Segunda-feira, 2 de Setembro de 2013
enquanto há força
Concerto de Tributo à vida e obra de José Afonso integrado nas iniciativas de comemoração do 26º aniversário da Associação José Afonso
De nada me arrependo
Só a vida
Me ensinou a cantar
Esta cantiga
In “Alegria da Criação”(José Afonso in “Galinhas do Mato”,1985)
“José Afonso é o nosso maior cantor de intervenção. Este elogio tão consensual e aparentemente tão generoso é a forma mais eficaz de liquidar a obra do grande mestre da música popular portuguesa no que ela tem de universal e de artisticamente superior. (…) Arrumar José Afonso na gaveta da canção de intervenção, é não compreender que a dimensão da sua obra está ao nível do que de mais importante se fez na música popular universal do século XX. E se não teve o impacto mundial que merecia, foi tão-somente porque ele nasceu onde nasceu.”
Guilhermino Monteiro | João Lóio| José Mário Branco | Octávio Fonseca in “José Afonso, Todas as Canções”.
Por tudo isto, no dia 20 de Outubro, pelas 21h, com o apoio empenhado da CASA DA MÚSICA (Porto) e de muitas outras entidades, “companheiros de estrada” do Zeca distraído e de óculos grandes – conjuntamente com gente nova que cresceu com o “poeta, andarilho e cantor” – prestam tributo a um amigo maior que o pensamento.
ASSOCIAÇÃO JOSÉ AFONSO
Aquisição de bilhetes na CASA DA MÚSICA ou:
http://www.casadamusica.com/CulturalAgenda/event_detail.aspx?id=A9D4DB8D-A6AD-488C-B5FB-FBF35B8ADEC1&idShow=85FD0934-1FDF-4E2D-854F-9D116C974317&channelID=974A26B0-2329-4F77-AB20-F366139E22F4&contentID=DE1B3CCF-F2AD-4652-8BD7-F5BC9556444E&leftChannelID=974A26B0-2329-4F77-AB20-F366139E22F4
Domingo, 6 de Fevereiro de 2011
Que parva que eu sou
Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou!
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar,
Que parva que eu sou!
E fico a pensar
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
"Deolinda"
Domingo, 23 de Janeiro de 2011
Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei
Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei
Sempre há quem roube
Quem eu deseje
E de mim mesmo
Todos me roubam
Quem cantarei
Quem cantarei
Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei
Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei
Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo
Aqui d'El-Rei
Música: Zeca Afonso
Letra: Jorge de Sena
in Traz outro amigo também
Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010
Ninguém Escreve à Alice
Era Outono e a tristeza
Caía naqueles lados
Como se dobrassem sinos
Com um toque de finados
O mundo chamava Alice
E ela sem vontade de ir
Tão cedo para estar amarga
Mais ainda para cair
Talvez uma só palavra
Talvez um só motivo
Pudesse mudar a agulha
Dum coração à deriva
Mas o carteiro passou
Nada deixou nada disse
E o recado não chegou
Ninguém escreve à Alice
Ninguém escreve à Alice
Até que veio o Inverno
Do seu descontentamento
Que lhe enregelou a alma
Com um frio mudo e lento
E uma noite foi para a rua
Com roupas de ritual
Ao longe brilhavam néons
Foi notícia no jornal
Talvez uma só palavra
Talvez um simples recado
Pudesse mudar a agulha
Dum coração desvairado
Mas o carteiro passou
Nada deixou nada disse
E o recado não chegou
Ninguém escreve à Alice
Mas o carteiro passou
Nada deixou nada disse
E o recado não chegou
Ninguém escreve à Alice
Letra: Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Quarta-feira, 10 de Março de 2010
Foto: Margarida Madruga
Do que um homem é capaz
Do que um homem é capaz
As coisas que ele faz
P’ra chegar aonde quer
É capaz de dar a vida
P’ra levar de vencida
Uma razão de viver
A vida é como uma estrada
Que vai sendo traçada
Sem nunca arrepiar caminho
E quem pensa estar parado
Vai no sentido errado
A caminhar sozinho
Vejo a gente cuja vida
Vai sendo consumida
Por miragens de poder
Agarrados a alguns ossos
No meio dos destroços
Do que nunca vão fazer
Vão poluindo o percurso
Com as sobras do discurso
Que lhes serviu para abrir caminho
À custa das nossas utopias
Usurpam regalias
Para consumir sozinho
Com políticas concretas
Impõem essas metas
Que nos entram casa dentro
Como a Trilateral
Com a treta liberal
E as virtudes do centro
No lugar da consciência
A lei da concorrência
Pisando tudo pelo caminho
P’ra castrar a juventude
Mascaram de virtude
O querer vencer sozinho
Ficam cínicos, brutais
Descendo cada vez mais
Para subir cada vez menos
Quanto mais o mal se expande
Mais acham que ser grande
É lixar os mais pequenos
Quem escolhe ser assim
Quando chegar ao fim
Vai ver que errou o seu caminho
Quando a vida é hipotecada
No fim não sobra nada
E acaba-se sozinho
Mesmo sendo os poderosos
Tão fracos e gulosos
Que precisam do poder
Mesmo havendo tanta gente
Para quem é indiferente
Passar a vida a morrer
Há princípios e valores
Há sonhos e há amores
Que sempre irão abrir caminho
E quem viver abraçado
À vida que há ao lado
Não vai morrer sozinho
E quem viver abraçado
À vida que há ao lado
Não vai viver sozinho
José Mário Branco, Resistir é Vencer
Sexta-feira, 1 de Janeiro de 2010
Hoje quem
Hoje quem acordou na minha cama,
hoje quem é que eu sou?
Já é manhã mas esta noite ainda não passou.
Que força tenho quando me tenho só a mim,
de quem mais eu preciso para respirar?
A minha cara faz-me sempre lembrar alguém…
E os meus olhos são de quem?
Eu queria ser como tu.
Eu queria crer como tu.
Eu queria ser como eu
mas dos meus sonhos acorda outro alguém.
Eu queria ser como quem?
Hoje quem acordou na minha carne
e que sonhos roubou
na madrugada de um dia que já passou?
Todo o tempo é tempo de acreditar.
Mas tanto tempo já passou
sem que a fé encontrasse em mim lugar…
(Estava sempre onde eu não queria estar.)
Eu queria ser como tu.
Eu queria crer como tu.
Eu queria ser como eu
mas dos meus sonhos acorda outro alguém.
Eu queria ser como quem?
Hoje quem acordou na minha cama,
hoje quem é que eu sou?
Já estou a pé e o dia ainda nem chegou…
Nuno Prata (ex-Ornatos Violeta),
in Todos os dias fossem estes/outros
Domingo, 1 de Novembro de 2009
Coliseu do Porto com casa cheia e ao rubro
José Mário Branco, Sérgio Godinho, Fausto: juntos no Porto, no Coliseu.
Três cantos diferentes, unidos por um mesmo caminho de comprometimento e fidelidade a um ideal. Hoje como ontem.
O Porto rendeu-se, ontem à noite, a estes três homens, à sua música, àquilo que significam.
Quanto a mim, há anos que não me sentia assim: uma enorme emoção obrigou-me a recuar no tempo e devolveu-me alguma esperança. Esta é, de facto, a minha gente. A gente que rejeita o conformismo e os homens de sucesso, egoístas e indiferentes. A gente que defende os que dormem na valeta, os que não têm acesso à cultura e a uma vida com dignidade. A gente solidária e generosa com quem sonhei, um dia, transformar o meu país.
Sei que a situação é, hoje, muito diferente. Sei que as pessoas mudaram. Sei que eu própria amadureci e já não acredito em milagres. Mas também sei que enquanto houver alguém que se emociona, canta, vibra e chora em comunhão, nem tudo está perdido. E esta noite foi UM MILAGRE! Recuei trinta anos. Voltei à pureza inicial, ao rio quente da fraternidade, à vontade de não desistir, à certeza de que vale a pena continuar a lutar por aquilo que quero para mim e para os outros. Senti-me viva, verdadeiramente viva, como naqueles dourados tempos de Abril.
Obrigada, Fausto!
Obrigada, Sérgio!
Obrigada, Zé Mário!
Continuaremos juntos a avisar e a animar a malta!
música:
Sexta-feira, 10 de Julho de 2009
Passeio dos Prodígios
Vamos lá contar as armas
tu e eu, de braço dado,
nesta estrada meio deserta
não sabemos quanto tempo as tréguas vão durar…
Há vitórias e derrotas
apontadas em silêncio
no diário imaginário
onde empilhamos as razões para lutar!
Repreendo os meus fantasmas
ao virar de cada esquina
por espantarem a inocência
quantas vezes te odiei com medo de te amar…
Vejo o fundo da garrafa
acendo mais outro cigarro
tudo serve de cinzeiro
quando os deuses brincam é para magoar!
Vamos enganar o tempo
saltar para o primeiro comboio
que arrancar da mais próxima estação!
Para quê fazer projectos
quando sai tudo ao contrário?
Pode ser que, por milagre,
troquemos as voltas aos deuses.
Entre o caos e o conflito
a vontade e a desordem
não podemos ver ao longe
e corremos sempre o risco de ir longe demais.
Somos meros transeuntes
no passeio dos prodígios
somos só sobreviventes
com carimbos falsos nas credenciais.
Vamos enganar o tempo…
Jorge Palma
Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2008
Ontem à noite pus-me a reflectir
Nas coisas da vida em vez de dormir
Tive um quebranto fiquei surdo e mudo
Tolhido de espanto mas percebi tudo
O mundo era meu sentia-me um rei
O tempo era extenso e eu ditava a lei
Bastou dar um passo e crescer em frente
Perdi toda a graça quase de repente
Não fosse um sentido de humor apurado
Que me faz viver um sonho acordado
Não via tão claro o sentido da vida
E tudo seria bem mais complicado
Eu era feliz tinha os meus brinquedos
O anjo da guarda tirava-me os medos
Descobri o amor e vi nele o paraíso
Mas para ser expulso às vezes pouco é preciso
Podia ter tudo do bom e do caro
Que nada acudia ao meu desamparo
Sou a alma do mundo mais bem informada
Quanto mais me informo mais sei que sei nada
Não fosse um sentido de humor apurado
Que me faz viver a sonhar acordado
Não via tão claro o significado
Letra: Carlos Tê
Música: Hélder Gonçalves
in "Cintura", Clã
Sábado, 30 de Agosto de 2008
Para a Cris, com carinho.
Pode alguém ser quem não é?
- Senhora de preto
diga o que lhe dói
é dor ou saudade
que o peito lhe rói
o que tem, o que foi,
o que dói no peito?
- É que o meu homem partiu
- Disse-me na praia
frente ao paredão:
Tira a tua saia
dá-me a tua mão
o teu corpo, o teu mar
teu andar, teu passo
que vai sobre as ondas, vem!
Pode alguém ser quem não é?
Seja um bom agoiro
ou seja um bom presságio
sonhei com o choro
de alguém num naufrágio
não tenho confiança
já cansa este esperar
por uma carta em vão
por cá me governo
escreveu-me então
aqui é quase Inverno
aí quase Verão
mês d’Abril, águas mil
no Brasil também tem
noites de S. João e mar.
Pode alguém ser livre
se outro alguém não é
a corda dum outro
serve-me no pé
nos dois punhos, nas mãos
no pescoço, diz-me:
Pode alguém ser quem não é?
Sérgio Godinho