Associados de Lisboa passassem a canção “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, às 11 da noite, e a Rádio Renascença emitisse à meia-noite “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, que era a ordem para arrancar.

 

NINGUÉM QUIS FICAR

Todos os jovens militares sabiam que iriam participar numa acção militar para fazer cair o regime, e não houve ninguém que dissesse que não. No entanto, houve militares de carreira, portanto não-milicianos, que era suposto aderirem ao processo – mas que à última hora se encolheram e roeram a corda.

Foi uma loucura, porque tínhamos de fazer tudo sem dar nas vistas, já que o comandante, o 2.º comandante e os oficiais que detinham o poder no quartel desconheciam esta operação. Tudo teria de ser preparado com eficácia durante o dia 24: as viaturas, os armamentos, as fardas e as rações de combate com eficácia durante o dia 24.

Algumas das viaturas já andavam a ser preparadas em segredo para sair há algum tempo, num processo que durou muitos meses sem que ainda se soubesse o dia da acção.

Entretanto, fomos experimentando alguns militares para a acção, e outros só os desafiámos depois de ouvirmos a «Grândola Vila Morena». Todos os oficiais estavam no quarto do capitão Salgueiro Maia para ouvir a passagem da canção, que era o sinal para avançar, e, portanto, ouvimos a «Grândola» quando estávamos a distribuir as diversas missões por cada um de nós. Nessa altura, estávamos muito tensos porque a canção deveria ter passado à meia-noite e acabou por ir para o ar à meia-noite e vinte.

 

 

De imediato, convidámos o 2.º comandante a aderir, mas este, recusando, foi logo detido.

Durante esses 20 minutos chegou a passar-nos pela cabeça que já não ia haver 25 de Abril. Mas a canção veio e o pessoal foi acordado às ordens de Salgueiro Maia. Reunimo-nos então todos, e Maia deu a conhecer a situação e disse: «Quem quiser fazer parte desta operação forma lá fora, na parada.»

Já no exterior, quando justificou a necessidade de se marchar sobre Lisboa, Maia proferiu uma frase que faria história: «Existem vários tipos de estados: os corporativos, os sociais e o estado a que chegámos.»

Em resposta, para nossa grande surpresa, toda a gente quis ir, o que colocou logo um problema, porque éramos cerca de 800 e só podiam ir 240. E foi uma tristeza para os que tiveram de ficar no quartel. Mas no dia seguinte alguns deles vieram a cumprir missões importantíssimas, como a ida à Legião Portuguesa e à PIDE para fazerem as prisões. Outros ainda foram incumbidos das acções de esclarecimento à população sobre o que se tinha passado. Portanto, a sua atitude e a sua colaboração foram também nobres, importantes e revolucionárias.

Os acontecimentos do 16 de Março ocuparam o meu pensamento durante as três horas de caminho entre Santarém e Lisboa, que me pareceram 22 horas, tal era o nervosismo e a ansiedade. Foi aí que me passou tudo pela cabeça: a família, os amigos, a oposição, a PIDE, a polícia de choque e tudo o que poderia vir contra nós. E lembrei-me de que o 16 de Março tinha corrido mal, que alguns desses nossos camaradas estavam presos e outros tinham sido muito maltratados. A ideia de vida e da morte passou-me pela cabeça, de tal maneira que ainda hoje a guardo como uma das coisas mais martirizantes que me aconteceram naquela madrugada e em toda a vida.

 

FOMOS OS PRIMEIROS…

 

Chegámos ao Terreiro do Paço por volta das 6 da manhã – fomos os primeiros. A essa hora ainda não nos tínhamos apercebido bem de que seria à nossa coluna que o poder se iria render; nem que seria a nós que Marcelo Caetano se renderia. Refugiado no Quartel do Carmo, viria a sair numa Chaimite nossa para a Pontinha, onde estava instalado o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, e nem sabíamos que Santarém e as suas tropas viriam a ter a importância crucial que tiveram.

A missão estava claramente definida: tínhamos de controlar o Banco de Portugal, junto ao Terreiro do Paço, depois a Rádio Marconi e por fim os acessos à Praça do Município. Nessa altura, vieram contra nós carros blindados do Regimento de Cavalaria 7, da Calçada da Ajuda. Eram carros de combate com grande poder de fogo e potência para tudo arrasarem. Vivemos momentos de grande tensão e angústia, que penso que foram resolvidos por duas razões: a primeira, porque Salgueiro Maia era um grande líder e foi, de facto, um grande comandante operacional no Terreiro do Paço e no Largo do Carmo; a outra, porque o regime estava realmente caduco e as pessoas estavam fartas de Portugal viver orgulhosamente só e em condições em que a maioria dos portugueses não se revia.

 

 

 

Assim, quando o comandante das tropas dos carros de combate, brigadeiro Junqueira dos Reis, mandou disparar contra Salgueiro Maia e os seus homens, os militares de Cavalaria 7 não obedeceram.

Ainda hoje, continuo a acreditar que aquele foi o grande momento do 25 de Abril e que passa por ali a vitória de toda a acção militar, porque, se do outro lado tivessem disparado, talvez o 25 de Abril não se tivesse cumprido.

Claro que o facto de nos sentirmos unidos pela juventude foi fundamental. Éramos rapazes e homens muito determinados e sabíamos que estávamos ali para voltar uma página importante da história do Portugal contemporâneo.

Mas que teríamos nós feito se não estivéssemos acompanhados por um comandante de rara lucidez, do dinamismo único e da liderança carismática que só Fernando José Salgueiro Maia poderia e saberia transmitir? Ainda hoje, não sei...

 

A preparar a saída de Marcelo Caetano do Quartel do Carmo

com a Chaimite Bula

 

Porque Maia não era apenas um militar decidido, rigoroso, experimentado e metódico. Maia era também um militar de princípios, inabalável na postura, inultrapassável na acção.

E quando, nas mesmas células, se mistura um oficial assim com um homem sensato, íntegro e solidário, fácil é de observar o resultado final e o prazer e a honra com que todos partilhámos o seu espaço e o seu tempo.

 

 

A comandar as operações no Terreiro do Paço

 

Claro que a sensação que tivemos quando nos deslocámos do Terreiro do Paço para o Quartel do Carmo e sentimos que, já aí, o 25 de Abril estava ganho foi determinante para todo o processo.

Na verdade, apesar de não termos ainda assegurada a rendição do chefe do Governo, Marcelo Caetano, era nossa profunda convicção que, quando ganhámos a luta com os carros de combate e quando viemos naquela caminhada vitoriosa Rua Augusta acima, Rossio, Rua do Carmo e Largo do Carmo, sempre com o povo a envolver--nos e a dar cravos e a encher-nos de comida, vínhamos com a sensação e a convicção nítidas de que o 25 de Abril já estava efectivamente do nosso lado.

Mas era ainda necessário que Caetano, o líder e o rosto do regime, se rendesse e ficasse às nossas ordens. E devo confessar que esse processo nos deixou muito preocupados, porque demorou cerca de seis horas, com todos nós, no Largo do Carmo, remetidos a um enorme impasse e sem que as coisas se resolvessem.

 

…E OS MAIS DESTEMIDOS

 

E foi aí que, pela enésima vez, se elevou sobre a realidade a personalidade do comandante operacional. Mais uma vez, Salgueiro Maia não teve medo.

Negociou com intermediários políticos, foi diplomata, geriu tensões e afinou estratégias de conciliação. Da Pontinha, os chefes da Revolução pediam fogo, rapidez e acção. Maia dava--lhes política e tentava a todo o custo evitar o banho de sangue que faria perder muitas vidas e perigar o sucesso do Movimento dos Capitães.

 

 

Ainda assim, chegou o momento de tomar decisões, e a certa altura tivemos de fazer fogo sobre a fachada do Quartel do Carmo. Objectivo: fazer ver que não sairíamos dali sem a rendição dos ministros, nem que para isso tivéssemos de rebentar com tudo. Tínhamos fogo e potencial de carros blindados para isso, mas, é claro, queríamos evitá-lo a todo o custo.

Essa era uma das prioridades do MFA (Movimento das Forças Armadas), e as instruções foram todas no sentido de não provocar mortos nem feridos.

 

 

 

 

Depois de muitas horas de angústia e de cerco que nos foi feito pelos militares que defendiam o Estado Novo, as coisas correram bem para o nosso lado, e Marcelo Caetano acabou por se render por volta das 6 da tarde. E numa das Chaimites da EPC de Santarém, de seu nome Bula, foi conduzido, mais parte do seu governo, à Pontinha, onde estava o Posto de Comando do MFA. Pena é que, logo após a rendição do regime sem qualquer derramamento de sangue, a PIDE tenha disparado de posições instaladas no telhado do seu edifício, na Rua António Maria Cardoso, facto esse que provocou a morte de quatro manifestantes e ferimentos noutros cinco. Mesmo depois de tudo resolvido a nosso favor, num último acto de loucura, mais uma vez foi a PIDE que manchou aquela jornada de libertação do nosso povo.

 

UM AMIGO PARA A VIDA

 

Passados dias, meses e anos e as mais diversas vivências, sinto hoje um enorme privilégio e um impagável orgulho por ter participado numa acção deste calibre, em que Portugal passou a ser mais Portugal e em que a Liberdade e a Democracia passaram a fazer parte efectiva do dia-a-dia do nosso povo.

Claro que me é impossível fazer o balanço deste tempo sem evocar a presença sempre presente, sempre mítica, sempre transversal, sempre absoluta, de Salgueiro Maia. Porque a presença da sua ausência é uma dor brutal, ainda fresca e sempre insanável em todos aqueles que com ele privaram, que a ele se deram e que dele receberam o tributo de um abraço, de um olhar, de um afecto, de uma experiência, de uma vida, para toda a vida.

Por causa da sua falta, e da falta que a sua lucidez imprimiria às nossas vidas nestes tempos tão desatinados, olho para estes 37 anos de aprendizagem e concluo que o percurso está ainda muito longe de chegar ao fim, porque sempre incompleto, sempre em evolução.

 

 

Foram sem dúvida anos de importantes conquistas e de recuperação dos atrasos em relação a outros países. Mas embora já se tenha feito muito, não é em 37 anos que se recupera tudo o que nos foi negado durante o Estado Novo.

Estes anos representaram ainda o consumar de grandes conquistas para o nosso povo, em particular o Poder Local, porque se há objectivos que foram conseguidos neste país e que tiveram uma grande utilidade, e nos quais se viu que o povo foi o grande beneficiário directo e inquestionável, um deles foi exactamente o Poder Local democrático.

 

 

Na verdade, em todos os concelhos de Portugal os autarcas têm sido grandes obreiros da consolidação de Abril e da Liberdade, que começámos a rasgar em 1974. Não obstante alguns excessos e desvios, que sempre e inevitavelmente se verificam nestes processos, não obstante algumas coisas que deveriam ter sido feitas e ainda não foram, não tenho dúvidas em dizer que, 37 anos depois, tenho a convicção de que o 25 de Abril tem um saldo claramente positivo e que valeu a pena, porque não há preço que pague a Liberdade de um povo.

Não nego contudo, e até admito, que vejo e sinto com mágoa o facto de algumas pessoas tentarem apagar a importância do 25 de Abril, porque mesmo algumas dessas pessoas, que são tão críticas ou menos benevolentes para com os militares de Abril e para com tudo o que Abril nos trouxe, de uma maneira geral também foram elas beneficiárias do próprio 25 de Abril. Por isso, o que desejo é que ponham a mão na consciência e vejam que quem veio por Abril veio por bem.

Os resultados estão à vista. E o capitão Salgueiro Maia, que considero o capitão dos capitães de Abril, foi o exemplo mais nobre e mais puro de quem veio para servir e não para se servir. Essa é a grande mensagem que Abril nos trouxe.

Como para a eternidade sobre ele Sophia de Mello Breyner escreveu, Salgueiro Maia foi «Aquele que na hora da vitória respeitou o vencido/Aquele que deu tudo e não pediu a paga/ Aquele que na hora da ganância perdeu o apetite/Aquele que amou os outros e por isso não colaborou com sua ignorância ou vício».

 

O último adeus à saída da capela da Academia Militar.

Inauguração da sua estátua em Santarém:

A viúva, Natércia, com os filhos, Filipe e Catarina

 

Aquilo que Portugal seria sem Abril, e sem o feito protagonizado por Salgueiro Maia e os seus militares, é algo hoje impossível de avaliar ou imaginar. Mas sei que, também por ele, aprendi a compreender melhor os verdadeiros valores da amizade, solidariedade e afecto.

Quando dei o sim a Salgueiro Maia, dei-o sem grande maturidade e consciência políticas. Mas agora, passados todos estes anos sobre a Revolução dos Cravos e sobre a sua morte, em Abril de 1992, e tendo tido a oportunidade de viver o que vivi em Liberdade e em Democracia, não só voltaria a dizer que sim uma vez, mas tantas quantas fossem necessárias – porque a liberdade de um povo é impagável, porque a democracia é insubstituível e porque a dignidade dos indivíduos é o bem mais precioso.

 

 Carlos Beato 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

in Selecções Reader’s Digest

Abril 2011

 

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Domingo, 25 de Abril de 2010

ACORDA, PORTUGAL!!!

publicado por Elisabete às 19:27
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Sábado, 25 de Abril de 2009

25 de Abril

publicado por Elisabete às 00:16
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Quarta-feira, 25 de Abril de 2007

25 de Abril de 1974

        

 

25 DE ABRIL DE 1974

o dia em que todas as portas se abriram

 

 

Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo.

 

Sophia de Mello Breyner 

 

 

 

 

Considerando que, ao fim de treze anos de luta em terras do Ultramar, o sistema político vigente não conseguiu definir, concreta e objectivamente, uma política ultramarina que conduza à paz entre os Portugueses (...); considerando o crescente clima de total afastamento dos Portugueses em relação às responsabilidades políticas que lhes cabem como cidadãos (...); considerando a necessidade de sanear as instituições, eliminando do nosso sistema de vida todas as ilegitimidades que o abuso do poder tem vindo a legalizar; (...)

O Movimento das Forças Armadas, que acaba de cumprir com êxito a mais importante das missões cívicas dos últimos anos da nossa História, proclama à Nação a sua intenção de levar a cabo, até à sua completa realização, um programa de salvação do país e de restituição ao povo português das liberdades cívicas de que vem sendo privado.

 

Proclamação do MFA, lida às 11 h. de 25 de Abril de 1974,

através da Rádio

 

 

 

 

 

Manhãzinha cedo, senti acordar-me o sopro da voz ciciada de minha mulher: - O Fafe telefonou de Cascais... Lisboa está cercada por tropas. (...) Outro comunicado na Rádio! Vem depressa. Corro e ouço: “Aqui o posto de comando do Movimento das Forças Armadas, que resolveu libertar a Nação das forças que há muito a dominavam. Viva Portugal!” (...) Sinto os olhos a desfazerem-se em lágrimas. Ainda assisti, ainda assisti à morte deste maldito meio século de opressão (...) Abro a janela e apetece-me berrar: acabou-se! (...) Antes de morrer, a Televisão mostrou-me um dos mais belos momentos humanos da História deste povo: a saída dos prisioneiros políticos de Caxias. (...)

E o telefone toca, toca, toca... Juntámos as vozes na mesma alegria. Só é pena que os mortos não nos possam também telefonar: o Bento de Jesus Caraça, o Manuel Mendes, o Casais Monteiro, o Redol (...) e outros, muitos, tantos...

Saio de casa. E uma rapariga que não conheço, que nunca vi na vida, agarra-se a mim aos beijos. Revolução.

 

José Gomes Ferreira, “Poeta Militante”

 

 

 

     

  

 

EU SOU PORTUGUÊS AQUI

 

Eu sou português

aqui

em terra e fome talhado

feito de barro e carvão

rasgado pelo vento norte

amante certo da morte

no silêncio da agressão.

 

Eu sou português

aqui

mas nascido deste lado

do lado de cá da vida

do lado do sofrimento

da miséria repetida

do pé descalço

do vento

 

Nasci

deste lado da cidade

nesta margem

no meio da tempestade

durante o reino do medo.

Sempre a apostar na viagem

quando os frutos amargavam

e o luar sabia a azedo.

 

Eu sou português

aqui

no teatro mentiroso

mas afinal verdadeiro

na finta fácil

no gozo

no sorriso doloroso

no gingar dum marinheiro.

 

Nasci

deste lado da ternura

do coração esfarrapado

eu sou filho da aventura

da anedota

do acaso

campeão do improviso,

trago as mãos sujas do sangue

que empapa a terra que piso.

Eu sou português

aqui

na brilhantina em que embrulho

do alto da minha esquina

a conversa e a borrasca

eu sou filho do sarilho

no gesto desmesurado

nos cordéis do desenrasca.

 

Nasci

aqui

no mês de Abril

quando esqueci

toda a saudade

e comecei a inventar

em cada gesto

a liberdade.

 

Nasci

aqui

ao pé do mar

duma garganta magoada no cantar.

Eu sou a festa

inacabada

quase ausente

eu sou a briga

a luta antiga

renovada

ainda urgente.

 

Eu sou português

aqui

o português sem mestre

mas com jeito.

Eu sou português

aqui

e trago

o mês de Abril

a voar

dentro do peito.

 

                        José Fanha

 

 

 

 

EU VIM DE LONGE...

 

 

 

Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de Maio começou
Eu olhei para ti
Então  eu entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha noutra mão
E tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou

[Refrão]


Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei p'ra aqui chegar
Eu vou p'ra longe
P'ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos p'ra nos dar

E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram frutos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão

Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei p'ra ti
E então eu entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou

Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
E tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi p'ra esta força que apontou.

Quando finalmente eu quis saber
Se ainda vale a pena tanto querer
Eu olhei p'ra ti
E então eu entendi
É um lindo sonho p'ra viver
Quando toda a gente assim quiser

Tenho esta viola numa mão
Tenho minha vida na outra mão
E tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel prò ajudar

E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar à solta
Que já não hesito
E os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer

 

 

 

       José Mário Branco

 

 

 

 

 

        

Salgueiro Maia                   Zeca Afonso                    Adriano C. de Oliveira 

 

      

Sophia M. Breyner          Vasco Gonçalves          José Cardoso Pires

 

A TODOS VÓS,

e a tantos outros, agradeço o exemplo, a palavra , a acção,os sonhos. A minha vida, sem qualquer de vós, não teria sido a mesma. Teria sido infinitamente mais pobre, mais cinzenta. Obrigada!

 

QUE O ESPÍRITO DE ABRIL VIVA EM NÓS

PARA SEMPRE!!!

 

publicado por Elisabete às 12:21
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