Segunda-feira, 23 de Março de 2009

Clint Eastwood sem idade...

 

Gran Torino

1. Não custa nada apontar as fraquezas de “Gran Torino”. O que talvez custe é suportar a denúncia de Walt Kowalski, o personagem central de “Gran Torino”. Clint Eastwood realizou um filme esquemático, com figuras-tipo e com enredo previsível, por isso, superficial? Em muitas passagens sentimentalonas, a chegar-se ao melodrama? Fugiu-lhe a mão? Patinou? Já disse quanto tinha a dizer? Ver “Gran Torino” desde esse ângulo significa perder a oportunidade de reconsiderar o nosso quotidiano doente, em vias de apodrecimento (ou já apodrecido?). Clint Eastwood quis que o filme fosse directo, essencial e suficientemente dramático para que abalasse, emocionasse e prendesse os espectadores. Julgo que o conseguiu. Oxalá as lágrimas, que as houve de certeza, não tenham sido de crocodilo.
 
2. A história de Walt Kowalski é a de um homem ferido. Cresceu numa sociedade desumana e absurda que espezinhou, dentro dele, os sentimentos e o atirou para o egoísmo, a recusa do outro e a solidão. Cresceu na sociedade do mercado, da prepotência, da indiferença e do racismo. Kowalski apercebeu-se do logro e isolou-se. Endureceu. Agora, tenta recusar a vida, a bater-lhe à porta: os vizinhos, uma família de imigrantes asiáticos. Deve considerá-los inferiores e recusar o que lhe confiam: aquilo que foi perdendo: humanidade, amizade. O resto, o leitor há-de sabê-lo, quando for ver “Gran Torino”. Mas acrescento o seguinte: Kowalski reconsidera o que o rodeia: um mundo vazio, assente em nada. Compara-o com o que lhe oferecem e decide aceitar e sacrificar tudo. No sacrifício, recupera o sentido da vida. A escolha devolve-lhe a alma.
 
Manuel Poppe, O Outro Lado
Jornal de Notícias [22.Março.2009]
publicado por Elisabete às 11:36
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

*mais sobre mim

*links

*posts recentes

* Clint Eastwood sem idade....

*arquivos

* Dezembro 2018

* Junho 2018

* Maio 2017

* Abril 2017

* Março 2017

* Fevereiro 2017

* Janeiro 2017

* Setembro 2016

* Junho 2016

* Abril 2016

* Novembro 2015

* Setembro 2015

* Agosto 2015

* Julho 2015

* Junho 2015

* Maio 2015

* Março 2015

* Fevereiro 2015

* Janeiro 2015

* Dezembro 2014

* Fevereiro 2014

* Janeiro 2014

* Dezembro 2013

* Novembro 2013

* Setembro 2013

* Agosto 2013

* Julho 2013

* Junho 2013

* Maio 2013

* Abril 2013

* Março 2013

* Fevereiro 2013

* Janeiro 2013

* Dezembro 2012

* Novembro 2012

* Outubro 2012

* Setembro 2012

* Agosto 2012

* Julho 2012

* Maio 2012

* Abril 2012

* Março 2012

* Janeiro 2012

* Dezembro 2011

* Novembro 2011

* Outubro 2011

* Setembro 2011

* Julho 2011

* Maio 2011

* Abril 2011

* Março 2011

* Fevereiro 2011

* Janeiro 2011

* Dezembro 2010

* Novembro 2010

* Outubro 2010

* Agosto 2010

* Julho 2010

* Junho 2010

* Maio 2010

* Abril 2010

* Março 2010

* Fevereiro 2010

* Janeiro 2010

* Dezembro 2009

* Novembro 2009

* Outubro 2009

* Setembro 2009

* Julho 2009

* Junho 2009

* Maio 2009

* Abril 2009

* Março 2009

* Fevereiro 2009

* Janeiro 2009

* Dezembro 2008

* Novembro 2008

* Outubro 2008

* Setembro 2008

* Agosto 2008

* Julho 2008

* Junho 2008

* Maio 2008

* Abril 2008

* Março 2008

* Fevereiro 2008

* Janeiro 2008

* Dezembro 2007

* Novembro 2007

* Outubro 2007

* Setembro 2007

* Agosto 2007

* Julho 2007

* Junho 2007

* Maio 2007

* Abril 2007

* Março 2007

* Fevereiro 2007

*pesquisar