Quinta-feira, 13 de Junho de 2013
Talvez estejamos mais perto de um surto de violência social do que imaginamos.
O que é a violência? Na quase impossibilidade de a definir, dir-se-á que ela aparece quando a força, por excesso, defeito ou qualidade, impede outra força de se exprimir segundo a sua natureza (ou: de ser e de perseverar no seu ser).
Daqui pode-se considerar vários tipos de violência: a) a que se recebe e se integra num corpo individual e colectivo, sem que ela represente uma ameaça à sua integridade; b) a que se recebe e que, não se integrando totalmente, se manifesta em disfuncionamentos que o poder dominante tenta corrigir, reprimir ou tratar, excluir ou apagar; c) a que se exerce provocando tais excessos de disfuncionamentos que a vítima que a sofre ou é destruída ou reage violentamente ao agressor.
Que condições são precisas para que a violência, soltando-se dos estratos em que estava sedimentada, se desencadeie no espaço público? Para que se passe do segundo ao terceiro tipo? Dois requisitos, pelo menos: que os dispositivos técnicos ou institucionais criados para controlar e transformar a violência se bloqueiem; e que a violência bloqueada, de meio para obter um fim devenha o seu próprio fim.
Não tendo onde se investir ela circula em excesso nas próprias instituições e só para as manter. O seu fim é agora apenas existir, porque a violência passa a fazer parte do funcionamento da instância que a segrega.
Tomemos como exemplo a política de Educação deste Governo. Os múltiplos disfuncionamentos dos governos anteriores produziram, mas foram controlando, o caos. O actual executivo continuou a política anterior, tornando 2011 e 2012 os anos mais horríveis que a escola conheceu, com um acréscimo de burocracia insuportável, a definição de critérios absurdos, a redução de professores contratados ou a passagem à reforma de docentes do quadro (que desmotivados, cansados, doentes, não aguentam mais), e uma indisciplina incontrolável dos alunos.
Os mega-agrupamentos, as modificações no ECD (ex.: a injusta abolição do artº 79, que levará a mais despedimentos), as condições das reformas, as 40 horas que impedem os professores de preparar as suas aulas e tantas outras medidas, tornam a escola num inferno. A educação, a aquisição do conhecimento, a formação do espírito e da cidadania, as relações professor-aluno, escola-comunidade, e a “escola de excelência” deixaram de ser pensadas. 2013 marca a subordinação definitiva dos fins aos meios. A Educação existe para perdurar no caos da sua política obedecendo ao Ministério das Finanças. Será o ano da destruição da escola pública, das políticas manhosas de “mobilidade” e de despedimentos maciços de 30 a 50 mil funcionários da Educação. O Governo arranja um bode expiatório, e faz uma fuga para a frente suicidária – porque os despedimentos colectivos trazem mais caos para o Estado, mais desempregados, mais bloqueios da administração, de economia e do crescimento, não esquecendo os seus efeitos nas famílias.
Outro exemplo poderia ser dado. Acontece que o Governo escolheu agora a Educação para abater brutalmente. A sua política suicidária leva à falência do Estado e de todos os portugueses. Situação geral que se resume assim: bloqueado o Governo bloqueia a função pública. Acelera então a austeridade, como única via possível. Austeridade que se volta contra a própria política governativa. Austeridade excessiva e violenta que liberta a violência contida nas próprias instituições que a controlam.
Por outro lado, as forças partidárias da oposição estão também bloqueadas. Na sociedade, entalada entre duas impotências, não suportando mais o papel de vítima sacrificial, o risco de irrupção da violência pode vir de qualquer lado. A exasperação geral é um poderoso combustível. Uma breve faísca basta para o fogo se propagar.
José Gil, VISÃO (06 Junho 2013)
Quarta-feira, 25 de Agosto de 2010
Uma perigosa reaccionária
Uma professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa ficou sem a regência de duas cadeiras por ter chumbado mais de 50% dos alunos. O motivo invocado pelo Departamento de Química da Nova para a punição não deixa dúvidas: "Aumento súbito do insucesso escolar". Desde que, no sistema educativo português, foi consagrado entre os direitos, liberdades e garantias fundamentais o direito ao sucesso escolar, quem se meta entre um aluno e o diploma a que tem direito (atrevendo-se, como no caso, a dar notas negativas em exames finais) é culpado do pior dos crimes, o de terrorismo anti-estatístico. Se o futuro licenciado sabe ou não sabe alguma coisa (ler, escrever e contar, por exemplo), é irrelevante; o país, as estatísticas e as caixas dos supermercados precisam de licenciados. Foi isso que a professora da Nova não percebeu. Arreigada a valores reaccionários, achava (onde é que já se viu tal coisa?) que "um aluno só merece 10 valores se adquiriu as competências mínimas nas vertentes teóricas e práticas da disciplina". Campo de reeducação em Ciências da Educação com ela.
Manuel António Pina, Por Outras Palavras
Jornal de Notícias [25.AGOSTO.2010]
Sábado, 26 de Setembro de 2009
EM DIA DE REFLEXÃO
Para quem agora me está a ler, hoje é sábado, dia 26 de Setembro, e o país está em período reflexivo porque amanhã vai a votos. Mas eu estou a escrever nove dias antes do domingo das eleições. Eleições que espero (como espero sempre…) que sejam muito participadas, com grandes filas nas assembleias de voto, com as pessoas motivadas a deitar nas urnas a expressão da sua vontade, seja ela qual for, incluindo a de fazer um grande risco no boletim, a liberdade também é isso. Só não percebo muito bem a "liberdade de não votar".
Talvez porque vivi muitos anos sem poder livremente votar em quem muito bem entendesse, não percebo como se pode desperdiçar um bem pelo qual tanta gente lutou tanto. Tenho dificuldade em aceitar os que viram a cara e dizem "não tenho nada a ver com isso, estou de costas". Sobretudo - e isso cada vez é mais frequente- quando se trata de gente nova. Os tempos são outros, dizem. Talvez.
Mas eu acho que é sobretudo uma grande falta de comunicação. A gente mais nova está cada vez mais habituada a que lhes falem diversas línguas: o gramatiquês, o futebolês, o politiquês, tudo meio cabalístico e sem comunicação com o exterior. Basta ver o enunciado de um teste, um relato de futebol, um encontro de um político com o eleitorado jovem - para se reconhecer estas linguagens. Falta que alguém se lembre, um dia, de lhes falar Português . Alguém que se chegue junto deles e não rodeie o discurso de metáforas, ou de Inglês-técnico, ou do vazio mascarado com palavras que até o Moraes (ou o Houaiss, para ser mais moderno) se veria aflito para descodificar.
Alguém que tenha a coragem de lhes dizer "a culpa também é vossa", tal qual fez o presidente Obama, numa escola dos Estados Unidos, num discurso que circula pela net. Ele não está com paninhos quentes e diz-lhes mais ou menos isto: eu já falei da responsabilidade dos vossos pais, da responsabilidade dos vossos professores, da responsabilidade dos vossos governantes. Agora é tempo de falar da vossa. Porque se vocês faltarem às aulas, se não ouvirem nada do que se diz na sala, se estiverem sempre desinteressados, se passarem o tempo todo agarrado à consola, se não se esforçarem por descobrir aquilo para que têm jeito - e toda a gente tem jeito para qualquer coisa - tudo o mais não serve de nada, e o país não anda.
É um discurso não muito longo, que era bom que circulasse nas nossas escolas, e fosse lido e discutido com os alunos para que eles sentissem o mal que todo o facilitismo tem feito ao longo destes tempos.
E sobretudo para que sentissem o peso de uma palavra que raramente utilizam com eles, mas da qual tudo depende: a palavra responsabilidade.
Alice Vieira
Jornal de Notícias
26 de Setembro de 2009
Domingo, 12 de Julho de 2009
Quase 52 mil vagas
no Ensino Superior
Jornal de Notícias (hoje)
Segunda-feira, 8 de Junho de 2009
Quem semeia ventos
colhe tempestades!
Acredito que os Professores foram parte importante desta tempestade.
Mas não tenhamos ilusões! Os partidos ditos do poder vão continuar com esta política na Educação.
É preciso que nas próximas Eleições Legislativas não nos deixemos iludir com o voto útil.
Só uma oposição forte, um contrapoder eficaz, pode obrigar o Governo a seguir políticas educativas credíveis e a respeitar a função docente.
Sexta-feira, 29 de Maio de 2009
Edvard Munch - O Grito
Sumariamente, pode-se dizer o seguinte: a dupla vertente da governação Sócrates que evocámos atrás – por um lado, o centralismo autoritário, regulador, fazendo intervir o Estado nos mais ínfimos mecanismos da vida social; por outro, a vontade de “emagrecer o Estado”, de reduzir o seu peso na sociedade civil, “modernizando” o seu funcionamento, leva a que os efeitos das reformas, e em particular a do sistema educativo, possam ser, na substância, puramente superficiais, não produzindo mudanças de fundo, e, na forma, imperativos pesadíssimos, tarefas insuportáveis e inexequíveis. Porquê? Porque – e refiro-me aqui ao Estatuto da Carreira Docente, ao Estatuto do Aluno e à avaliação dos professores – a vertente autoritária e super-reguladora do Estado exerce-se fundamentalmente e quase exclusivamente na forma, na burocracia, nas centenas de documentos, formulários, regulamentações que os professores devem estudar, preencher, horários extraordinários que devem cumprir, etc., sem que os conteúdos do ensino, a substância da relação de aprendizagem professor-aluno seja tratada. Quem examine em pormenor toda esta extraordinária burocracia, que já é pós-kafkiana, a que estão submetidos os professores fica com a ideia de que uma espécie de delírio atravessa quotidianamente os conceptores e decisores do MNE. É verdade que o governo recuou depois das manifestações e greves dos professores. Mas não esqueçamos que toda aquela burocracia que caiu sobre os professores, sufocando-os, impedindo-os de ensinar, foi pensada para ser aplicada – o que revela mesmo um certo delírio na concepção das tecnologias de biopoder. O processo de domesticação dos professores está em curso – e longe de ter terminado. Mas o que se passou chegou para ver que tipo de “modernização" da educação, através da avaliação, está nos espíritos dos governantes, mesmo se estes, pela resistência dos professores, que contaminou a opinião pública, foram levados a ceder em certos aspectos.
Porquê tudo isto? Porque o interesse do Governo é, antes de mais, cumprir a racionalidade orçamental, levando dezenas de milhares de professores a abandonar a escola. Através, afinal, de um sistema educativo em que avaliar significa desnortear, desanimar, dominar, humilhar, desprezar os professores, os alunos e a educação. É o máximo de mais-valia de biopoder que o Governo quer extrair – com o risco, inevitável, de o sistema se voltar contra si mesmo.
Durante o período de confronto mais agudo entre professores e o Ministério da Educação, o Governo reagiu segundo uma estratégia que lhe é própria: às manifestações de massa (100 000 e 140 000 pessoas na rua), às greves de professores (mais de 90% de participação), respondeu com o silêncio e a inacção. Justificando-os com esta frase: “Estamos em democracia, toda a gente tem o direito de se manifestar. Que se manifestem à vontade. Mas nós temos também o direito de continuar a fazer o que fazemos.” Ou seja, quanto a nós, continuaremos a enviar-lhes directivas, portarias, regulamentos a cumprir sob pena de… (ser punido segundo a lei). Fugindo à contenda, tornando-se ausente, o poder torna a realidade ausente e pendura o adversário num limbo irreal. Deixando intactos os meios da contestação mas fazendo desaparecer o seu alvo, desinscreve-os do real. É uma técnica de não-inscrição. Ao separar os meios do alvo, faz-se do protesto uma brincadeira de crianças, uma não-acção, uma acção não-performativa. Esta reduz-se a um puro discurso contestatário, esvaziado do conteúdo real a que reenviava (é o avesso, no plano da acção, do enunciado de Austin: um acto que é um discurso). Resultado: o professor volta à escola, encontra a mesma realidade, mas sofre um embate muito maior. É essa a força da realidade. É essa a realidade única. E é preciso ser realista. Assim começa a interiorização da obediência (e, um dia, do amor à servidão, como notou La Boétie).
No processo de domesticação da sociedade, a teimosia do primeiro-ministro e da sua ministra da Educação representam muito mais do que simples traços psicológicos. São técnicas terríveis de dominação, de castração e de esmagamento e de fabricação de subjectividades obedientes. Conviria chamar a este mecanismo tão eficaz “a desactivação da acção”. É a não-inscrição elevada ao estatuto sofisticado de uma técnica política, à maneira de certos processos psicóticos.
José Gil, Em Busca da Identidade – o desnorte
Segunda-feira, 13 de Abril de 2009
Para quando a inversão urgente na Educação? Estamos quase a bater no fundo do poço. Em Portugal como na Alemanha e não só...
Os professores
Já de si, a vida dos professores não é fácil. Para já, os outros grupos sociais têm-lhes um desprezo latente. Este deve-se ao facto de nunca terem abandonado o sistema escolar para se afirmarem na vida fora do mesmo. Após o tempo da escola, transferem-se para uma universidade, de onde regressam à escola para se tornarem funcionários públicos. Semelhante percurso pode ser interpretado como sinal de medo perante a vida, e de incapacidade. Para além disso, qualquer um de nós se recorda com especial precisão dos professores que no nosso tempo de escola fizeram figuras deploráveis. Isso aumenta o desprezo. Acresce que os professores têm mesmo uma determinada doença profissional: lidam, dia após dia, com adolescentes e crianças; assim, é inevitável que facilmente se tornem infantis. Um contacto permanente tem os seus reflexos no estilo comunicativo do lado oposto: esta é uma lei social. Os professores são, por isso, facilmente capazes de se exaltar com coisas secundárias e de fazer de uma mosca um elefante.
Mas este desprezo é injusto face a uma tarefa que nem um gestor experiente, nem um empresário com nervos de aço haveria de aguentar durante uma manhã sem pensar em fugir: nomeadamente a de levar uma horda de selvagens sem interesse na aprendizagem, mal-educados e habituados ao entretenimento televisivo a interessarem-se pela sublimidade do Idealismo alemão, enquanto estes não pensam noutra coisa senão organizarem ataques à dignidade do professor. Ninguém fora do recinto escolar faz uma pequena ideia deste combate diário contra a insolência pura e simples, a maldade sádica e a crueza mental. E o que é pior é que o professor ainda por cima tem de suportar que lhe sejam apontadas responsabilidades pela rudeza e falta de educação dos seus alunos: ele próprio tem a culpa; ele é que não tem mão na turma, os alunos não curtem as suas aulas, pelo contrário, sentem-se maçados. Quem o souber, venha daí e diga como é que alguém há-de pôr os miúdos a curtir a “Ifigénia” de Goethe: já ninguém espera da miudagem que traga de casa um mínimo de civilização. O seu comportamento é unicamente imputado às aulas, ao passo que na realidade padecem de falta de capacidade de concentração e de défices educacionais de fabrico caseiro.
Nesta situação, os ministros da cultura e as administrações escolares, cujos representantes mal devem conhecer a situação nas escolas por experiência própria, retiraram aos professores a maior parte dos meios disciplinares, de modo que agora existe uma desigualdade de armas absoluta. Castigos como repreensões, admoestações, notificações, notificações dos pais e – no caso de faltas graves – a ameaça de exclusão ou a exclusão efectiva da escola encontram-se tão cerceados por regulamentos, requerimentos, votações e reuniões escolares que qualquer professor prefere prescindir deles: com todo este aparato, ele castigar-se-ia sobretudo a si próprio. Como os alunos estão a par disso, ainda fazem troça dele.
Ora, como os professores são oficialmente culpados pelos seus próprios problemas, são empurrados para a via da mentira; fazem segredo das suas próprias dificuldades. Um discurso público (troca de pensamentos e opiniões) em que os seus problemas pudessem ser descritos não existe. Deste modo quebra-se a solidariedade entre os professores, que passam a concorrer uns com os outros com uma mentirosa política de imagem pública. Fingem-se bem sucedidos e fazem de conta que não têm problemas. Na realidade, muitos de entre eles encontram-se profundamente desmoralizados. Tanto mais assim é se, em tempos, compartilharam ideais educacionais de esquerda. Na sua própria perspectiva, falharam duplamente e têm de escamotear essa realidade para assegurarem a sua sobrevivência psíquica.
Entretanto as escolas tornaram-se quase por completo presas dos partidos políticos. São poucos os postos de director de escola ocupados sem se olhar à filiação partidária dos candidatos. O partido que se encontra no governo do respectivo Estado federal serve-se da política de ensino para ter alguma coisa para apresentar na próxima campanha eleitoral: uma nova medida, uma nova concepção apaixonante, um novo rótulo interessante. Deste modo, a escola, que necessita de poder fazer planificações de longo prazo, em mantida em ebulição por sucessivos inventos-fantasma: aulas interdisciplinares, projectos, novas constituições escolares, modelos de gestão partilhada, formas de envolver os pais sucedem-se uns aos outros e gastam o ar rarefeito da esperança pela sua própria fragilidade.
Em resumo, as escolas estão num estado tão lastimável que a miséria permanece completamente desconhecida, visto a sua dimensão ser inconcebível.
Isto não significa que não existam, aqui e ali, escolas funcionais, directores empenhados e professores bem sucedidos, assim como alunos medianamente felizes. Talvez até existam bastantes. Mas escolas assim já não são a regra, passando as outras por excepções; antes, as escolas do horror são consideradas tão normais como as outras.
Tal estado de coisas deve-se ao facto de se terem perdido as referências. Já não se sabe o que deve ensinar-se, e com que finalidade. Uma vez que os antigos cânones da educação escolar parecem ser redutores e caducos, desistiu-se das normas por completo. Aqui é que reside o erro. É desta confusão que todo o novo início tem de partir. […]
Dietrich Schwanitz, CULTURA - Tudo o que é preciso saber
Quarta-feira, 11 de Março de 2009
1.Convidaram-me para falar de livros, numa escola secundária. De literatura e de teatro, espelhos de vida, que reflectem a luz de mil e uma estradas, interrogam, sugerem caminhos. Durante mais de noventa minutos, tive à minha volta jovens cujo futuro se joga em cada instante. Até naquela simples conversa. Porque nenhuma conversa é pacífica, inconsequente, quando sincera: sempre alguma coisa fica. A turma reunia estudantes de ciências naturais, economia, matemática e uma aluna de artes. Companheiros, afinal, de um mesmo combate: a conquista da personalidade própria, que se esboça, experimenta, tacteia, afirma. Difícil era agarrar duas coisas: a confiança e a atenção. Havia, neles, porém, curiosidade e vontade de encontrar respostas. Não lhas dei eu: discutimo-las juntos, em boa fé. Os professores fazem isso todos os dias, com três blocos de noventa minutos seguidos. Apaixonante mas arrasador.
2.E concluí que o problema da avaliação dos professores esconde (e ao poder serve que esconda) outros não menos graves: carência de pessoal docente, que assoberba de trabalho os que ainda existem (e resistem); acumulação de funções administrativas, que lhes não cabem (matrículas, pautas); impossibilidade cronométrica (falta de tempo) de se actualizarem. Leitor: o professor não é um funcionário público igual aos mais. Para lá do ensino, é psicólogo, assistente social, empregado de secretaria. Como conseguiu a professora que me convidou obter os resultados que obteve: alunos informados, disponíveis, interessados? Certamente, graças ao sacrifício e à abnegação, timbre dos verdadeiros mestres.
Manuel Poppe, O Outro Lado
Jornal de Notícias [8.Março.2009]
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009
Sem comentários!
Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2009
TODOS À CONCENTRAÇÃO/MANIFESTAÇÃO
DE 24 DE JANEIRO
EM FRENTE DO PALÁCIO DE BELÉM
Hoje estamos em greve, porque as nossas exigências são justas e porque não queremos aceitar as pressões, as chantagens pelo medo e os pequenos subornos com que o Governo pretende dividir e amedrontar os professores.
Hoje estamos em greve, porque a nossa dignidade individual e profissional não está à venda.
MAS A NOSSA LUTA NÃO PODE PARAR AQUI.
NO DIA 24 DE JANEIRO VAMOS TODOS A BELÉM
para que os portugueses percebam que a luta dos professores é uma causa de toda a sociedade, e não apenas de um grupo socioprofissional, e para que todos os poderes e responsáveis pelo país – sejam o Presidente da República, o Governo, a Assembleia da República – saibam ouvir a indignação e o descontentamento dos professores face aos ataques que têm minado a Escola Pública e as suas condições de trabalho.
APEDE (Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino)
CDEP (Comissão em Defesa da Escola Pública)
MEP (Movimento Escola Pública)
MUP (Movimento de Mobilização e Unidade dos Professores)
PROMOVA (Movimento de Valorização dos Professores)
A UNIÃO FAZ A FORÇA
Domingo, 18 de Janeiro de 2009
GREVE: uma pequena batalha para vencer a grande guerra
19 DE JANEIRO GREVE PELO FUTURO... LUTA AGORA! |
Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2009
UNIR e RESISTIR
GREVE NACIONAL
19 de Janeiro
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MANIFESTAÇÃO/CONCENTRAÇÃO
PALÁCIO DE BELÉM
LISBOA
24 de Janeiro 2009
14:30H
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Terça-feira, 13 de Janeiro de 2009
A FORÇA DA RAZÃO
Nunca se esqueça de que se encontra sempre algo de muito especial em fazer uma coisa que tem algum significado. O que tira a genica a um homem é fazer um trabalho que não conduz a nada. O nosso é lento, mas é todo feito numa direcção.
John Steinbeck, Batalha Incerta
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Acabo de ler estas palavras. Sem qualquer esforço, regressou à minha consciência a luta que, hoje, travam os Professores.
Quando comecei a dar aulas, estava cheia de ilusões. Achava que o meu trabalho, completando o de outros, perseguia o objectivo mais nobre de todos: acender as luzes da razão nas cabecinhas dos jovens do meu país e contribuir, assim, para a sua formação como cidadãos e indivíduos capazes de gerir conscientemente a sua vida e de contribuir para o desenvolvimento do país, conquistando assim um pouco mais de felicidade.
À medida que foram surgindo reformas e mais reformas do Ensino; papéis e mais papéis para preencher (o trabalho lectivo foi sufocado por trabalho burocrático, de secretaria); estatísticas forçadas de sucesso; indisciplina e desrespeito pela função docente; teorias, sem pés nem cabeça, fabricadas por iluminados que não gostam de dar aulas; etc., etc., etc., comecei a sentir que o meu trabalho não conduzia a nada, ou a muito pouco, o que fazia de mim uma profissional insatisfeita, desiludida, infeliz. A ausência de significado tira a genica…
Tentei, sempre e de todas as formas ao meu dispor, contribuir para alterar este estado de coisas. Infelizmente, a cada mudança de Ministro, as coisas quase sempre pioravam. Os interesses instalados à volta Ministério são demasiado fortes: muita gente que, não querendo voltar às Escolas, tem de “mostrar serviço” e, então, é só produzir despachos e decretos, teorias (muitas vezes, mal copiadas do estrangeiro) e experiências que não são devidamente avaliadas e que, portanto, não servem para nada. Melhor, servem para contribuir para a ruína.
Cheguei a um ponto em que só tinha um objectivo: a reforma. É essa a situação em que me encontro e nunca me arrependi de me vir embora, apesar de muito penalizada pelas medidas das últimas ministras.
Hoje, face à luta travada nas Escolas, tenho pena de não me encontrar no activo. Pela primeira vez, vejo os Professores unidos e determinados a fazer ouvir a sua voz. Uma voz que exige condições de trabalho e o reconhecimento da dignidade da função docente, mas também uma Escola Pública de qualidade.
Estou orgulhosa dos meus colegas e solidária com a sua luta. Tudo faz sentido quando se caminha na mesma direcção. Não há nada capaz de vencer quem se mantém unido na certeza de ter razão.
Resistir! Persistir!
Quinta-feira, 8 de Janeiro de 2009
Falar politicamente incorrecto...
Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008
Assim se fecham corações
Como podia eu, com um coração tão vasto que, como canta Jacques Brel, só se consegue ver metade dele, deixar de acreditar no que me garantia há meses, olhos nos olhos, o primeiro-ministro, que "ninguém que esteja com o coração limpo, com o coração aberto, pode concluir que esta proposta do Governo de Código do Trabalho não se destina a combater a precariedade e a defender os trabalhadores"?
Foi, por isso, um tremendo choque para o meu pobre, "limpo" e "aberto" coração ficar a saber pelo Tribunal Constitucional que o alargamento de 90 para 180 dias do período experimental afinal "dificulta o acesso […] à segurança no emprego". A agitação que vai no meu coração, com aurículas e ventrículos recriminando-se mutuamente e a tricúspide mergulhada em profunda crise de confiança nas instituições! De tal modo que, quando quis convencer o coração de que, como o primeiro-ministro garante agora, "a avaliação dos professores é indispensável para a melhoria do sistema educativo em Portugal nos próximos anos", o coração, outrora crédulo, me fez - imagine-se! - um manguito. Ou talvez não tenha sido a mim.
Manuel António Pina, Por Outras Palavras
Jornal de Notícias [29Dez2008]
Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008
Coincidências? Talvez não...
A Brigada do Reumático e o Grupelho dos 13
A 14 Março de 1974, quando o Estado Novo se encontrava no estertor da agonia, um grupo de oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas realizou uma cerimónia de solidariedade com o regime, na sequência da qual Marcelo Caetano, em agradecimento, afirmou: «O país está seguro de que conta com as suas Forças Armadas e em todos os escalões destas não poderão restar dúvidas acerca da atitude dos seus comandos». Os apoiantes do Presidente do Conselho ficaram sugestivamente conhecidos como a «Brigada do Reumático».
Pouco mais de um mês depois dava-se o 25 de Abril. A acção da «Brigada do Reumático», ao contrário do que afirmara Marcelo Caetano, prenunciava, afinal, a queda do regime.
No passado dia 12 de Dezembro, um grupo de professores próximos ou filiados no PS (tanto quanto consta porque até ao momento ocultaram a sua identidade), foi mostrar solidariedade à Ministra da Educação, a quem apresentou um “Manifesto pela Avaliação de Desempenho Docente“.
Este caricato evento, longe de se afigurar como um mero facto isolado, inscreve-se numa estratégia mais vasta, visando construir uma imagem artificial de divisão dos professores e de unidade do partido governamental em torno da política educativa, onde se inclui a recepção de professores militantes do PS no Largo do Rato, o encontro da ministra com a JS e a mobilização geral dos opinadores socratinos para doutrinarem as massas nos jornais, rádios e televisões.
Se o objectivo do Manifesto é forjar uma ideia de força, a encenação do Grupelho dos 13, à semelhança da iniciativa da Brigada do Reumático, antolha-se-nos, ao invés, como uma clamorosa demonstração de fraqueza, um prenúncio dos dias do fim de um poder autocrático e incompetente, alicerçado nas frágeis bases da demagogia e da mentira, que - usando as sábias palavras de Manuel Alegre - transformou a democracia num teleguiado regime da imagem, da sondagem e da sacanagem…
Mário Rodrigues,
in A Educação do meu Umbigo
Segunda-feira, 15 de Dezembro de 2008
Uma flor para cada Professor em luta
Colegas,
Porque a vossa luta é...
pela dignidade da função docente;
contra a burocracia;
pelo direito dos alunos a um ensino de qualidade;
pela Educação;
pelo futuro de Portugal.
Sinto-me orgulhosa da vossa coragem.
Os tecnocratas podem ser vencidos pelos valores da cultura e do humanismo.
Não podemos dar guarida ao desânimo.
Esta luta é para ganhar!!!
Sábado, 13 de Dezembro de 2008
Para que se entenda a luta dos Professores
A escola deles destina-se (Maria de Lurdes Rodrigues dixit) a "qualificar". A escola deles serve para que os jovens das classes baixa e média baixa adquiram as competências instrumentais que o mercado requer para o País ser "competitivo". Na escola deles, as Ciências, as Artes, as Letras, a Filosofia são luxos para quem os possa pagar. A escola deles é tecno-burocrática, está ao serviço da oligarquia e é, no sentido mais literal do termo, profundamente reaccionária.
A nossa escola destina-se a ensinar e a aprender. A nossa escola é civilizadora. Na nossa escola, todos, mas mesmo todos, têm de ter acesso ao melhor que a nossa civilização tem para dar. Pode ser que a maioria não queira chegar lá - mas todos têm que ter essa possibilidade. Na nossa escola, as Ciências, as Artes, as Letras, a Filosofia são um património irrenunciável de todos. A nossa escola está ao serviço da República. A nossa escola permite a formação de elites, mas, ao contrário da deles, não aprisiona as pessoas em castas.
Contra as OCDE's, contra os Sócrates, contra as Marias de Lurdes Rodrigues, contra as burocracias ministeriais, a nossa escola é um ideal pelo qual vale a pena lutar: com sacrifício, com esforço, com perseverança, com inteligência e com coragem. Durante décadas, se for preciso. Recorrendo até à desobediência civil, porque mesmo a legitimidade conferida pelo voto fica invalidada quando a governação se faz, conscientemente e como é actualmente o caso, em detrimento da República.
Muito antes de ser uma organização do Estado, já a Escola era uma instituição da Sociedade. Defendê-la-emos por todos os meios ao nosso alcance, se necessário contra o próprio Estado. E se os inimigos da Escola Pública e Republicana jogarem sujo, também nós seremos capazes de o fazer.
José Luiz Sarmento