No dia 9 de Novembro, Amândio Silva, Camilo Mortágua, Fernando Vasconcelos, João Martins, Maria Helena Vidal e Palma Inácio partiram de Tânger para Casablanca, já de noite, com os carros completamente às escuras durante cerca de dez quilómetros, para não serem detectados pelos agentes da PIDE ou outros.
No dia 10, no aeroporto de Casablanca, os seis foram entrando como passageiros, levando seis mil panfletos (denunciando a farsa eleitoral que se devia realizar dois dias depois) nas suas malas, que não foram abertas, como tinham verificado ser habitual. Era um voo directo para Lisboa, que deveria partir às nove horas e um quarto e ter uma duração de hora e meia. Ao aproximarem-se de Lisboa foi desencadeada a operação de tomada de controlo do avião, depois de Maria Helena ter retirado da sua cinta as cinco pistolas que levava. Tudo decorreu discretamente, graças à determinação de Palma Inácio, que rapidamente convenceu o comandante do avião e a restante tripulação a fazerem o que ele lhes ordenasse.
Sobrevoou Lisboa a baixa altitude largando panfletos em catadupa, que desciam lentamente no centro de Lisboa, perante o olhar espantado de toda a gente, depois iniciou o regresso a Marrocos não sem, pelo caminho, largar ainda panfletos sobre o Barreiro, Seixal, outras localidades da Margem Sul e Faro.
Aterraram em Tânger três horas depois da sua partida de Casablanca. Tinham à sua espera Henrique Galvão, muitos jornalistas e autoridades marroquinas que lhes asseguraram um estatuto de asilo provisório até se encontrar um país que os recebesse, que acabou por ser o Brasil.
A Operação Vagô decorreu como previsto e teve um grande impacte na imprensa mundial, voltando a denunciar o regime de Salazar.
José Hipólito Santos, A Revolta de Beja
[…]
A revolta militar do Norte, em 1946, foi um teste para a operação com grande participação, organizada para eclodir em Abril de 1947. O Movimento em embrião tinha a cobertura e a orientação da denominada Junta de Libertação Nacional, criada em 1946.
Trata-se de uma organização ilegal “constituída com fins manifestamente subversivos (…) para a sublevação das Forças Armadas, (para), por estes meios, alterar a Constituição Política do Estado e mudar a forma de Governo…”. Era assim que a Ditadura a classificava.
Dessa Junta faziam parte: vice-almirante José Mendes Cabeçadas Júnior; general José Garcia Marques Godinho; brigadeiro Eduardo Corregedor Martins; brigadeiro António de Sousa Maia; coronel Celso Mendes de Magalhães; coronel Carlos Tavares Afonso dos Santos e o civil doutor João Soares.
Nos “autos” de 1947, citados por Fernando Queiroga, não existe referência ao coronel de Infantaria Luís Gonzaga Tadeu e ao tenente José Joaquim Gaita, que constam na ordem do exército 2ª série, nº 6, de 5 de Julho de 1947, como desligados do serviço desde 14 de Junho de 1947, por decisão do Conselho de Ministros. Não existem referências a muitos outros oficiais, sargentos, praças e civis que assumiram o compromisso de operacionalizarem o derrube de Salazar sob os auspícios da referida Junta.
A logística da operação foi preparada e financiada sobretudo por industriais e empresários portugueses, dos quais destacamos Lúcio Tomé Feteira, um dos industriais que posteriormente viria a ajudar Palma Inácio no Brasil e a financiar outras operações para depor Salazar.
O centro da acção foi determinado para a região de Tomar. Havia, consequentemente, necessidade de neutralizar as unidades que não haviam manifestado receptividade ao golpe militar ou onde não havia confiança plena em oficiais hesitantes.
Todos os oficiais foram desligados de serviço e passados à reforma, por deliberação do Conselho de Ministros, em 14 de Junho de 1947. Todos eles foram entregues aos tribunais militares ou plenários civis, que os haviam de julgar por “crimes contra a organização do Estado”, os previstos e punidos pelo artº 167 do Código Penal.
Palma Inácio foi um desses civis que aceitou, por proposta do tenente Quilhó, que fazia a ponte com o brigadeiro da Aeronáutica António de Sousa Maia, participar no levantamento militar.
No âmbito do Movimento, foi-lhe adstrita a missão de sabotar todos os aviões que se encontravam na Base Aérea nº 1, em Sintra, no sentido de não poderem vir a operar contra as forças revoltosas. Tratava-se de uma unidade militar com a qual o movimento não contava.
Palma Inácio terá afirmado ao tenente Quilhó: “estes gajos estão sempre a preparar levantamentos militares que não dão em nada”. Porém, assumiu fazer parte da conspiração até porque a missão de que fora incumbido “caía-lhe como uma luva”. Primeiro, porque tinha ali feito toda a sua formação militar. Segundo, porque, mesmo eliminado do serviço militar, continuava a ter horas de voo no Air Clube, sediado na referida base. Terceiro, porque nela se mantinham ainda alguns ex-camaradas amigos.
Luís Vaz, Palma Inácio e o Golpe dos Generais (1947)
* Outros BLOGUES onde estou...
* MEMÓRIAS
* RECANTOS
* BLOGUES COM "EDUCAÇÃO"
* Ecos
* Movimento dos Professores Revoltados
* Movimento Mobilização e Unidade dos Professores
* Não calarei a minha voz... até que o teclado se rompa
* Paideia:reflectir sobre Educação
* Sem Rede
* IMPRENSA
* Expresso
* Público
* Visão
* OUTROS BLOGUES
* Murcon
* SÍTIOS
* Arquivo Maria de Lourdes Pintasilgo
* G.A.I.A.
* OPERAÇÃO VAGÔ: Desvio de ...
* PALMA INÁCIO e o Golpe do...